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Dom e Bruno: Univaja contesta investigação da PF que descartou mandante

Cartaz sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips (à esq.) e do indigenista Bruno Pereira (à dir.) - @crisvector/Reprodução
Cartaz sobre o desaparecimento do jornalista Dom Phillips (à esq.) e do indigenista Bruno Pereira (à dir.) Imagem: @crisvector/Reprodução

Gabriela Vinhal

do UOL, em Brasília

17/06/2022 13h33

A Unijava (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari) contestou, hoje, a investigação da PF (Polícia Federal) que descartou o envolvimento de organização criminosa ou de um possível mandante na morte do indigenista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Phillips.

Em nota, a Unijava afirmou que a PF "desconsidera as informações qualificadas, oferecidas pela Univaja em inúmeros ofícios, desde o segundo semestre de 2021, que apontam a existência de um grupo criminoso organizado atuando nas invasões constantes à Terra Indígena Vale do Javari, do qual 'Pelado' e 'Do Santo' fazem parte".

Até o momento, duas pessoas foram presas: Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como "Pelado", e o irmão, Oseney da Costa Oliveira, conhecido como "Dos Santos". Na última terça (14), "Pelado" confessou ter assassinado Dom e Bruno a tiros.

"As autoridades competentes, responsáveis pela proteção territorial e de nossas vidas, têm ignorado nossas denúncias, minimizando os danos, mesmo após os assassinatos de nossos parceiros, Pereira e Phillips", afirmou a Unijava.

Segundo o ofício, "o grupo de caçadores e pescadores profissionais, envolvido no assassinato de Pereira e Phillips, foi descrito em ofícios enviados ao MPF (Ministério Público Federal), à PF e à Funai (Fundação Nacional do Índio). Descrevemos nomes dos invasores, membros da organização criminosa, seus métodos de atuação, como entram e como saem da terra indígena, os ilícitos que levam, os tipos de embarcações que utilizam em suas atividades ilegais".

Um dia após realizar a perícia nos restos mortais de Dom e Bruno, a PF afirmou que apesar de os dois suspeitos presos não terem agido através de um mandante, o inquérito ainda busca confirmar ou descartar se houve a participação de outras pessoas no assassinato.

"Com o avanço das diligências, novas prisões podem acontecer", admitiu a polícia.

"Exigimos a continuidade e o aprofundamento das investigações. Exigimos que a PF considere as informações qualificadas que já repassamos a eles em nossos ofícios. Só assim teremos a oportunidade de viver em paz novamente em nosso território, o Vale do Javari", reforçou a Unijava.

Quem são Bruno e Dom?

Dom era correspondente do jornal The Guardian. Britânico, ele veio para o Brasil em 2007 e viajava frequentemente para a Amazônia para relatar a crise ambiental e suas consequências para as comunidades indígenas e suas terras.

O jornalista conheceu Bruno em 2018, durante uma reportagem para o Guardian. A dupla fazia parte de uma expedição de 17 dias pela Terra Indígena Vale do Javari, uma das maiores concentrações de indígenas isolados do mundo. O interesse em comum aproximou a dupla.

Bruno, servidor licenciado da Funai (Fundação Nacional do Índio), era conhecido como um defensor dos povos indígenas e atuante na fiscalização de invasores, como garimpeiros, pescadores e madeireiros. Em entrevista ao UOL, o líder indígena Manoel Chorimpa afirmou que o indigenista estava preocupado com as ameaças de morte que vinha sofrendo.