'Fiquei sem reação': entregador diz ter sido ameaçado por delegada armada
O entregador de aplicativo de 41 anos, que diz ter sido ameaçado por uma delegada armada ao levar encomenda a um prédio na área nobre de Goiânia na noite de sexta-feira (8), irá prestar depoimento sobre o caso hoje (11) na sede da Corregedoria da Polícia Civil de Goiás.
Em entrevista ao UOL, ele deu detalhes sobre o episódio, disse estar com medo e falou sobre a sua reação após, segundo ele, ficar na mira da delegada Gabriela Bigatão Adas, 33, que achou que a encomenda era para ela. "Fiquei sem reação". Em depoimento, a delegada alegou que foi ameaçada.
A confusão começou porque a cliente que havia encomendado um ovo de Páscoa e a delegada têm nomes parecidos, fazendo com que o entregador achasse que a entrega era para ela.
Após informar o código errado de identificação, exigência para garantir a segurança da entrega, o entregador verificou que a encomenda era para a servidora pública Gabrielle Perdigão, vizinha da delegada Gabriela Adas.
Aí, mostrei que não era para ela, era para a Gabrielle. Fui falar alguma coisa e ela pegou a arma. Fiquei sem reação. Só pedi desculpa pra evitar o pior, virei de costas e saí de perto."
Entregador de app que diz ter sido ameaçado por delegada armada
O entregador não quer ser identificado. O UOL fez ligações e enviou mensagens de texto ao celular da delegada para que ela apresentasse a sua versão dos fatos, mas não obteve resposta. A servidora pública Gabrielle Perdigão não foi localizada.
Segundo ele, a delegada se irritou, sacou a arma que estava na pochete e o ameaçou, dizendo: "fala alguma coisa que eu atiro e te prendo agora", contou o entregador, antecipando parte do relato que será dado em depoimento junto à Corregedoria da Polícia Civil.
Em seu relato, a delegada acusou o entregador de aplicativo de colocar o celular no seu rosto e de a ameaçar, dizendo que "pegaria uma faca". A ocorrência foi registrada pelo entregador de aplicativo como "ameaça".
A servidora pública Gabrielle Perdigão, destinatária da encomenda, chamou a polícia após receber a encomenda. "Quando bateu na minha porta, ele estava tremendo e chorando. Aí, ele pediu: 'pelo amor de Deus, desce comigo'. Falou que estava com medo de ela atirar nele e me contou o que tinha acontecido", disse, em entrevista à TV Globo.
Em nota, a Polícia Civil de Goiás informou ter aberto investigação junto à Corregedoria do órgão devido às "contradições" nas versões apresentadas pelos envolvidos. Questionada, a entidade informou que a delegada não foi afastada das suas funções.
Medo e revolta
O entregador de aplicativo diz estar sentindo medo e admite ter dificuldades para voltar a exercer as suas atividades profissionais.
"Não estou me sentindo bem, está sendo muito difícil para mim. Fico lembrando de tudo o que aconteceu. Nunca tinha passado por uma situação assim na minha vida", diz.
Segundo ele, o episódio sensibilizou os seus colegas de trabalho. "Os outros motoqueiros estão revoltados pelo que aconteceu comigo. Sou tranquilo com todo mundo. Aí aconteceu algo assim justamente comigo", relata o entregador, que trabalhava como instrutor de autoescola, mas mudou de ramo em meio à pandemia de covid-19.
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