Viúva de Dom Phillips: 'Defensores do meio ambiente seguem em risco'
Em uma carta lida no velório do jornalista inglês Dom Phillips —morto ao lado do indigenista Bruno Pereira no Vale do Javari, no Amazonas— a viúva de Dom, Alessandra Sampaio, alertou para a situação de perigo vivida por quem defende a Amazônia.
Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo justiça, no significado mais abrangente do termo. Renovamos nossa luta para que nossa dor e a da família de Bruno Pereira não se repitam. Assim como a das famílias de outros jornalistas e defensores do meio ambiente, que seguem em risco. Descansem em paz, Bruno e Dom.
Alessandra Sampaio, viúva de Dom Phillips, em carta escrita pelos familiares do jornalista
Os restos mortais do jornalista inglês foram velados na manhã de hoje no cemitério Parque da Colina, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. O acesso à capela foi restrito apenas a familiares e amigos.
Os familiares de Dom chegaram ao cemitério Parque da Colina, em Niterói, região metropolitana do Rio, por volta das 9h30 e foram abraçados por amigos do jornalista. No local, um grupo de pessoas se manifestava com uma faixa que trazia os dizeres: "Quem mandou matar Bruno e Dom?".
Em outro trecho da carta, a família do britânico destaca que ele será cremado no Brasil, devido à relação que mantinha com o país.
"Hoje Dom será cremado no país que amava, seu lar, o Brasil. O dia de hoje é de luto", diz o documento.
Está programado para a tarde de hoje um ato em homenagem a Dom Phillips e Bruno Pereira nos Arcos da Lapa, um dos principais pontos turísticos do Rio de Janeiro.
O crime
Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram em 5 junho no Vale do Javari, na Amazônia. Dom era correspondente do jornal The Guardian. Britânico, veio para o Brasil em 2007 e viajava frequentemente para a Amazônia para relatar a crise ambiental e suas consequências para as comunidades indígenas.
O jornalista conheceu Bruno em 2018, durante uma reportagem para o The Guardian. A dupla fazia parte de uma expedição de 17 dias pela Terra Indígena Vale do Javari, uma das maiores concentrações de indígenas isolados do mundo. O interesse em comum aproximou os dois.
Bruno era conhecido como defensor dos povos indígenas e atuante na fiscalização de invasores, como garimpeiros, pescadores e madeireiro.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a área em que a dupla navegava é "palco de disputa entre facções criminosas que se destacam pela sobreposição de crimes ambientais, que vão do desmatamento e garimpo ilegal a ações relacionadas ao tráfico de drogas e de armas". Até o momento, a investigação da PF chegou a três suspeitos —apenas o pescador Amarildo da Costa Oliveira, conhecido como Pelado, confessou a autoria no duplo homicídio. Segundo a polícia, ele havia admitido ter jogado os corpos em uma parte da mata do Vale do Javari, esquartejado e ateado fogo. No entanto, nesta semana, voltou atrás e afirmou não ter participado do homicídio.
De acordo com o depoimento do pescador, o responsável pelas mortes do indigenista e do jornalista, ocorridas no início do mês, é Jeferson da Silva Lima, também conhecido como Pelado da Dinha.
Os dois, juntamente a Oseney da Costa de Oliveira, irmão de Amarildo e conhecido como Dos Santos, estão detidos pela PF. Oseney nega envolvimento no crime. Ao todo, a corporação considera oito pessoas suspeitas.
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