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Guia 'antibabaca' dá dicas contra comportamentos machistas no trabalho

"Não ria de piadas machistas e, de preferência, não se cale também", diz guia para homens e mulheres que desejam combater sexismo no trabalho - Getty Images
"Não ria de piadas machistas e, de preferência, não se cale também", diz guia para homens e mulheres que desejam combater sexismo no trabalho Imagem: Getty Images

Colaboração para o UOL

10/03/2022 09h25

Você já se perguntou por que apenas 8% dos CEOs da Fortune 500 são mulheres e apenas duas delas são negras?

Como não ser babaca: livro ajuda homens a evitarem reproduzir atitudes machistas no século 21 - Divulgação/Sindilegis - Divulgação/Sindilegis
Como não ser babaca: livro ajuda homens a evitarem reproduzir atitudes machistas no século 21
Imagem: Divulgação/Sindilegis

O preconceito de gênero pode aparecer de maneiras diferentes no ambiente trabalho e no mundo dos negócios: desde comentários sexistas e atitudes excludentes até as microagressões —caracterizadas como ofensas que são ditas em tom de brincadeira, como se fossem apenas uma piada. Para mulheres em grupos minoritários, esses casos são exacerbados pelo racismo sistêmico e outros preconceitos que ainda ocorrem em muitos locais de trabalho —mesmo os considerados mais progressistas.

Não ria de piadas machistas. Você sempre pode dizer um simples "isso não tem graça". Pode mandar também um "não entendi, me explica?". Engraçado vai ser assistir ao cara tentando reverter a merda que disse, se enrolando todo para explicar que a ideia da piada dele é só machista pra cacete mesmo. O constrangimento pode ser bem didático. Bônus! Se você é do tipo que gosta de fazer graça, melhore seu repertório: cada vez mais humoristas (homens e mulheres) estão fazendo piadas para lembrar o que precisa ser mudado na sociedade.
Como não ser um babaca: guia prático para homens que cansaram de ser machistas no trabalho e na vida

A realidade é que, por mais que as cartilhas de recursos humanos incentivem a integração da equipe, ações tendenciosas e as crenças que as causam têm um enorme impacto não apenas no indivíduo, mas no mundo.

O psicólogo Linniker Matheus Soares de Moura aposta na comunicação assertiva: expressar os pensamentos e sentimentos sem prejudicar, ofender ou machucar os direitos e sentimentos do outro, agindo justamente de forma oposta a agressividade.

"Muitas vezes a gente está recebendo uma palavra dura, uma humilhação, uma crítica desnecessária e de uma forma totalmente desproporcional e o melhor é tentar ouvir, se acalmar e tentar não deixar a raiva passar pela frente da razão", argumenta.

Desigualdade persistente

No Brasil, mulheres recebem 78% do que os homens ganham. É o que mostra a Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).O levantamento foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) entre 2012 e 2020.

Os dados ajudam a comprovar o que trabalhadoras vivenciam todos os dias: quase metade das mulheres já sofreu assédio sexual no trabalho, segundo relatório do Think Eva, de 2020. Ao mesmo tempo, o salário de uma mulher cai 7% para cada filho que nasce, enquanto o dos homens sobe 10%, de acordo com a ONU Mulheres.

Na política, as mulheres ocupam apenas 15% das cadeiras na Câmara dos Deputados. Mesmo sendo a maioria da população e tendo níveis maiores de escolaridade, mulheres ainda são minoria no mercado de trabalho e têm rendimento inferior ao dos homens, de acordo com o Indicadores sociais das mulheres no Brasil, do IBGE.

Mas e os homens?

'Fácil porque é pobre': frase de deputado Arthur do Val sobre mulheres na Ucrânia foi case de publicação - Divulgação/Sindilegis - Divulgação/Sindilegis
'Fácil porque é pobre': frase de deputado Arthur do Val sobre mulheres na Ucrânia foi case de publicação
Imagem: Divulgação/Sindilegis

O que fazer para combater o sexismo no trabalho? Foi tentando buscar essa resposta que nasceu "Como não ser um babaca: guia prático para homens que cansaram de ser machistas no trabalho e na vida". A proposta do manual, lançado pelo Sindilegis (Sindicato dos Servidores do Legislativo Federal e do TCU), é não apenas responsabilizar, mas sobretudo conscientizar os homens sobre a reprodução de atitudes machistas, explica a diretora Elisa Bruna.

"O conteúdo do guia foi elaborado a partir de relatos de violências cometidas contra mulheres e da análise de situações violentas do cotidiano, ainda que não sejam socialmente percebidas como tal", explica.

"A obra é extremamente necessária no contexto atual, em que as mulheres continuam a ser vítimas de comportamentos e comentários machistas simplesmente pelo fato de serem mulheres", afirma Elisa.

A obra, cuja versão física tem pouco mais de 100 páginas, oferece dicas para que homens se policiem e comecem a abandonar atitudes reprováveis do ponto de vista da boa convivência no século 21, seja no Brasil ou no mundo. Leia algumas:

"Bom mesmo era antigamente..."

Essa frase só pode ser dita por quem foi beneficiado. O Código Civil de 1916 era recheado de absurdos, como "a mulher só tem direito à pensão dos filhos se for inocente e pobre".

"Ih! Tá de TPM..."

A tensão pré-menstrual é uma realidade e pode provocar alterações de humor, acontece que essa é só uma desculpa para diminuir e desvalorizar as emoções e reações das mulheres.

"Passe perfume para a reunião, hein!"

As mulheres são cobradas para estarem atraentes, como se o seu poder de argumentação valesse menos do que poder de sedução ou como se uma coisa tivesse a ver com a outra.

"Ela é mais macho que muito homem."

Mulher não precisa deixar de ser mulher para ser bem-sucedida. Caso você ainda não saiba, características como coragem, determinação e força não são exclusivamente masculinas.

"Incrível! Você mesma quem fez?"

Essa frase, apesar de enaltecer o trabalho da mulher, revela uma enorme descrença em seu potencial. É como dizer: "Está bom demais para ter vindo de uma mulher. Será possível?".

"Vai pegar mal não ter uma mulher no time."

Este não deveria ser o motivo para incluir mulheres na equipe. Que bom que a sociedade está problematizando a ausência feminina, mas é preciso entender a importância disso.

"Como não ser um babaca com as mulheres"
Idealização: Sindilegis
Autora: Marcela Studart/Flap
Ilustradora: Natália Carneiro
Colaboração: Cleide de Oliveira Lemos e Viviana Santiago (AzMina)