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Sem-teto diz que 'não fez nenhum mal' para ser espancado por personal

Gilvaldo Alves, 48, criticou exposição do caso feita por personal trainer - Reprodução/Youtube/Metrópoles
Gilvaldo Alves, 48, criticou exposição do caso feita por personal trainer Imagem: Reprodução/Youtube/Metrópoles

Do UOL, em São Paulo

24/03/2022 10h10Atualizada em 25/03/2022 08h12

O homem em situação de rua espancado por um personal trainer no DF, afirmou que "não fez nenhum mal" que justificasse ser espancado como foi, há duas semanas, em Planaltina. Gilvaldo Alves, 48, se recuperou das agressões do profissional de educação física Eduardo Alves, 31 — que o encontrou em um carro com a esposa dele —, mas disse que ainda sofre com o ocorrido.

"Ele expôs a vida dele e a vida dela. Eu acho que ele pensou tudo errado, eu não fiz nenhum mal para ser agredido, agora, as mentiras têm que se calar. (...) Um inocente não pode pagar, eu já estou sofrendo demais", defendeu Gilvaldo em entrevista ao site brasiliense Metrópoles e negou qualquer abuso.

O homem condenou a exposição do caso e disse que inicialmente negou os pedidos da mulher "para namorar", mas que acabou aceitando após ela convidá-lo a entrar no veículo. "Não posso me arrepender porque não posso voltar atrás, se eu pudesse eu não olharia para trás, para aquela voz doce e suave falando: 'moço, moço, moço'", declarou.

Givaldo contou que ia se encontrar com alguns amigos em uma praça da capital federal, quando se deparou com duas mulheres, uma delas com a Bíblia nas mãos. Após pedir para que elas orassem por ele, o homem seguiu caminho, até ser novamente interrompido.

"A moça veio até mim e disse: 'eu quero namorar com você'. Eu olhei pra ela disse: 'moça, eu sou morador de rua, só tô bem vestido'. 'Não, eu quero namorar com você'. Eu respondi: 'moça, eu não tenho dinheiro. 'Não quero dinheiro', ela disse, 'eu quero namorar com você'", descreveu sobre os momentos antes de entrar no carro de onde foi arrancado pelo personal trainer momentos depois.

Ele disse ainda que os dois conversaram e que ele chegou a mostrar uma foto da filha à mulher enquanto conversavam, que não houve tentativa de que a interação entre os dois fossem interrompida em qualquer momento e que não tinha ideia de quanto tempo passaram dentro do veículo.

"Do nada, uma mão deu um murro na janela da porta do motorista, o vidro estraçalhou, mas pela película não quebrou. Ela só deitou no outro banco, sem expressar reação. Recebi uma sessão de socos tão violenta, minha única alternativa foi sentar no banco e abrir a porta. A pessoa atravessou o carro, eu fiquei de pé e ele veio. Eu só vi mãos", descreveu.

Ele conta que nos primeiros momentos pensou que tivesse caído em uma armadilha, em uma possível vingança por ter ajudado uma outra mulher vítima de atropelamento, nos arredores de uma autoescola em Planaltina. Ao perceber que não, ele apenas se apressou em deixar o local e procurar ajuda médica.

"Eu estava mais preocupado era se o cara quisesse fazer algum mal pra gente, mas quando vi que ele era incapaz de fazer mal a ela, eu pedi minha roupa", justifica. "Eu nunca rolei no chão, eu saí pelado, de pé, eu fui agredido quando abri a porta e troquei socos, eu não considero agressão. Nós trocamos socos até que ele que parou, sem nenhuma palavra".

Eduardo Alves disse ter agido "em surto" ao ver a mulher no carro com Gilvaldo e que pensou eque ela estaria sofrendo um "abuso". O caso está sendo investigado como "legítima defesa de terceiros". Ninguém foi indiciado até o momento. A mulher segue internada para acompanhamento psicológico. Ainda não há definição da polícia se houve outro tipo de violência no episódio.

Homem foi para a rua após tentar vida em São Paulo

Na entrevista, o homem também deu detalhes sobre sua vida antes de chegar às ruas de Planaltina. Baiano, ele foi morar em São Paulo na adolescência, se casou e teve uma filha, com quem não mantém contato.

"Eu sou um morador de rua, mas não estou nessa situação obrigado. Tenho uma filha, vivi casado 'de novinho', sou o primeiro filho de 10 irmãos, sou baiano e cheguei em São Paulo, com 14, 15 anos. Conheci o que era trabalhar pesado, casei, tive uma filha aos 28 anos, e chegou um momento em que achei que estava atrapalhando a vida da minha mulher, uma pessoa maravilhosa, e decidi sair de casa, em Peruíbe", afirma.

Ele chegou a voltar à Bahia para morar com alguns familiares, mas sem se acostumar - e desempregado - decidiu continuar as mudanças de cidade em cidade, indo para Goiânia, onde morava uma irmã, e para Formosa de Goiás. Por fim, ele acabou em Brasília.