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Dono de marina confessa assassinato de irmãos após passeio de jet ski em SP

Um vídeo que circulou em grupos de WhatsApp registrou os irmãos Everton e Maycon passeando de jet ski no Rio Itanhaém, antes de serem mortos a tiros - Reprodução
Um vídeo que circulou em grupos de WhatsApp registrou os irmãos Everton e Maycon passeando de jet ski no Rio Itanhaém, antes de serem mortos a tiros Imagem: Reprodução

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

10/02/2022 21h35Atualizada em 11/02/2022 11h08

O proprietário da Marina do Félix, complexo de lazer em Itanhaém (SP), confessou em depoimento, segundo a polícia, ter assassinado os irmãos Everton e Maycon Oliveira Pereira de Andrade, de 27 e 28 anos. O crime ocorreu às margens do rio Itanhaém no último sábado (5), enquanto os irmãos encerravam um passeio de jet ski no estabelecimento. O homem foi ouvido e liberado pela polícia.

O suspeito se apresentou voluntariamente ao plantão policial, acompanhado de um advogado e, em depoimento, ao qual o UOL teve acesso, alegou que estava sendo perseguido e ameaçado pelos irmãos devido a uma dívida envolvendo a negociação de um imóvel — que ele lhes teria vendido e, posteriormente, apresentado problemas na documentação. O empresário é dono da marina, de uma chácara de eventos e também de construtora e incorporadora que atuam no litoral e interior de São Paulo.

No relatório final do inquérito policial, assinado pelo delegado Bruno Mateo Lazaro, o investigador conclui que "a autoria e materialidade se mostram delineadas, pois, além da própria confissão do indiciado, temos outros elementos de provas que consubstanciam o necessário indiciamento", considera.

"Devemos ter em mente, que o fato aqui apurado envolve a prática de conduta criminosa descrita no artigo 121 do Código Penal, ou seja, crime contra vida humana, de extrema gravidade por excelência", escreveu.

A Polícia Civil pediu a prisão preventiva do proprietário da marina, mas, como não havia mandado expedido contra o suspeito, ele prestou depoimento e, até o momento, responderá o processo em liberdade.

Testemunhas ouvidas durante o inquérito, acessado pelo UOL, já haviam confirmado que o empresário seria mesmo o responsável pela morte dos irmãos. Uma delas narra com detalhes como o crime ocorreu.

A testemunha afirmou que viu quando o suspeito discutia com os dois rapazes, que estavam no estabelecimento que frequentavam há cerca de 4 anos, para passear de jet ski. O empresário teria ficado no bar "ingerindo bebidas alcoólicas" até o retorno dos jovens do rio e voltou a discutir com eles, mas, desta vez, teria puxado uma arma de fogo, do tipo pistola, e efetuado quatro disparos contra eles.

Maycon, o mais velho, teria caído no chão na hora. Segundo a testemunha, Everton teria conseguido fugir em direção ao rio, nadando até um píer de atracação de barcos e sido abordado pelo suspeito ao tentar subir no deque, quando, então, foi baleado na testa. O corpo de Everton só foi encontrado no dia seguinte, no fundo do rio Itanhaém.

Outras testemunhas confirmaram que, após o crime, o empresário teria saído tranquilamente do local, em direção à sua residência, com a arma nas mãos, "à vista de todas as pessoas ali presentes". Cerca de dez minutos após o ocorrido, acompanhado de sua esposa, ele deixou a marina.

Os irmãos Everton e Maycon Oliveira Pereira de Andrade foram assassinados a tiros em uma marina no litoral de São Paulo - Reprodução - Reprodução
Os irmãos Everton e Maycon Oliveira Pereira de Andrade foram assassinados a tiros em uma marina no litoral de São Paulo
Imagem: Reprodução

Supostas ameaças teriam motivado crime

Segundo o empresário, em depoimento, ele estaria sendo perseguido e vítima de ameaças. Entre elas, a de que ele seria "julgado por um tribunal do crime, ligado a uma facção criminosa". O relatório final do inquérito aponta que a alegação "se harmoniza com áudios apresentados pelo seu defensor, em que é possível ouvir as ameaças sofridas", mas que o material ainda não foi transcrito e não é possível, até o momento, comprovar que teriam partido dos irmãos assassinados.

"Mas há, no conteúdo apresentado, ameaças contra a pessoa do autor, inclusive um deles se identifica como sendo 'disciplina da facção criminosa', o que torna o fato mais grave e ameaçador'', elucida o delegado no relatório.

O empresário teria dito ainda que havia sido agredido pelos rapazes antes dos disparos, fato que não é confirmado pelo relato das testemunhas. Ficou esclarecido também que as vítimas não portavam armas de fogo e que, portanto, não estariam na marina para promover uma emboscada ao proprietário da marina.

O delegado indiciou o empresário por homicídio com agravante de traição, emboscada, ou dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima. Se condenado, o suspeito pode responder a uma pena que vai de 12 a 30 anos de reclusão.

O UOL tentou localizar a defesa do proprietário da Marina do Felix para esclarecimentos, mas não obteve sucesso até o momento. O espaço segue aberto e será atualizado tão logo haja manifestação. O relatório final do inquérito será encaminhado ao Tribunal de Justiça de São Paulo.

Everton tinha passagem pela polícia

Os irmãos Everton e Maycon moravam em São Paulo e trabalhavam, segundo informações de uma testemunha, no setor do comércio. No dia em que foram assassinados, estavam de folga. Eles eram os mais velhos de quatro irmãos e eram casados. Maycon deixa esposa, que está grávida de 5 meses, e uma filha de 4 anos.

O mais novo dos irmãos, Everton, tinha passagem pela polícia. Ele já havia sido condenado duas vezes por posse ou porte ilegal de arma de fogo (Artigo 16, da lei 10.826), chegou a ser preso, mas foi colocado em liberdade provisória. Ele também já havia respondido a inquérito pelo crime de receptação (artigo 180 do Código Penal).

Veja o vídeo com últimos momentos dos irmãos e mais notícias no UOL News: