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Pará: União envia Força Nacional a área indígena onde corpos foram achados

PF diz que continuará a investigação para "identificar os autores do fato criminoso" - Divulgação/Polícia Federal
PF diz que continuará a investigação para "identificar os autores do fato criminoso" Imagem: Divulgação/Polícia Federal

Do UOL, em São Paulo*

03/05/2022 07h58Atualizada em 03/05/2022 09h06

O governo federal informa hoje, no Diário Oficial da União, que decidiu enviar a Força Nacional de Segurança Pública à reserva indígena de Parakanã, a cerca de 30 km da área urbana de Novo Repartimento, no leste do Pará, onde três mortos foram encontrados no último sábado (30), segundo a PF (Polícia Federal).

Desde 24 de março, três homens estão desaparecidos após invadirem a terra indígena para caçar. Ainda não se sabe se os corpos encontrados são deles.

Segundo a portaria publicada hoje pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, a Força Nacional vai atuar junto à Funai (Fundação Nacional do Índio) para "nas atividades e nos serviços imprescindíveis à preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio" por 15 dias na reserva indígena Parakanã. O texto é assinado pelo ministro Anderson Torres.

A pasta não informou a quantidade de agentes que serão disponibilizados, mas, de acordo com a portaria, esse número vai obedecer o planejamento definido pela Diretoria da Força Nacional de Segurança Pública, da Secretaria Nacional de Segurança Pública, do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Também haverá articulação com os órgãos de segurança pública do Pará, sob a coordenação da PF.

'Retaliação'

Moradores da região acusam indígenas pelo desaparecimento dos caçadores e falam em retaliação. Um grupo teria invadido uma escola indígena e agredido estudantes da aldeia, segundo informações do jornal O Estado de S. Paulo.

Os três homens, identificados como Cosmo Ribeiro de Sousa, José Luis da Silva Teixeira e Willian Santos Câmara, moradores de propriedades rurais da região, saíram para caçar no domingo (24) e não voltaram. Na segunda (25), familiares iniciaram as buscas e encontraram apenas as motos e objetos pessoais dos caçadores.

Parentes de um dos desaparecidos foram à aldeia cobrar os indígenas e alegaram ter sido mantidos em cárcere privado.

Indígenas ameaçados

Os indígenas — da etnia awaeté — passaram a receber ameaças diretas e por meio de redes sociais. Segundo o MPF (Ministério Público Federal) no Pará, moradores da região entraram armados na reserva para intimidá-los. A indígena Tarana Parakanã, estudante de Letras, contou ao Estadão que não indígenas invadiram a escola no Posto Taxakoakwera e agrediram estudantes.

Em nota, professores do Instituto Federal Rural do Pará, ao qual a escola é vinculada, cobraram uma ação enérgica das autoridades nas buscas pelos caçadores desaparecidos e denunciaram que os indígenas estão sendo alvo de preconceitos, já que não há nenhum indício de que tenham responsabilidade pelo desaparecimento dos três homens.

"O branco está invadindo as nossas terras e ameaçando o meu povo de morte", disse em vídeo o cacique da aldeia Parano'wa, Xeteria Parakanã.

A entrada de pessoas estranhas ao grupo é proibida em terras indígenas, segundo lei federal de 1973. A Parakanã tem 352 mil hectares e conta com 24 aldeias, onde vivem 1,4 mil indígenas. Como o contato com o homem branco é recente — feito há menos de 40 anos —, os awaetés não dominam bem a língua portuguesa.

* Com informações da Agência Estado