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'É o que o governador tem pra gente? Entrar e matar?', diz filha de vítima

22.jul.2022 - As filhas e o sobrinho de Letícia Salles, morta durante operação no Alemão  - Lola Ferreira/UOL
22.jul.2022 - As filhas e o sobrinho de Letícia Salles, morta durante operação no Alemão Imagem: Lola Ferreira/UOL

Do UOL, no Rio

22/07/2022 12h47Atualizada em 22/07/2022 19h23

A família de Letícia Marinho Salles, 50, fez hoje duras críticas ao governador Cláudio Castro (PL) e à política de segurança do estado do Rio de Janeiro. Ela está entre os 17 mortos da operação policial realizada ontem no Complexo do Alemão.

Um policial totalmente despreparado atirou na minha mãe. É isso que o governador tem pra gente? Entrar e matar? Toda vez ele só vai mandar matar? A polícia do Rio de Janeiro está aprendendo o quê? A matar um trabalhador?"
Jéssica Salles, 33, filha de Letícia

Mãe de dois filhos, Jéssica —que esteve com a irmã na manhã de hoje no IML (Instituto Médico-Legal) para a liberação do corpo— também criticou policiais que invadem casas em comunidades.

As filhas de Letícia descreveram a mãe como uma mulher prestativa e trabalhadora. Há 12 dias, elas enterraram a avó materna e lamentam mais uma perda em um espaço tão curto de tempo.

Letícia estava acompanhada do namorado e de um primo dele dentro de um carro na Estrada do Itararé. De acordo com relatos, havia policiais à paisana de um lado e policiais em uma blitz do outro lado do carro.

Um desses policiais à paisana sacou a sua arma e ali começaram os disparos, segundo testemunhas. A família quer explicações para entender o motivo do início dos tiros e por que o carro em que Letícia estava foi atingido. Os parentes também esperam que o governador do RJ os procurem.

"Minha mãe ajudava todo mundo, sempre acolheu todos. Aonde ela ia, ela era amada. Aonde ela visse alguém precisando, era com palavras, era ajudando dentro de casa. Ela colocava pessoas dentro da casa dela para ajudar, sem pensar duas vezes se aquela pessoa ia fazer alguma maldade ou não", define a filha Jenifer, 30, mãe da terceira neta de Letícia.

Letícia Salles (à dir.), morta em ação policial no Alemão, em foto com as filhas e a mãe - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Letícia Salles (à dir.), morta em ação policial no Alemão, em foto com as filhas e a mãe
Imagem: Arquivo Pessoal

Ajuda a pastora e filha de PM

De acordo com as filhas, Letícia estava na região para ajudar uma amiga, que é pastora evangélica. As jovens moram na Vila Cruzeiro, também na zona norte, local em que a mãe esteve na quarta-feira (20) para fazer trabalho voluntário.

Na manhã de ontem, Letícia estava saindo da região em direção ao Recreio dos Bandeirantes —na zona oeste, onde morava—, quando foi morta.

De acordo com as filhas, elas permaneceram na Vila Cruzeiro após a morte da avó para resolver os trâmites de venda da casa. Jéssica, a mais velha, mora na mesma casa. Por isso, também, Letícia se mantinha próxima à comunidade.

Filha do militar Nivaldo Salles, Letícia perdeu os pais no último ano. Há 12 dias, havia enterrado a mãe após um câncer agressivo e estava se recompondo. No ano passado, enterrou o pai.

As filhas de Letícia classificam as perdas recentes da família como negligência e covardia.

O Estado foi negligente com meu avô, que faleceu no Hospital Militar da PM, com minha avó que faleceu no mesmo hospital e agora foi covarde com minha mãe. Foi covardia o que fizeram com a minha mãe."
Jenifer Salles, filha de Letícia

Sobrinho de Letícia, Neilson Sales, 30, pediu que o governador fale com a família —o que não aconteceu até as 12h de hoje. "Cobramos dele e queremos falar com ele. Queremos uma resposta e ficar cara a cara com ele", diz Neilson.

O rapaz, que trabalha como vigilante, apontou despreparo dos policiais. "Alvejaram minha tia por despreparo emocional, psicológico. A polícia do Rio de Janeiro tem que ser mais preparada para não fazer atrocidade com o cidadão de bem."

Anteriormente, a Polícia Civil havia informado que Roberto de Souza Quimer, 38, era um dos mortos, mas retificou a informação às 18h de hoje (22), o que totaliza 17 mortos no dia 21 de julho. O UOL atualizou todas as reportagens sobre o caso com a informação correta.