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PF ainda apura relação de suspeito preso pela PM com desaparecimento no AM

Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

08/06/2022 20h20

A Polícia Federal do Amazonas informou hoje (8) que ainda não encontrou relação entre o suspeito preso ontem pela Polícia Militar e o desaparecimento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, vistos pela última vez na manhã do domingo (5) no Vale do Javari (AM).

Em entrevista coletiva concedida nesta quarta-feira em Manaus, as principais forças de segurança envolvidas nas buscas pela dupla afirmaram que o suspeito foi detido por portar armamentos de uso das Forças Armadas.

"Com o reforço do policiamento na cidade, intensificamos as abordagens. Numa delas encontramos uma pessoa com munição de 762 [um tipo de fuzil], chumbinho, espingarda de armamento de caça e uma porção de droga. A 762 é uma munição de uso restrito das Forças Armadas, e por isso a pessoa foi presa em flagrante", explicou Eduardo Alexandre Fontes, Superintendente da PF-AM.

Segundo informações da Polícia Militar, testemunhas apontaram que Amarildo da Costa de Oliveira, 41, conhecido como "Pelado", navegava logo atrás do barco que transportava Pereira e Phillips. A dupla desapareceu durante o trajeto entre a comunidade ribeirinha São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte.

Secretário de Segurança do Amazonas, o general Carlos Alberto Mansur ressaltou que Pelado foi detido pelo porte de uma munição que não é de uso civil.

"As testemunhas, pessoas que estavam na comunidade de São Rafael, relataram que viram a lancha [de Amarildo] passar. Mas o suspeito foi preso por causa do material que ele estava utilizando. Não é comum uma pessoa estar com munição 762, então estamos investigando. Ele está sob custódia da segurança pública e estamos fazendo as oitivas para ver se existe ligação dele com o que aconteceu, mas por enquanto não temos nada."

Mansur acrescentou que um perito avalia um material que foi apreendido pela polícia e é investigado por suspeita de relação com o caso. No entanto, ele não divulgou nem o que foi apreendido e nem o porquê da suspeita.

"Temos material apreendido com suspeita de relação com o fato, mas é apenas suspeita", disse.

Polícia diz ainda não ter suspeitos de ameaças ao indigenista

Questionado sobre ameaças a Pereira, relatadas tanto pela companheira dele como por organismos de proteção ambiental, Fontes disse que o documento ao qual teve acesso sobre as ameaças não aponta suspeitos. Ele acrescentou que, nestes casos, a vítima é quem deve procurar a polícia.

"No caso de crimes de ameaça, precisamos da manifestação da vítima apontando que o suspeito seja investigado, ou então não podemos agir."

Servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio), Bruno exerceu o cargo de coordenador do órgão por mais de uma década em Atalaia do Norte. A Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), primeira organização a denunciar o desaparecimento, disse que Pereira vinha sendo ameaçado há anos e que já havia convocado órgãos de segurança para apresentar as denúncias, mas que ninguém compareceu a uma reunião marcada.

Fontes disse que só soube desta reunião por meio da imprensa. "Não fomos informados disso. Se ele [Yura Marubo, assessor jurídico da Univaja que mencionou as denúncias] quer passar informações de suspeitos ele deve passar na delegacia de Tabatinga para informar sobre esses suspeitos."

O jornal O Globo publicou uma carta na qual pescadores prometem "acertar contas" com Pereira. Em outra reportagem, o jornal aponta que Pelado teria ironizado o fato de Bruno Pereira andar armado pelo Vale do Javari, onde prestava consultoria voluntária aos indígenas.

Segundo relatos de testemunhas à polícia, Pelado teria dito "quero ver se ele atira bem". Por ser alvo de ameaças de morte de garimpeiros, pescadores e madeireiros pelo seu trabalho de proteção às comunidades indígenas na Amazônia, Bruno Pereira tem porte de arma.

Buscas

Um Comitê de Gerenciamento de crise, sediado em Manaus, foi estabelecido para que as forças de segurança possam trocar informações e atuar conjuntamente. As reuniões ocorrem todos os dias às 15h — a partir de 16h, as novas informações serão divulgadas à imprensa.

A PF afirmou ter disponibilizado duas aeronaves, três drones, 16 embarcações e 20 viaturas para auxiliar nas buscas por Phillips e Pereira.

O CMA (Comando Militar da Amazônia) afirmou empregar nas buscas um helicóptero HM-4 Jaguar, com capacidade para transportar de 18 a 20 passageiros e que ontem (7) fez o transporte de cinco agentes da PF, e agentes especialistas em combate na selva.

Mansur afirmou que as investigações não podem descartar possibilidades e que ainda há esperança de encontrar Phillips e Pereira vivos. "Muito pode ter acontecido, porque é uma área bastante complexa e de selva."

No pronunciamento concedido ontem, Yura Marubo, da Univaja, disse que Bruno Pereira é exímio conhecedor da área. Ele também criticou que a dupla navegava em um barco impróprio para a região.

"Não podemos descartar alguma outra hipótese. Mas desconhecimento de área por alguma fatalidade, errou o caminho, coisa do tipo que sempre acontece, isso está descartado, porque o Bruno era um exímio conhecedor tanto da caminhada em mata quanto em caminhadas de barcos", afirmou.

Além de Pelado, detido ontem, outras cinco pessoas foram ouvidas, como testemunhas, pela polícia.