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Perigo! Peixe-leão ameaça 29 peixes brasileiros e pode envenenar humanos

Muito perigoso, peixe-leão é uma espécie recém-descoberta no litoral brasileiro e fez um homem ter convulsões no Ceará - Thaiza Bucair
Muito perigoso, peixe-leão é uma espécie recém-descoberta no litoral brasileiro e fez um homem ter convulsões no Ceará Imagem: Thaiza Bucair

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL

28/04/2022 04h00

Espécie originária do Indo-Pacífico que se espalhou pelo Caribe no início dos anos 2000, o peixe-leão é um predador agressivo, que vive próximo a recifes de coral e ataca suas presas. Agora ele ameaça ao menos 29 espécies de peixes brasileiros.

Peçonhento, possui 18 espinhos venenosos, que injetam uma toxina neuromuscular. Isso causa bolhas, dor, febre e, raramente, convulsões em banhistas e pescadores.

Peixe está invadindo o litoral

Ele foi avistado pela primeira vez em Arraial do Cabo (RJ), no litoral brasileiro, em maio de 2014. À época, o animal de 25 cm foi capturado por pesquisadores da UFF (Universidade Federal Fluminense). Dez meses depois, em março de 2015, um segundo peixe-leão foi levado da mesma região para análises genéticas.

Em dezembro de 2020, ele surgiria nos mares de Fernando de Noronha (PE), onde, a partir de julho de 2021, passaria a ser avistado mensalmente —até 24 de fevereiro deste ano, foram 62 flagras e 38 coletas no arquipélago.

Em março, uma expedição capturou no litoral do Ceará e do Piauí, pela primeira vez, nove peixes-leão, a maior concentração do invasor no litoral brasileiro. Era a primeira vez que ele era visto no Nordeste e ainda por cima em água rasas.

Agora um pescador foi hospitalizado após ter contato com a espécie na Praia de Bitupitá, município de Barroquinha (a 396 km de Fortaleza).

Além de fortes dores na perna, Francisco Mauro da Costa Albuquerque, 24, sofreu convulsões e teve uma parada cardíaca enquanto recebia atendimento médico. Ele chegou a ter alta, mas voltou a passar mal e foi levado a um posto de saúde. Agora já está em casa e se recupera à base de analgésicos e anti-inflamatórios.

Primeiro acidente em águas rasas

Segundo o professor Marcelo Soares, do Labomar (Instituto de Ciências do Mar), da UFC (Universidade Federal do Ceará), trata-se do primeiro acidente envolvendo um peixe-leão registrado em ambiente raso no Brasil.

"Havia sido registrado alguns acidentes, mas em aquários, por pessoas que trabalham em aquários. Isso mostra que o animal está invadindo o ambiente", explica Soares. "É muito preocupante que esses registros sejam em ambientes rasos, porque pode significar que o peixe-leão já está espalhado."

Outros pescadores da região em que Francisco pisou no animal afirmam que, desde o início da semana, mais de 20 peixes-leão já foram retirados do mar.

Para Soares, o processo de invasão está sendo bastante rápido, o que afetará a biodiversidade local, a pesca artesanal, o turismo e se tornará um problema de saúde pública. Um estudo divulgado em junho do ano passado corrobora a suspeita de que a espécie invadiu o meio ambiente brasileiro.

Peixe-leão é monitorado desde março no Ceará - Reprodução/TV Verdes Mares - Reprodução/TV Verdes Mares
Peixe-leão é monitorado desde março no Ceará
Imagem: Reprodução/TV Verdes Mares

Ameaça global

A espécie mais famosa do peixe-leão é a Pterois volitans, a mesma que há anos já causa estragos nos Estados Unidos e no México.

Segundo os pesquisadores, é provável que esses animais tenham chegado ao Brasil vindos do Caribe —onde também é invasor—, trazidos por correntes marítimas. A possibilidade de introdução no mar por aquaristas, entretanto, não é descartada.

Uma hipótese para o surgimento deles no oceano está ligada a um resort no Caribe que tinha um grande sistema de aquário e foi afetado por algum furacão. Após o fenômeno, os animais acabaram sendo liberados para o mar.

O peixe-leão é considerado uma das espécies invasoras de maior risco global, capaz de causar grandes prejuízos ambientais e socioeconômicos.

"Por sobreviverem em diferentes habitats e alcançarem grandes profundidades, o manejo das populações invasoras é difícil. Mesmo com programas de capturas intensas em zonas rasas, o controle tem sido um desafio", afirma o professor Marcelo Soares.

O peixe-leão se reproduz em taxas elevadas, mesmo em águas mais profundas. Uma fêmea, por exemplo, consegue fecundar até 2 milhões de ovos em um ano. Uma vez que a espécie não conta com predadores naturais, ele também causa desequilíbrio à cadeia alimentar.

A espécie tende a viver até 15 anos, pode chegar a 48 cm e sobrevive a até 100 metros de profundidade, seja em águas frias ou quentes. Pesam em média 200 gramas e têm coloração em tons de marrom, bege, branco e vermelho alaranjado.

O peixe-leão se alimenta de invertebrados, como camarões.

O que fazer se achar um?

Caso alguém aviste ou tenha informações acerca do peixe-leão, a orientação é repassar os dados por meio do Simaf (Sistema Integrado de Manejo de Fauna) do Ibama ou entrar em contato com o Programa Cientista-Chefe da Sema (Secretaria do Meio Ambiente) do Ceará via email (cientistachefesema@gmail.com).

"Se você é um pescador, não devolva o peixe-leão para o mar. Busque os órgãos competentes e informe o acontecido, pois é preciso monitorar essa espécie. Também ressaltamos que o peixe-leão é venenoso e, por isso, não deve ser manipulado sem proteção. Indicamos para mais informações o guia elaborado pelo ICMBio", pede Soares.

Após serem capturados, os peixes são congelados e enviados para análises genéticas na UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), na UFF (Universidade Federal Fluminense) e nos Estados Unidos.