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Ianomâmis: Associação relata abuso por garimpeiros; PF acha parte do grupo

Onda de violência na região começou em 2017, segundo associação - Reprodução/Twitter
Onda de violência na região começou em 2017, segundo associação Imagem: Reprodução/Twitter

Do UOL, em São Paulo

06/05/2022 15h00Atualizada em 06/05/2022 16h27

A HAY (Hutukara Associação Yanomami), principal organização dos Ianomâmis, divulgou um comunicado alegando que casos de abuso e violência por garimpeiros contra a comunidade Aracaçá, em Roraima, vem ocorrendo desde 2017. A denúncia recente de uma menina de 12 anos morta após ter sido estuprada levantou uma série de casos sobre a mineração ilegal na Terra Indígena Ianomâmi, além de gerar questionamentos sobre o sumiço de indivíduos da aldeia.

De acordo com a HAY, os relatos recolhidos mostram a realidade em que os indígenas viviam no território com "reiterados depoimentos de violência sexual em série". "As informações obtidas até o momento confirmam o cenário desolador vivido pela comunidade a partir das relações impostas pelo garimpo, com reiterados depoimentos de violência sexual em série", diz parte do comunicado.

Dados oficiais foram cruzados com os "episódios narrados", segundo a associação. "Os relatos orais registrados foram cruzados com dados oficiais do distrito saúde (censos populacionais de 2017 e 2022, bem como registro de óbitos), de modo que foi possível identificar a cronologia dos episódios narrados".

A HAY alega que o histórico de tragédias na comunidade teve início com a morte de um homem identificado como C. Sanumá, em 2017. "Na lista de óbitos do Polo de Waikás (polo que presta assistência a Aracaçá) há um registro de morte por agressão por disparo de arma de fogo em 2017, estando a vítima na faixa etária de 40 a 59 anos".

O homem teria sido morto em uma briga "fomentada pela distribuição de cachaça por garimpeiros aos indígenas". Segundo a investigação, ele teria duas esposas e uma delas morta por envenenamento, enquanto a outra, como também uma de suas filhas, teriam sido obrigadas a se prostituírem. A jovem "era explorada sexualmente por garimpeiros, por vezes sendo obrigada a manter relações sexuais com mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Ela perdeu, nesse período, um bebê, que morreu por traumatismo intercraniano".

"A sequência de tragédias que marca a família de C. demonstra que na aldeia de Aracaçá há casos generalizados de abusos e violência. As denúncias sobre Aracaçá só podem ser compreendidas dentro desse cenário, no qual metade das aldeias da Terra Indígena Ianomâmi está sujeira ao assédio dos invasores".

A associação defende uma apuração ampla das violências e do garimpo ilegal. Eles reforçaram que "na tradição cultural Ianomâmi, o corpo e os pertences dos mortos são todos incinerados, de modo que é bastante provável que, ocorrido o assassinato, os restos mortais da vítima sejam impossíveis de se localizar". Isso poderia explicar o sumiço da aldeia.

Ianomâmis encontrados

Em depoimento dado ontem à Polícia Federal, o líder indígena Júnior Hekurari afirmou que alguns dos ianomâmis dados como desaparecidos após confronto com os garimpeiros, foram encontrados. A denúncia do desaparecimento foi feita pelo Condisi-YY (Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanonami e Ye´kwana), presidida por Hekurari, e gerou uma movimentação nas redes sociais, puxada pela pergunta: "cadê os Yanomamis?".

Segundo a Folha de S.Paulo, Júnior disse à PF que os indígenas se mudaram para outros locais, parte deles residindo em uma comunidade chamada Palimiú.

O Ministério Público Federal assinou uma nota em conjunto com a Funai (Fundação Nacional do Índio) e pela Secretaria Especial de Saúde Indígena dizendo que não há indícios de crime no território, após a ida da PF ao local. Mas as investigações ainda estão em curso.

A Polícia Federal

Em coletiva realizada hoje, em Roraima, a Polícia Federal alegou que a denúncia "não condiz com os fatos concretos e reais", mas que continuará com as investigações.

Quanto ao desaparecimento dos indígenas que residiam na tribo, a PF diz que, pelo menos, nove ianomâmis moram no local, e seis deles foram contatados presencialmente no primeiro dia da investigação no território. Outros três, uma mulher e dois netos, estão em Boa Vista para tratamento de saúde da mulher.

E, segundo eles, todos os indígenas da comunidade Aracaçá foram entrevistados no primeiro dia da ação policial, ocasião em que a PF desmontou uma infraestrutura de suporte ao garimpo ilegal na região, com a queima de mais de 17 mil litros de combustível, barracos e outros bens. No segundo dia, a aldeia estava na mesma condição em que foi vista no sobrevoo do dia anterior.