Bruno e Dom: suspeito mostra que tentou ocultar corpos mais de uma vez
Encontrados há cinco dias pela Polícia Federal, os corpos do indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista britânico Dom Phillips foram queimados antes de serem esquartejados e enterrados, segundo relato de um dos suspeitos presos no caso. Os dois foram mortos com tiros na cabeça e no tórax. Até o momento há três presos pelo crime, além do pescador Amarildo, vulgo Pelado: Jefferson da Silva Lima e Oseney Oliveira, irmão de Amarildo. O número de investigados chega a oito.
O programa "Domingo Espetacular", da TV Record exibiu a condução de Amarildo ao local do crime, e ele relatou à PF detalhes de como foi a perseguição. Como Bruno andava armado, o pescador afirmou que houve troca de tiros após serem emboscados por Jefferson, que estava matando um pirarucu em uma canoa de madeira.
Segundo o suspeito, havia só barro e motor quando a embarcação das vítimas foi afundada. Ainda segundo ele, os pertences de Dom e Bruno foram retirados do local.
No lugar indicado, Pelado contou que foi ali que ele e Jefferson queimaram os corpos. No dia seguinte, vendo que a tentativa de ocultar os cadáveres deu errado, eles levaram para outro ponto. Não conseguindo queimá-los, eles então esquartejaram e enterraram os corpos em um buraco.
Eduardo Fontes, superintendente da Polícia Federal no Amazonas, afirmou que a equipe de investigação levou mais de 25 minutos para conseguir chegar a um local isolado da mata onde os corpos foram queimados.
A perícia constatou que Amarildo e Jefferson alteraram o local para camuflar os corpos, inclusive derrubando uma árvore. Alexandre Deitos, perito criminal da Polícia Federal, explicou que a lama próxima ao rio dificultou o processo para encontrar os corpos.
"O desafio maior é que é uma região de igapó alagada e esses corpos estavam na beira do rio, às vezes submerso, dependendo de como o rio estava. É muito mais difícil trabalhar em um lugar úmido assim, do que em solo seco".
Repórter que acompanhava os dois tinha sido alertado de perigo
O repórter cinematográfico Jules Guépratte, que acompanhou Bruno e Dom para gravação de um documentário, relatou que o indigenista conseguia saber com detalhes as infrações cometidas. "Foi uma experiência muito intensa. É incrível, pois é uma floresta imensa e a equipe do Bruno conseguia rastrear e descobrir detalhes de infração".
Foi ele quem registrou um encontro entre Bruno e Pelado, em que o indigenista questionou o pescador e seus colegas sobre o que eles estavam fazendo naquela área e que tipo de peixe estava sendo pescado. O suspeito então diz que a área é da comunidade, e que "toda vida" eles pescam ali. Ele ainda exige que eles saiam do local.
Guépratte contou que foi alertado sobre o perigo dos pescadores. "Se a gente encontra uma equipe de pescadores pescando ilegalmente, eles nem vão perguntar o que estamos fazendo, vão abrir fogo".
Em mensagens reveladas à Record, Bruno pediu para o repórter as imagens do barco do Pelado, a fim de citar a ocorrência no relatório da missão.
PF suspeita de oito pessoas
Ontem, a PF subiu para oito o número de suspeitos investigados pelas mortes de Bruno e Dom, que ocorreram no início deste mês. Segundo a autoridade, foram identificados mais cinco homens que teriam ajudado a enterrar os corpos da dupla, mas os nomes deles ainda não foram revelados.
Até o momento, três suspeitos foram detidos pela polícia. O primeiro é Amarildo, conhecido como "Pelado", que foi preso em flagrante no dia 7, por porte de munição de uso restrito. Depois, ele confessou envolvimento nas mortes e deu detalhes da dinâmica do crime envolvendo Bruno e Dom.
O segundo suspeito preso é o pescador Oseney da Costa de Oliveira, irmão de Amarildo e conhecido como "Dos Santos", preso no dia 14. Ele negou ter participado do crime.
Já o terceiro, Jeferson da Silva Lima, conhecido como "Pelado da Dinha", se entregou para as autoridades por volta de 6h de ontem, após saber pela própria família que a polícia o procurava. Ele é apontado como alguém que participou diretamente do duplo homicídio e ajudou na ocultação dos corpos.
A PF descarta que exista um mandante ou uma organização criminosa por trás das mortes, o que é refutado pela Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari), que aponta "crime político" e pede a continuidade das investigações.
"As autoridades competentes, responsáveis pela proteção territorial e de nossas vidas, têm ignorado nossas denúncias, minimizando os danos, mesmo após os assassinatos de nossos parceiros, Pereira e Phillips", diz a entidade.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.