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Polícia apura se vereador do PT usou dinheiro de esquema com PCC em eleição

Senival Moura foi alvo de uma operação hoje que investiga o envolvimento do PCC (Primeiro Comando da Capital) com a direção da Transunião - Reprodução/Facebook/Vereador Senival Moura
Senival Moura foi alvo de uma operação hoje que investiga o envolvimento do PCC (Primeiro Comando da Capital) com a direção da Transunião Imagem: Reprodução/Facebook/Vereador Senival Moura

Leonardo Martins

Do UOL, em São Paulo

09/06/2022 17h52Atualizada em 10/06/2022 12h07

A Polícia Civil de São Paulo afirma investigar se o vereador Senival Moura (PT) usou dinheiro de um esquema que envolve o PCC (Primeiro Comando da Capital), maior facção criminosa do país, em sua campanha eleitoral para vereador na capital paulista em 2020.

Senival Moura foi alvo de uma operação hoje. O objetivo é apurar envolvimento do PCC (Primeiro Comando da Capital) com a direção da Transunião, empresa de transporte coletivo do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo, conforme noticiou o colunista do UOL Josmar Jozino. A polícia chegou a pedir a prisão dele, mas a Justiça negou. Ao UOL, mais cedo, o parlamentar afirmou que se considera vítima e está à disposição do judiciário (leia mais abaixo).

A Transunião tem contrato de R$ 100 milhões anuais com a Prefeitura de São Paulo. Foram apreendidos 18 ônibus da viação. O delegado-geral da Policia Civil, Nico Gonçalves, disse que vai entregar um relatório sobre as investigações, amanhã (10), ao prefeito Ricardo Nunes (MDB) e ao MPSP (Ministério Público de São Paulo).

A investigação que envolve Moura teve início após o assassinato de Adauto Soares Jorge, 52, ex-presidente da Transunião. Segundo a polícia, Jorge era "testa de ferro" e amigo do vereador, e foi morto a tiros em 4 de março de 2020, em um estacionamento na zona leste.

De acordo com o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), a Transunião era utilizada para a lavagem de dinheiro do PCC, mas Jorge não estaria realizando o repasse de valores. Por esse motivo, ainda conforme as investigações, ele teria sido desligado da companhia e jurado de morte.

Em coletiva de imprensa na tarde de hoje, a Polícia Civil afirmou que coletou documentos nas buscas e apreensões que mostraram repasses de dinheiro ao vereador em 2020, ano eleitoral, frutos de operações de 13 ônibus que pertenceriam a Moura.

Diz a polícia que, em seu escritório político, foram encontrados documentos, ainda sob análise, que apontariam o vínculo do vereador com os veículos da Transunião.

"Até o mês de fevereiro de 2020, ele recebia um repasse financeiro desses 13 ônibus. A partir de março de 2020, ele parou de receber", afirmou o delegado Fábio Pinheiro Lopes, diretor do Deic.

Segundo o delegado-assistente Anderson Honorato ao UOL, é esse dinheiro recebido ao longo de 2020 que será rastreado para saber se o vereador utilizou os recursos em sua campanha eleitoral.

Um diretor e um ex-gerente de manutenção da empresa foram presos. Há suspeita de crimes como homicídio, lavagem de dinheiro e organização criminosa, segundo a Polícia Civil.

Os investigadores afirmam que o autor dos disparos foi Jair Ramos de Freitas, 51, conhecido como Jair Cachorrão, que foi preso hoje. O outro detido é Devanil Soares Nascimento, 46, ex-gerente de manutenção da Transunião. Ambos tiveram prisão temporária decretada pela Justiça.

Na operação, foram cumpridos oito mandados de busca e apreensão na capital paulista e em Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, inclusive na casa e no escritório do vereador petista. Dezoito veículos da viação foram apreendidos.

Vereador se considera 'vítima'

No início da tarde, o vereador Senival Moura disse ao UOL que soube da operação policial pela manhã. Ele afirmou que se considera vítima e que está à disposição da Justiça. Acrescentou também que fará um comunicado à imprensa assim que seus advogados tiverem informações sobre a ação do Deic.

No fim da tarde, a reportagem voltou a procurar o parlamentar, mas não obteve retorno. O PT também não respondeu.

Anderson Minichillo, advogado de Jair Cachorrão, afirmou que seu cliente nega a participação no assassinato de Adauto. Segundo o defensor, Jair não foi reconhecido por nenhuma testemunha do crime.

A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Devanil, mas publicará a versão deles na íntegra assim que houver manifestação. A reportagem também não teve retorno da Transunião.

Já a Prefeitura de São Paulo comunicou que ainda não foi informada formalmente sobre as investigações na Transunião, que está à disposição das autoridades, vai acompanhar o caso e colaborar com a polícia em tudo que for solicitada.

Em nota enviada no final da manhã desta sexta-feira (10), o diretório municipal do PT afirmou confiar na versão apresentada por Senival Moura e que "irá acompanhar o desenvolvimento das investigações encaminhadas pela Polícia Civil Paulista".

"Confiamos na Justiça e esperamos celeridade e isenção, para que nenhum inocente seja considerado culpado antecipadamente e seja garantido o direito de ampla defesa e contraditório", escreveu o partido.