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Perito morto sofreu emboscada, diz amigo; militares da Marinha estão presos

Renato Couto, perito da Polícia Civil, foi assassinado após investigar ferro velho - Reprodução/Redes Sociais
Renato Couto, perito da Polícia Civil, foi assassinado após investigar ferro velho Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

16/05/2022 09h25Atualizada em 16/05/2022 14h01

Um amigo do perito da Polícia Civil Renato Couto, 41, que teria sido morto por três militares da Marinha na sexta-feira (13), na zona norte do Rio de Janeiro, acredita que o perito foi vítima de uma emboscada e teve a morte planejada, após procurar um ferro-velho na região da Praça da Bandeira, em busca de materiais que haviam sido furtados de uma obra que realizava.

O dono de um ferro-velho e os militares foram presos, e a polícia afirma que eles confessaram o assassinato e foram reconhecidos por testemunhas. De acordo com a família de Renato, um corpo encontrado hoje no rio Guandu, na Baixada Fluminense, é o do perito.

O desentendimento começou após Renato identificar que alguns materiais da sua obra teriam sido furtados e vendidos a um ferro-velho, na região da Praça da Bandeira, na zona norte do Rio. No local, ele discutiu com o dono do espaço, identificado como Lourival Ferreira Lima. O homem teria acordado com o perito que ele voltasse em outro momento para ser ressarcido. No entanto, na sexta-feira, por volta de 15h, ele foi surpreendido pelo filho de Lourival, Bruno Santos Lima, e outros dois companheiros dele - Manoel Vitor Silva e Darios Fideles Mota - os três militares da ativa da Marinha.

Um amigo do policial, que pediu para não ter seu nome publicado, contou que a vítima foi orientada a retornar na sexta-feira (13) para acertar o ressarcimento pelo material e acabou agredido, baleado e sequestrado.

Ele foi até lá, chegou a discutir com o dono do ferro-velho e eles chegaram a um acordo. Ficou acertado que o Renato voltaria depois, mas quando ele chegou lá, como combinado, sofreu uma emboscada. Parece que foi algo premeditado.

Segundo a Polícia Civil, o crime ocorreu por volta de 15h e foi presenciado por testemunhas. O policial sofreu um mata-leão e foi baleado ao menos duas vezes. Um carro da Marinha foi usado para transportar o corpo do policial até o Rio Guandu, altura de Japeri, onde foi jogado.

O dono do ferro-velho, Lourival Ferreira Lima, o filho dele, Bruno Santos Lima, supervisor do Setor de Transportes do 1º Distrito Naval, e os outros militares da Marinha, Manoel Vitor Silva e Darios Fideles Motta, foram presos suspeitos de cometerem o crime.

Ao UOL, o diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital, delegado Antenor Lopes, afirmou que os envolvidos confessaram o crime e foram reconhecidos por testemunhas que presenciaram o fato. Segundo ele, os militares ainda lavaram duas vezes o carro - na tentativa de eliminar os resquícios de sangue.

"Trata-se de um crime bárbaro, chocante. A gente lamenta que militares das Forças Armadas tenham se envolvido nisso. Eles tentaram ainda lavar o carro após a desova do corpo. Lavaram duas vezes: uma em um lava jato perto do local, em Austin, Nova Iguaçu [Baixada Fluminense], e outra na garagem do próprio distrito naval, onde os três serviam. Chegaram a usar cloro", informou o delegado.

Os quatro foram presos por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.

Corpo encontrado

Um corpo localizado na manhã de hoje, no rio Guandu, na altura de Japeri, na Baixada Fluminense, é de Renato Couto, segundo a família do policial, que acompanha o trabalho do Corpo de Bombeiros e da Polícia Militar na região.

O corpo foi localizado preso em uma das margens do rio, preso à vegetação. Foram três dias de buscas pelo policial civil.

A Marinha

Procurada, a Marinha informou em nota que "tomou conhecimento, na noite de sábado (14), sobre uma ocorrência com vítima, envolvendo militares da ativa do Comando do 1º Distrito Naval, objeto de inquérito policial no âmbito da Justiça comum. Os militares envolvidos foram presos em flagrante pela polícia e responderão pelos seus atos perante a Justiça".

A Marinha lamentou ainda o ocorrido e afirmou que se solidariza com os familiares da vítima. A instituição disse "que reitera seu firme repúdio a condutas e atos ilegais que atentem contra a vida, a honra e os princípios militares. A MB reforça, ainda, que não tolera tal comportamento".

A instituição informou também que está colaborando com os órgãos responsáveis pela investigação e que abriu um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias da ocorrência. O UOL tenta localizar a defesa dos acusados. O texto será atualizado em caso de retorno.

Policial deixa duas filhas

Renato Couto, 41, se apresentava nas redes sociais como perito papiloscopista, pós-graduado em Direito Constitucional, Penal e Processual e founder da "Ticketpet" uma plataforma digital de pesquisa, reserva e pagamento de diárias e serviços em pet hotéis.

O perito era casado e tinha duas filhas de cinco e oito anos. A última foto postada no Instagram era da família. "E Deus me confiou a missão de amá-las", escreveu ele.

A prima do policial, Liriel Heimlich, descreveu o policial como uma pessoa trabalhadora e do bem. "O Renato era um cara muito família, uma referência para todos. Muito estudioso. Desde novo lutou pela carreira que tinha. As filhas são muito agarradas a ele. Era uma pessoa brincalhona".

A parente contou ainda que todos estão inconsoláveis com a morte do policial. "Estão todos desolados com o que aconteceu".