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Ex-presidente da Funai diz acreditar que Dom e Bruno sofreram emboscada

Indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desaparecem no Vale do Javari, no Amazonas - Reprodução/ TV Globo
Indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips desaparecem no Vale do Javari, no Amazonas Imagem: Reprodução/ TV Globo

Colaboração para o UOL, em Brasília

13/06/2022 23h01

O ex-presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio) Sydney Possuelo afirmou hoje que acredita que o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram vítimas de uma emboscada. Eles estão desaparecidos desde domingo (5), quando se deslocavam de barco pelo rio Itaquaí após visita à Terra Indígena do Vale do Javari (Amazonas), território que tem sido alvo de invasão por caçadores, pescadores e madeireiros ilegais.

"Eu acredito que eles foram vítimas de uma emboscada. Os mandantes e executores é o problema a ser levantado por essas forças que atuam na região. Parece-me que essas forças fizeram um corpo mole inicial e, depois, na medida que a questão tomou uma forma nacional e internacional, aí, então, o Estado entrou com um pouco mais de vigor", disse Possuelo em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

A Polícia Federal, a Funai, o Ministério Público Federal, as Forças Armadas e o governo do Amazonas estão envolvidos nas buscas. "Estamos todos aguardando as informações que vêm um pouco contraditórias —que se achou ou não achou [os corpos de Dom e Bruno]. Tudo isso deve ser esclarecido rapidamente em alguns dias, tendo vista o trabalho que está sendo desenvolvido por todos", afirmou o ex-dirigente da Funai.

Onde o indigenista e o jornalista desapareceram - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Hoje cedo, a família do jornalista Dom Phillips disse que foi informada sobre dois corpos que foram encontrados no Vale do Javari (AM). Em nota, a Polícia Federal afirmou que "não procedem as informações que estão sendo divulgadas a respeito de terem sido encontrados os corpos de Bruno Pereira e Dom Phillips". Ainda de acordo com o texto da PF, "foram encontrados materiais biológicos que estão sendo periciados e os pertences pessoais dos desparecidos."

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse hoje que indícios levam a crer que será difícil encontrar o jornalista e o indigenista com vida. "Estou acompanhando [as buscas dos corpos]. Agora, os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles. Foram encontradas vísceras humanas, que já estão aqui em Brasília para se fazer o DNA", disse, em entrevista à rádio CBN.

'Quem apoia indígenas sempre foi ameaçado'

Questionado sobre sua reação ao saber sobre o sumiço de Dom e Bruno, Sydney Possuelo disse que foi pego de surpresa. "Todos ficaram chocados. Mas previa-se, já naquele momento, que ele foi vítima de alguma coisa. No trecho que ele fazia, ninguém desaparece do nada", disse, referindo-se a Bruno Araújo, que é servidor licenciado da Funai.

O ex-presidente da entidade destacou que acredita que Dom Phillips não tenha sido o alvo principal do que ele diz ter sido uma emboscada. "Bruno está claramente escrito na carta que ele recebeu... Penso, de verdade, que todos os funcionários da Funai que se dedicam no Vale do Javari estão sujeitos a esses acontecimento dramáticos. Todos estão ameaçados. Porque é uma área confusa, e quem ali demonstra atividade a favor dos povos indígenas sempre foi ameaçado. Não é de agora."

Críticas à Funai e a Bolsonaro

O ex-presidente da Funai disse que o a eficiência dos órgão de Estado se perdeu na medida em que a chefia dos órgão foram trocadas, e citou mudanças na PF. "Não é só o presidente da Funai. É uma linha que começa aqui (Brasília) até a área conflagrada. Hoje em dia está quase tudo na mão do bandido. Os órgãos foram enfraquecidos, a Funai hoje se posta claramente contrária aos interesses indígenas", disse.

Sydney também criticou o governo do presidente Bolsonaro. "Dois grandes acontecimentos tiveram início na época bolsonarista. O primeiro é contra o meio ambiente, abertura da porteira para passar a boiada. O segundo, é o movimento é quando começa a caça a povos indígenas, quando não se tem mais medo de passar com barcos em velocidade atirando contra indígenas. Esses homens sempre invadiram na região [Vale do Javari]... Caça, pesca, madeira ilegal, isso teve beneplácito das autoridades. Estão mais afoitos porque se sentem mais protegidos, estão protegidos pela Presidência da República", disse Sydney.