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Pedido de R$ 20 no iFood vira caso de polícia e cliente tem casa apedrejada

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

22/03/2022 11h47Atualizada em 22/03/2022 20h14

Uma moradora de Niterói, no Rio de Janeiro, teve a janela do apartamento apedrejada, após fazer uma reclamação de uma quentinha solicitada pelo iFood.

A engenheira civil de 27 anos, que pediu para não ter o nome divulgado por segurança, solicitou um prato em promoção no estabelecimento "Tempero com Amor" e, após receber a comida, fez uma reclamação no restaurante e no aplicativo sobre a qualidade e quantidade do produto oferecido. "A comida veio péssima", disse ela, no Twitter.

Em conversa com o UOL, a moradora explicou que, após o iFood cancelar o pagamento do prato, ela foi surpreendida com os donos do estabelecimento - um casal - tocando o interfone da casa dela e a ameaçando. Segundo a engenheira, ela realizou o pagamento pelo aplicativo, que seria também o responsável pela decisão de cancelar o repasse do valor.

"Eles estavam agressivos no interfone, falando que vieram cobrar pela comida que recebi e não paguei, me chamando de caloteira, me xingando. Pra mim, até então, a comida estava paga. Paguei online e o estorno do prato só vou receber daqui a dois meses".

Com medo, a engenheira civil acionou a Polícia Militar. No telefone, a corporação orientou a moradora a não responder aos insultos, desligar o interfone e fechar a janela. As recomendações foram acatadas. No entanto, a cliente acredita que as medidas irritaram mais ainda a dupla, que arremessou pedras na janela dela e da vizinha. Os dois vidros foram quebrados.

Um vídeo gravado na janela da casa da moradora mostra a dupla gritando na porta do prédio dela e atacando o imóvel.

O piso inferior do condomínio também foi danificado e a moradora está arcando com os prejuízos, que somam, até o momento, R$ 500.

"Quando a polícia chegou, eles já tinham ido embora. Conversei com a minha vizinha, ela tem criança em casa. Imagina se alguém tivesse sido atingido? Foi um crime o que eles fizeram. Me coagiram, me difamaram. Todo mundo aqui agora achando que sou caloteira. Não recebi dinheiro nenhum de volta", afirma ela.

O caso ocorreu na quarta-feira (16), por volta de 14 horas. O prato que motivou o ataque era uma quentinha de contrafilé com fritas, no valor de R$ 20.

A engenheira civil fez um boletim de ocorrência online e até o momento não foi chamada na delegacia de Icaraí para prestar depoimento. Ela disse ainda que não teve retorno do iFood sobre o caso e que o restaurante continua ativo no aplicativo.

Procurado pela reportagem, o iFood afirmou que lamenta o ocorrido e que repudia qualquer forma de agressão. "Em relação ao restaurante, o iFood buscou contato desde que tomou conhecimento do episódio, mas sem sucesso. Foi aberto um processo de investigação interno, ainda em andamento, para apurar o caso e o restaurante foi bloqueado", informou a empresa, em nota.

Dono dá sua versão

O dono do restaurante disse à TV Globo que foi até o endereço do cliente, pois não conseguiu contato com o telefone informado no cadastro. "A gente tentou ligar para ela sendo que o telefone não existia, só dava telefone inexistente e a gente foi lá cobrar".

Ele disse que no interfone explicou que havia ficado no prejuízo e que foi educado, mas que a cliente teria dito para ele resolver do jeito que ele quisesse.

"Pode ir na delegacia, resolve do jeito que você quiser. Aí desligou e não atendeu mais. Foi errado, isso aí foi um excesso, mas foi devido a isso tudo aí. Agora ela vir falar, postar que a gente chegou daquele jeito é mentira, porque eu cheguei, tem a minha mãozinha apertando o interfone", disse o dono do estabelecimento, que não se identificou na reportagem da emissora.

Medo de sair de casa

A engenheira civil disse que desde as ameaças está apavorada e não consegue mais sair de casa. Após o episódio, até ouvir o barulho do interfone se tornou um problema. A moradora reage com medo ao som do aparelho.

"Eu estou aterrorizada, fazendo terapia para tentar sair de casa, tenho medo do que pode acontecer. Até agora não sai de casa nem para trabalhar, quando meu interfone toca, já olho pela janela para ver quem é", contou ela.

A moradora disse que localizou mais três reclamações de clientes ameaçados após reclamarem da entrega do mesmo restaurante.