'Quero minha casa': últimas mensagens de passageiros de ônibus arrastados
Eram 15h55 de terça-feira (15) quando a estudante de fisioterapia Yasmin Eliseu Alves, de 20 anos, mandou um recado de desespero pelo WhatsApp para uma amiga enquanto um ônibus era arrastado em meio ao temporal. "Quero minha casa", escreveu Yasmin, que está entre as mais de 120 pessoas mortas na tragédia de Petrópolis, na Região Serrana do Rio.
Passageira da linha 465-Amazonas, que caiu no rio Washington Luiz, Nathalia Bessa, 25, chegou a enviar para uma amiga uma foto enquanto a água ainda subia. "Sobrevivente", escreveu. Um vídeo gravado por testemunhas registrou o momento em que passageiros tentavam escapar de dois ônibus ilhados. Confira aqui a história dos mortos na tragédia.
Yasmin dizia estar em um "ônibus cheio de água". Antes de morrer, Nathalia chegou a registrar até mesmo vídeos quando a água ainda não era forte o suficiente para arrastar o coletivo.
Mudança de rota e busca por filha
Antes da enxurrada, o aposentado Marco Aurélio da Costa Barcia, de 58 anos, tomou uma atitude que pegou a família de surpresa: decidiu deixar o carro na garagem no condomínio onde morava na Quitandinha para pegar um dos ônibus atingidos pelas fortes chuvas em direção ao centro de Petrópolis. Acabou morrendo ao ser levado pela correnteza.
Nos últimos meses, Marco Aurélio decidiu voltar para Petrópolis, cidade onde nasceu. Para cuidar da mãe idosa, após vender um imóvel em Angra dos Reis (RJ), passou a morar no mesmo condomínio onde ela vivia. Marco Aurélio deixou duas filhas.
A enfermeira Zhilmar Batista Ramos, de 54 anos, também estava em um dos ônibus arrastados pela correnteza. Ela tinha embarcado no coletivo justamente para ir atrás da filha de 15 anos em meio ao temporal. Luana Sanches, de 18 anos, também morreu dentro de um dos coletivos, segundo relato da família.
'Todo mundo acreditava que água ia baixar, mas não baixou'
Passageira da linha 465-Amazonas, a manicure Karine Matos Gomes, 37, conseguiu se salvar escapando pela janela. Ao lado do tio, contou com a ajuda de uma escada, apoiada no muro de um condomínio, para sair do veículo.
Ao UOL, disse ainda não ser capaz de dormir ao lembrar das pessoas que não conseguiram sair do veículo. Entre elas, um passageiro que usava perna mecânica.
A água batia com força na porta do ônibus e entrava. Um menino chegou a fazer força para segurar a porta e impedir a entrada da água. O ônibus começou a encher. Todo mundo acreditou que a água fosse baixar, mas não baixou"
Karina Matos Gomes, que estava em um dos ônibus
"Conforme o ônibus enchia, as pessoas ficavam cada vez mais apavoradas. Outro ônibus apareceu e veio arrastando o nosso. Nos ajudaram com uma escada. Ela foi apoiada na janela e no muro. Eu e meu tio pulamos pelo muro para dentro do condomínio. Muita gente não quis arriscar. Depois, a gente ouvia gritos de pessoas pedindo ajuda. Queria ter ajudado mais gente, mas não consegui", completou.
'Eu só queria salvar todo mundo', diz motorista
Os motoristas que dirigiam os dois ônibus arrastados pela enxurrada em Petrópolis (RJ) contam que tentaram unir esforços para salvar os passageiros enquanto os veículos eram invadidos pela água, resultado de uma chuva recorde na cidade fluminense.
Carlos Alberto Nascimento conduzia um ônibus da linha 401-Independência pela rua Washington Luís quando foi surpreendido por uma onda que o obrigou a estacionar.
Ele disse lamentar por não ter conseguido salvar um menino que estava dentro do coletivo. "Aquela criança era tudo o que eu queria ter segurado", contou Carlos Alberto ao Setranspetro (Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Petrópolis).
Carlos Antônio, que fazia o caminho da linha 465-Amazonas, disse que sua prioridade em meio ao alagamento era ajudar os passageiros que levava. "Eu só queria salvar todo mundo. Só isso", relatou.
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