'Pior cenário', diz médico que atendeu menina vítima de tubarão em Noronha
Quando chegou a Fernando de Noronha (PE) no dia 26 de janeiro para curtir cinco dias de férias, o médico de Niterói (RJ) Leandro Crespo, de 54 anos, não imaginava que sua foto, dois dias depois, estamparia diversas manchetes pelo país. Ele aparece no veículo do socorro à menina de oito anos mordida por um tubarão na Praia do Sueste. Em entrevista ao UOL, lembra que encontrou a garota em choque e se deparou com o "pior cenário" para a situação e diz estar feliz com a recuperação da paciente — que, ontem, foi transferida do Recife para um hospital em São Paulo. Ela teve uma perna amputada.
Na ilha para comemorar o aniversário da esposa, ele estava acompanhado também de duas filhas e um genro, os três, estudantes de medicina. Mas, naquela manhã, eles não chegaram a conhecer a famosa baía do "mar de fora".
"A gente estava estacionando o carro quando começou a ouvir o pedido de socorro. Achamos que era um afogamento. Pouco depois, ouvimos falar em tubarão", recorda em entrevista ao UOL.
A garota estava estirada na areia após ter a perna arrancada pelo animal e, por sorte, pôde contar com os ao menos seis médicos que estavam de férias na praia no momento. Um deles se adiantou e conseguiu fazer rapidamente as primeiras manobras de estabilização.
A gente viu que era uma desarticulação, o tubarão levou o membro inferior dela, então é difícil você comprimir quando não tem um osso para fazer essa compressão. Ele já tinha feito essa primeira manobra e nós dois fomos ali. Conseguimos estancar inicialmente, a criança em choque. A gente não tinha essa mensuração do quanto [de sangue] ela tinha perdido, já que é o pior cenário que tem essas lesões altas, que a gente chama de proximal da artéria femural.
Leandro Crespo, médico
O profissional explica que, por ser criança, a vítima tinha uma artéria de menor calibre e mais elástica, o que exigiu que a contenção fosse feita inicialmente com as mãos e, então, com muita gaze e compressão, que precisou ser feita desde a remoção da praia até o transporte terrestre ao Hospital São Lucas. Há uma semana, ele guarda na cabeça o passo a passo para salvar a vida da criança.
"A gente ainda não tinha parâmetro de como ela estava, só fomos entender que ainda tínhamos condições de reverter esse processo [de choque] quando chegamos à sala vermelha do hospital", explica. O profissional conta que a agilidade das médicas e enfermeiros plantonistas foram essenciais para o salvamento da criança. Em seguida, uma UTI aérea resgatou a paciente para o Hospital Português, no Recife.
"Eu queria ir com essa criança, né? Porque a gente cria um elo muito grande naquele momento. No meu entendimento, se precisasse, eu estaria indo com a mãe, com a equipe, junto, pela preocupação dessa amputação e desse torniquete, mas disseram que uma equipe com experiência estava a caminho", lembra.
O elo com a família da menina se fez desde o encontro na praia e ganhou força nas cinco horas que passou ao lado da paciente. "Disse ao pai dela: você fez tudo e um pouco mais que você podia fazer para a sua família, e fez com maestria. Os seus dois filhos terão muito orgulho do que vocês fizeram para protegê-los", conta. Ele ainda acompanha a evolução do quadro da menina, que foi transferida ontem do Recife para São Paulo com quadro estável e ainda não tem previsão de alta. Por mensagens, é atualizado do estado de saúde da menina todos os dias. "Ganhei mais uma filha".
Relembre o caso
A menina de oito anos estava nadando com o pai na Praia do Sueste, pela manhã, quando foi mordida na perna por um tubarão na manhã da última sexta-feira (28). A suspeita de especialistas é que o animal tenha sido um tubarão-tigre.
A praia acabou fechada por tempo indeterminado para que análises e monitoramentos com drone fossem feitos na área. Até hoje, quase uma semana após o incidente, o local, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade segue sem previsão de reabertura.
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