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Temporal em Petrópolis supera mortos de 1988 e 2011 e se torna o mais letal

Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

19/02/2022 18h27Atualizada em 20/07/2022 20h24

O temporal desta terça-feira (15) em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, deixou a maior quantidade de vítimas da história do município, superando as tragédias de 1988 e 2011. Até a tarde de sábado (19) foram contabilizados 152 mortos, 191 desaparecidos e mais de 700 desabrigados.

Trata-se da pior tragédia provocada pelas chuvas fortes já registrado no município pela Defesa Civil, que realiza a medição desde 1932. Em apenas três horas, choveu mais do que o previsto para todo o mês de fevereiro.

As fortes chuvas deixaram um cenário devastador: houve deslizamentos, enxurradas, casas destruídas, veículos levados pela correnteza e moradores buscando por familiares nos escombros em meio à lama. Nesta tarde, as sirenes que alertam sobre forte risco de chuva voltaram a ser acionadas.

Em 2011, na maior catástrofe climática do país, segundo o CPTEC (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos), 73 pessoas morreram em Petrópolis. Cidades vizinhas, como Nova Friburgo, foram mais afetadas pelas chuvas, que deixaram 918 mortes em toda a região serrana.

Já em 1988, foram 134 mortos após outro temporal. A contagem era, até então, a pior já registrada pela prefeitura.

Desde 2017 a Prefeitura de Petrópolis sabia de 15 mil imóveis em risco, conforme mostrou reportagem do UOL. Mesmo com um relatório produzido há quatro anos, a administração reservou, no ano passado, mais recursos para gastar com luzes de Natal e publicidade do que com contenção de encostas.

Moradores fazem buscas por conta própria

Diversas famílias continuam procurando parentes, incluindo os desaparecidos em dois ônibus carregados por uma enxurrada.

O UOL ouviu outros relatos de buscas feitas por moradores sem auxílio dos bombeiros, como no caso dos familiares de um dos passageiros do ônibus, um rapaz de 17 anos. O pai do jovem foi içado dentro de um rio para procurar pelo filho.

Um documento interno do Corpo de Bombeiros da última quinta (17), obtido pelo UOL, aponta a falta de materiais básicos para a atuação dos agentes no resgate das vítimas.

Vulnerabilidade

O climatologista José Marengo, em entrevista ao UOL News, disse que o que provoca mortes é a falta de ação por parte do poder público.

"Não adianta você ter os melhores modelos, pessoas trabalhando com ameaça climática, se a outra parte, de reduzir a vulnerabilidade da população, não funciona", disse.

O prefeito Rubens Bomtempo (PSB), em seu quarto mandato, declarou à CNN Brasil ser "a maior tragédia história de Petrópolis".

Neste semana, o governador do Rio, Cláudio Castro (PL), disse que há um déficit histórico na prevenção de desastres no estado e que "não se resolvem 20, 30, 40 anos em um ano" durante entrevista coletiva em Petrópolis.

Por que choveu tanto?

Áreas montanhosas — como no caso da região serrana são mais propícias para a formação de nuvens de chuva forte. Além do relevo, há outros fatores que colaboraram para a precipitação desta semana, como o ar abafado e a chegada de uma frente fria junto de um corredor de umidade.

Especialistas consultados pelo UOL também observaram que não há ferramenta capaz de detectar um volume tão intenso de chuva num espaço tão curto de tempo. O que é possível fazer, explicam, é monitorar o deslocamento das nuvens.