'Abaixa a arma que aqui só tem família', pediu petista antes de ser morto
A Polícia Civil do Paraná detalhou os momentos que antecederam o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, enquanto comemorava o aniversário de 50 anos com uma festa temática do PT em Foz do Iguaçu. Com arma em punho, a vítima fez um apelo ao atirador: "Abaixa a arma que aqui só tem família", gritou, de acordo com relatos e imagens de câmeras de segurança.
Após ser informado em um churrasco com amigos de que havia uma festa temática do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ir até lá de carro com música em referência a Bolsonaro, o policial penal Jorge José da Rocha Guaranho —indiciado por homicídio duplamente qualificado— se envolveu em uma discussão com o aniversariante, que atirou terra no seu veículo.
O portão que dá acesso ao local da festa estava fechado, de acordo com a investigação. Ao abri-lo para entrar, o suspeito —que estava de carro— foi abordado pelo caseiro. "Aí ele disse: 'sai da frente! O problema não é com você e eu vou entrar", relatou a delegada Camila Cecconello, da DHPP (Delegacia de Homicídio e Proteção à Pessoa).
Em seguida, Guaranho estaciona o veículo e desce em frente à festa, como mostram as imagens do circuito interno. Convidados entram no salão para avisar o aniversariante. "Podemos ver que a vítima carrega a sua arma e a coloca na cintura", narra.
Ao ver a vítima, o policial penal saca a arma, de acordo com o relato dado pela delegada com base nas imagens e nos depoimentos. Nesse momento, a policial civil Pâmela Suellen Silva, esposa de Arruda, aparece na cena para mostrar o seu distintivo e pedir que o atirador abaixe a arma. Mas ele não a obedece.
O que a gente vê, na sequência das imagens, é que vítima e autor ficam de três a quatro segundos apontando a arma um para o outro. A vítima disse: 'Abaixa a arma, aqui é polícia, aqui só tem família'. O agente penitenciário respondeu: 'Abaixa a arma você'. Até que ele efetuou alguns disparos."
Camila Cecconello, delegada
A delegada descarta a hipótese de legítima defesa, sustentada pelos advogados que representam o policial penal. "O Guaranho que decidiu atirar, não a vítima", responde.
Em um segundo momento, o policial penal bolsonarista aparece nas imagens invadindo a festa e se aproximando da vítima já no chão para atirar. Arruda revida, ferindo Guaranho, que cai e é agredido por chutes na cabeça dados por participantes da festa após o tiroteio.
Já identificados, os três agressores respondem a um inquérito paralelo. O atirador está internado na UTI de um hospital de Foz do Iguaçu em estado grave.
De acordo com a investigação, Arruda foi atingido por dois tiros —em uma das pernas e no peito. Já Guaranho levou quatro disparos, que o atingiram nas pernas e no rosto.
Crime ocorreu por 'escalada da discussão', diz delegada
Questionada pelo UOL durante a coletiva, a delegada Camila Cecconello disse não ter feito o indiciamento por crime político por entender que não há comprovação de que o atirador pretendia impedir a vítima de exercer os seus direitos políticos.
"Para você enquadrar em crime político contra o Estado Democrático de Direito, tem alguns requisitos, como impedir ou dificultar a pessoa de exercer seus direitos políticos. Quando [Guaranho] chegou [ao local do crime], ele não tinha a intenção de efetuar os disparos. Esse acirramento da discussão fez com que o autor voltasse e praticasse o homicídio".
Embora afaste o crime de ódio, Cecconello reconhece que houve desavença política. Contudo, no entendimento dela, o crime ocorreu em decorrência da "escalada da discussão". "Parece algo que virou pessoal entre duas pessoas que discutiram por motivações políticas", explica.
"Não há provas de que ele voltou para cometer crime político. É difícil falar que ele matou pelo fato de a vítima ser petista. Ele voltou porque se mostrou ofendido pelo acirramento da discussão", complementa a delegada.
Advogados de vítima contestam
Os advogados do guarda municipal Marcelo Arruda contestam a conclusão do inquérito. "A defesa da vítima reafirma que a motivação do crime foi intolerância política. Agora aguardaremos a posição do Ministério Público", disse o advogado Ian Vargas, um dos representantes legais da família de Marcelo Arruda.
A advogada Poliana Lemes Cardoso, que integra a equipe de defensores do atirador, disse aguardar a conclusão das perícias para verificar a leitura labial dos envolvidos na cena do crime. "A motivação dele efetivamente foi retornar em razão da primeira e injusta agressão que feriu a honra dele".
A Polícia Civil levou apenas cinco dias para concluir o inquérito, que contou com 17 depoimentos e a análise das imagens captadas pelas câmeras de segurança no local do crime, que registraram o assassinato.
Os representantes legais da família de Arruda criticam o que entendem ter sido uma "conclusão apressada" do inquérito, sem que ao menos fosse analisado o conteúdo do celular do atirador. No entendimento dos advogados que representam os interesses da família do petista morto, é necessário investigar se há a eventual participação de terceiros no crime.
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