Guajajara: Caso Dom e Bruno joga luz ao que ocorre diariamente na Amazônia
A líder indígena Sônia Guajajara lamentou hoje (17) a morte do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, afirmando que esse tipo de crime e violência acontecem diariamente na Amazônia. Guajajara também apontou a política de governo adotada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) como um incentivo para crimes na região.
"O fato que aconteceu com Dom ajudou na repercussão, porque a própria imprensa internacional se empenhou em denunciar e dar visibilidade. (...) Infelizmente precisou acontecer essa tragédia para o mundo olhar o que acontece todo dia. Desaparecimentos e assassinatos acontecem diariamente na Amazônia e Mato Grosso do Sul, mas muitas vezes não gera notícia e impacto. Então é hora de olhar e se importar para essa falta de proteção e incitação ao ódio e violência.", disse durante participação no UOL News.
Ela também destacou que a Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) e outras entidades indígenas já denunciaram o presidente ao Tribunal de Haia por crimes de genocídio e contra a humanidade. Agora, disse que fizeram nova denúncia pela demora nas buscas para encontrar Dom e Bruno.
"O Brasil segue como 4º país mais perigoso para defensores dos direitos humanos e do meio ambiente e a certeza da impunidade faz com que essa criminalidade aumente. Vamos seguir com essas denúncias internacionais no Tribunal de Haia, na ONU e na Comissão Interamericana de Direitos Humanos para pedir justiça e proteger a vida de pessoas que seguem fazendo a defesa do meio ambiente e dos nossos territórios", afirmou.
Para Guajajara, além da incerteza da impunidade, o próprio discurso adotado pela presidente autoriza que esse tipo de violência aconteça rotineiramente na região, com garimpo ilegal, desmatamento e invasões.
"Atribuímos crimes como esse ao próprio discurso governamental, com Bolsonaro tantas vezes apoiando o garimpo na Amazônia e toda essa exploração. O discurso ainda em campanha de que em seu governo não haveria um centímetro de terra demarcada para indígenas e tudo isso faz com que as pessoas se sintam autorizadas a invadir, explorar e cometer qualquer crime, porque eles estão com autorização do próprio governo. É um discurso que incita essa violência."
Por fim, a líder indígena apontou que houve negligência de órgãos como MPF (Ministério Público Federal), Funai e Polícia Federal, além do próprio governo, para fiscalizar e proteger o território e os povos indígenas.
"Esses órgãos precisam agir de forma articulada e a política de proteção tem que ser pensada de acordo com a realidade da região: extensa e de difícil acesso. O que falta é vontade política e interesse do Estado para que ações aconteçam de forma permanente", completou.
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