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Jovem preso enquanto comprava pão diz que passou fome em presídio

Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, pediu justiça ao deixar presídio de Benfica, na tarde de ontem  - Reprodução/TV Globo
Yago Corrêa de Souza, de 21 anos, pediu justiça ao deixar presídio de Benfica, na tarde de ontem Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

09/02/2022 09h35Atualizada em 09/02/2022 20h19

Yago Corrêa de Souza, 21, preso no último domingo (6), na comunidade do Jacarezinho, Zona Norte do Rio de Janeiro, contou que passou fome durante seu tempo no presídio em Benfica, de onde saiu na tarde de ontem, pedindo justiça após ser preso por um suposto envolvimento com o tráfico de drogas.

O jovem havia saído para comprar pão para um churrasco quando foi abordado por policiais militares dentro de uma farmácia da região. Ele estava próximo ao estabelecimento quando moradores ouviram um tumulto na rua e correram para se esconder nos fundos do comércio.

Já com o saco de pão em mãos, ele foi detido por supostamente conhecer um adolescente que foi preso com drogas, versão negada pela família do rapaz, que trabalha entregando doces para a irmã e sonha em ser goleiro em uma equipe de futebol.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu, em audiência de custódia, pela liberdade provisória de Yago, mas o processo ainda continua e o jovem deve respeitar medidas cautelares.

"Foi horrível, eu passei fome, a comida estragada. Quero justiça", afirmou ele em uma fala à imprensa logo após deixar o presídio, enquanto se recuperava de um mal-estar.

"O próximo passo é provar a inocência do Yago, mostrar através de provas que ele não faz parte de organização criminosa, o que aconteceu, que todo mundo sabe, é o racismo estrutural, é o estereotipo do bandido brasileiro: é negro, jovem, mora na favela, polícia adentrou a favela em uma operação, todas as pessoas correram inclusive ele com um saco de pão na mão, a polícia entrou na farmácia observou alguns populares e conduziu ele pra delegacia e prendeu, ele nem sabe por que está sendo preso", declarou ao RJTV 2ª edição o advogado da família de Yago, Vivaldo Lúcio, que se ofereceu para uma defesa voluntária.

Caso gerou protestos

A ocorrência gerou protestos da família de Yago, que estava presente em frente ao presídio para comemorar a soltura. "É um alívio, estou muito feliz. Juntos [os moradores] conseguimos soltar meu irmão. Mas quantos como o Yago existem por aí? Ele é inocente, hoje a favela nasceu", disse Erica Corrêa, irmã do rapaz, em entrevista ao UOL.

Pela manhã, familiares e amigos realizaram um protesto na porta do presídio José Frederico Marques, em Benfica, para onde o jovem foi levado.

Durante o andamento do caso, familiares, amigos e o próprio Yago Corrêa destacaram que o rapaz não conhecia o adolescente que foi preso com drogas e todos confirmaram a versão de que o jovem iria comprar o pão para fazer pães de alho para um churrasco.

O juiz Antônio Luiz da Fonseca Lucchese destacou no texto não haver provas suficientes contra o entregador.

"Diante das circunstâncias em que teria se dado a prisão, sem perder de vista que aqui há evidente necessidade de que os fatos sejam mais apurados, sobretudo diante da dinâmica dos fatos, certamente faz com que se esvaia qualquer substrato para se cogitar, neste momento, de prisão cautelar, ainda mais diante da manifestação a posteriori da autoridade policial", dizia um trecho da decisão.

"Foram dias de angústia, de dor. Negro tem que estar onde ele quiser. Não existe isso de lugar errado na hora errada. Nós lutamos pelos nossos direitos e fomos ouvidos. Agora quero deitar minha cabeça no travesseiro em paz", exaltou Erica.

Yago Corrêa chegou a ter contra si um pedido de conversão de prisão em flagrante para a preventiva pela equipe de plantão. O delegado adjunto, no entanto, decidiu enviar um despacho à Justiça pedindo pela soltura dele, alegando "dúvida razoável", após avaliar o caso.

No início da semana, imagens de câmeras de segurança da padaria e da farmácia em que o rapaz esteve foram divulgadas. Elas mostram o morador de Jacarezinho chegando na padaria e comprando pães. Em uma outra câmera, de uma farmácia que fica próxima ao estabelecimento, o jovem aparece correndo para os fundos. Logo em seguida surge um policial que o rende. O entregador chega a levantar os braços segurando o saco de pão.

"O próximo passo é mostrar que ele não faz parte do tráfico. Até o dia 10 de março, ele virá para assinar e esperamos que haja a absolvição. O que aconteceu foi racismo estrutural", disse Vivaldo Lúcio da Silva, advogado que representa Yago Corrêa.