Voluntário vê desespero de pai no resgate de filho morto: "pior cena"
Com seus rostos molhados de chuva e pés atolados na lama, moradores de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, tentam ajudar o Corpo de Bombeiros no resgate dos desaparecidos após um deslizamento. Até agora, foram confirmadas cinco mortes na cidade em decorrência das chuvas de domingo (30) —no estado, ao menos 24 pessoas perderam suas vidas.
Dezenas de moradores de Franco da Rocha se voluntariaram para ajudar os 54 bombeiros —e 17 viaturas— que atuam nas buscas de ao menos 11 pessoas, segundo a Defesa Civil da cidade.
Com pouco equipamento de proteção —capacetes, botas, luvas e baldes—, os voluntários se equilibram no barranco tomado pela lama. A principal missão é retirar a terra molhada e os destroços em baldes, que são passados de mão em mão barranco abaixo até um canto da comunidade, onde são despejados.
Um dos voluntários, o pintor de carros Joselito Delmiro, 55, chegou para ajudar por volta das 8h de ontem —duas horas após o deslizamento.
"Ajudei no resgate de uma senhora de aproximadamente 45 anos", recorda. "A gente vai tirando o entulho. Quando ouve algum barulho ou voz, os bombeiros se aproximam e resgatam."
No mesmo dia, logo depois, seu Delmiro estaria prestes a viver "a pior cena" de sua vida, quando testemunhou o pai de uma criança de 11 anos assistir ao resgate do filho, já sem vida.
"A gente, os bombeiros, todo mundo tentou segurar o pai, que quase desmaiou", recorda-se. "Mas ele não parou até segurar o filho. Foi a pior cena da minha vida."
"O pai da criança estava trabalhando e a mãe não estava em casa", diz a advogada Cristiane Aparecida, 26, que mora no bairro desde que nasceu e também ajuda no resgate. "A avó e o tio [do menino] foram salvos com vida."
Embora a Defesa Civil estime em 11 o números de desaparecidos na cidade, Aparecida lembrou de nomes de ao menos 13 conhecidos que desde ontem não dão notícias, incluindo um colega da escola.
"Meu tio saiu pela janela quando a casa dele estava desabando", diz Aparecida. "Eu brincava aqui embaixo quando era criança, não dá pra acreditar. Minha ficha ainda não caiu, tenho até medo de quando isso acontecer."
Sem equipamento
Aparecida diz que nunca houve deslizamento naquele morro, cujas casas "eram bem estruturadas". Ela afirma ainda que ouviu da Prefeitura de Franco da Rocha que equipamentos de proteção seriam enviados aos voluntários.
"Falta tudo: capacetes, botas, luvas, máscaras", enumera, enquanto emprestava suas luvas a outro voluntário. "A gente está ajudando, mas arriscando nossa vida ao mesmo tempo."
Assim que disse isso à reportagem, um pequeno deslizamento no morro provocou uma correria. O temor era que todos ali acabassem soterrados também.
Em minutos, o medo se desfez. Era hora de escalar novamente o barranco, formar fila e reiniciar os trabalhos.
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