Fotógrafa tira apêndice e descobre 270 pedras na vesícula: 'Vivia com dor'
Uma fotógrafa de São Paulo descobriu ter mais de 270 pedras na vesícula após passar por uma cirurgia emergencial para a retirada do apêndice, que estava inflamado. Casos mais habituais apresentam entre um e dois cálculos no órgão, mas ela, que vivia "à base de analgésicos" há alguns anos, achando ter dores nas costas, foi surpreendida ao acordar da operação.
Ludmila Teixeira Lourenço, 31, mais conhecida como Lud Lower em seus trabalhos com fotos, contou ao UOL vinha sentindo fortes dores abdominais na volta de uma viagem de trabalho. Em uma ida ao hospital, a fotógrafa foi diagnosticada com apendicite. Após se submeter a uma videolaparoscopia para a retirada do órgão, ela acabou tendo sua vesícula removida também, sem saber. Nela foram achadas as mais de duas centenas de pedrinhas.
Quando acordei da cirurgia, um enfermeiro falou: 'Olha isso aqui que estava dentro de você'. E me entregou um saco com as pedras. Ele mostrou as pedras para os colegas e a maioria nunca tinha visto uma quantidade tão grande.
O médico Paulo Tosi, do Hospital Vitória Anália Franco, fez a cirurgia e diz que o caso de Ludmila é "fora da curva".
"O órgão estava com tamanho aumentado, com cerca de 25 centímetros de comprimento, e continha mais de 270 cálculos", afirmou Tosi.
"Em 28 anos de profissão, eu vi dois ou três pacientes com a vesícula repleta de cálculos. Normalmente são um ou dois cálculos, no máximo dez", afirmou Tosi, que é cirurgião do aparelho digestivo desde 1989 e especializado em videolaparoscopia desde 1994.
Ludmila conta que há cerca de três anos sofria com dores nas costas que irradiavam para o abdômen. Em dezembro de 2020, um exame acusou a pedra na vesícula, mas ela não conseguiu a fazer a cirurgia devido à pandemia de covid-19. Na época, cirurgias consideradas eletivas estavam suspensas pelos convênios médicos.
"Sentia muitas dores e passei três anos à base de dipirona", relata a paciente. Em abril, ela chegou a ir para o hospital com dores abdominais muito fortes, mas os exames não acusaram nada de anormal e Ludmila foi medicada e mandada de volta para casa.
"Vim para casa à base de corticoide e opioides, doía tudo e fiquei duas semanas em repouso. Cheguei a ir ao ortopedista porque diziam que as dores eram na coluna. Comecei a fazer fisioterapia, mas as dores não passavam", relata.
Eu me habituei a viver com a dor 7 de uma escala até 10. Eu vivia exausta, com crises ansiosas pra fazer qualquer coisa e pra comer, porque meu corpo já sabia como seria depois de comer. Há anos meu corpo vivia em caos, em inflamação.
Há cerca de um mês, Ludmila fez uma viagem a trabalho e voltou sentindo fortes dores abdominais e sofrendo com vômitos.
Após ir para o hospital e ser submetida a uma tomografia, ela foi diagnosticada com apendicite e internada para uma cirurgia de emergência.
O Dr. Paulo Tosi conta que teve que "aproveitar" para remover também a vesícula da paciente. "Brinquei que ela ganhou um bônus", afirmou o médico. De acordo com ele, as duas condições (apendicite e pedra na vesícula) não estavam relacionadas.
Para que serve a vesícula?
"A vesícula é um órgão anexo ao tubo digestivo, que serve como um reservatório de bile. O fígado produz a bile, que é armazenada na vesícula. Em condições normais, quando o alimento chega ao intestino, a vesícula se contrai e joga a bile dentro do duodeno para que se faça a digestão, principalmente das gorduras", explica o Dr. Tosi.
Segundo o especialista, os cálculos na vesícula são compostos principalmente de colesterol e sais biliares.
"Quando a vesícula não funciona bem, a bile tende a ficar parada e muito concentrada, o que provoca esse fenômeno do endurecimento", explica.
A cirurgia levou apenas meia hora e a recuperação de Ludmila está sendo tranquila. "No caso dela, como a vesícula já não estava funcionando, ela não terá alteração nenhuma. A cirurgia traz apenas benefícios", afirma Tosi.
De acordo com ele, a cirurgia para retirada da vesícula é corriqueira e uma das mais frequentes em videolaparoscopia. A condição também é mais comum em mulheres, atingindo quatro vezes mais mulheres do que homens.
"Existem alguns fatores de risco. Pessoas a partir da quarta década de vida, pacientes obesos, pacientes férteis, geralmente mulheres que já têm filhos, desenvolvem mais comumente algum mau funcionamento na vesícula. Pode haver alguma questão hormonal, mas não se sabe ao certo", diz o doutor — Ludmila é mãe, mas não é possível ligar isso ao problema de saúde, a princípio.
"No caso de Ludmila, o que chama atenção é o desenvolvimento de tantos cálculos em tão pouco tempo", destacou Tosi.
Agora já estou tô mais calma, a criatividade está voltando, a vontade de viver tá de volta, os sonhos estão ressurgindo... Hoje meu corpo está num delicioso silêncio, o medo às vezes surge, mas está sumindo aos poucos. E eu já tinha esquecido o que era viver em paz.
Ludmila
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