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Assalto a esposa e liderança do PCC: o que mostram novos vídeos de Marcola

Marcola teve conversas monitoradas durante um ano na penitenciária  - Reprodução/TV Globo
Marcola teve conversas monitoradas durante um ano na penitenciária Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

16/08/2022 04h00Atualizada em 16/08/2022 06h05

Novos vídeos de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, criminoso condenado a mais de 300 anos e apontado como líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) mostraram neste fim de semana a relação entre ele e sua família, além de trazerem alegações do próprio Marcola de que ele não seria o líder da facção.

Marcola voltou às manchetes devido à operação da Polícia Federal que anunciou ter interrompido uma ação do PCC que tinha como objetivo resgatar detidos em presídios do Distrito Federal e Rondônia, na quarta-feira (10) passada. Entre os alvos do resgate estava Marcola.

Em conversas exibidas pelo "Fantástico", da TV Globo, e pelo "Domingo Espetacular" e "Cidade Alerta", da Record TV, Marcola aparece falando com a esposa, que relata ter passado por um assalto — frustrado porque acabou sendo reconhecida como esposa do detento —, dando conselhos ao filho e alegando em audiência que não lidera o PCC.

Preso desde 1999 e condenado a mais de 300 anos de prisão, Marcola vinha tendo as conversas no presídio monitoradas a um ano e meio.

Veja abaixo o que trazem de novo os trechos inéditos com falas de Marcola na prisão:

'Lutando para sair'

Em uma das conversas obtidas pelo "Fantástico", Marcola admite para a mulher que quer deixar a prisão e afirma que não pretende desistir disso.

Enquanto eu tiver vida e estiver respirando, pode ter certeza que eu vou estar lutando para sair daqui, entendeu? É que eu não posso falar um monte de coisa aqui, mas minha vida é lutar pra sair daqui.

'Devolveram meu dinheiro'

Na mesma conversa, ocorrida em novembro do ano passado, Cynthia relata que foi assaltada e teve o celular roubado. No entanto, os criminosos teriam devolvido o aparelho e o dinheiro ao perceberem que ela era casada com o líder criminoso.

Cynthia: Roubaram o celular e transferiram dinheiro.

Marcola: Foi aonde isso aí?

Cynthia: Na Marginal. Via expressa. Era trânsito, parou. Tomei um susto tão grande, demorei uns segundos pra voltar ao normal. Aí devolveram porque viram meu nome. Que era seu nome. Cynthia Willians Herbas Camacho. Mandaram entregar lá no salão. Devolveram o celular e o dinheiro do Pix.

Marcola: P***. Eu não acredito. Mas você sabe que ali, exatamente na Marginal, tem... Eu sou muito conhecido.

'Fumar é coisa de mané'

Em outra conversa monitorada, Marcola conversa com o filho, de 13 anos, no dia 12 de janeiro no parlatório da Penitenciária Federal em Porto Velho. No diálogo, exibido ontem pelo "Domingo Espetacular", da TV Record, ele dá conselhos para o adolescente.

"Fumar é coisa de mané", diz ele.

Em outro momento, Marcola diz que não quer que o filho se torne bandido. "Esse negócio de ficar dando tiro de soft nos outros é coisa de bandido", diz ele.

O maior trauma (sic) meu é que você siga meus passos. Você estuda num colégio bom, mora num lugar maravilhoso. Tem roupa bacana, família da hora. Então, qual é a revolta? É por que o pai está aqui? Marcola, falando com o filho

'Meu medo é eles matarem você'

Na mesma visita, Cynthia demonstra preocupação com o bem-estar de Marcola na prisão, que tenta transmitir a ela tranquilidade.

Cynthia: Estou preocupada com a sua vida. Meu medo é eles matarem você.

Marcola: Esses caras são tudo meu filho.

'Nunca coordenei nem chefiei o PCC'

Durante uma audiência em 2017, Marcola negou para o juiz Gabriel Medeiros, da comarca de Presidente Venceslau, que atuava no PCC. As imagens do momento foram exibidas pela pelo "Cidade Alerta", da Record TV — mas já haviam sido publicadas à época pela Ponte. Segundo as autoridades, isso pode ter sido uma estratégia para tentar vantagens no sistema prisional, em termos de contatos com advogados — o que motivou a ação da semana passada — e monitoramento.

"Em 2002 eu estava no sistema penitenciário, preso há três anos. Eu era tipo um inimigo desses líderes do PCC, só que como eu era considerado um dos maiores assaltantes de banco do estado de São Paulo esses presos eram obrigados a conviver comigo sem fazer mal a mim. Mas aí eu tive um problema com esses presos: eles mandaram assassinar minha esposa, a doutora Ana Maria, que era advogada, e tentaram me matar, mandaram me matar", afirmou Marcola.

Na época, Marcola vivia um relacionamento com a advogada Ana Maria Olivatto, 45. Ela foi morta a tiros em outubro de 2002, na garagem da casa onde morava, em Guarulhos, quando se preparava para uma viagem de 592 km até o presídio de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, onde encontraria José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, os únicos de oito fundadores do PCC que ainda estavam vivos.

"Eu declarei uma guerra contra eles. O sistema penitenciário, cansado de ser extorquido, oprimido e assassinado por eles, acabou repudiando eles, e quando isso aconteceu eu passei a ser visto pelo sistema penitenciário como líder do PCC, já que eu tinha vencido os líderes, que eram o Geleião e outros que existiam", detalhou o criminoso.

Ainda, na mesma conversa, Marcola nega que faça parte do PCC.

Medeiros: Você faz parte do PCC? É integrante do PCC?

Marcola: Não.

Medeiros: Chefiou ou coordenou nenhuma célula jurídica do PCC?

Marcola: Nunca coordenei nem chefiei, conforme o Macarrão mesmo já falou, que é a testemunha de acusação.

Orlando Mota Junior, o Macarrão, era dirigente do Primeiro Comando e foi apontado como o criador da chamada "sintonia dos gravatas", como ficou conhecida a "parceria" entre presos e advogados. Após o assassinato de sua mulher, a mando de colegas de facção, o criminoso decidiu delatar parceiros e dar detalhes dos crimes.

Família foi alvo de operação

Na semana passada, a casa da família de Marcola, em Alphaville — na cidade de Barueri (SP), foi um dos alvos de uma operação deflagrada pela Polícia Federal para desarticular o plano de resgate de criminosos em penitenciárias federais de Brasília e Porto Velho.

Batizada de Anjos da Guarda, a operação da PF mobilizou 80 policiais para cumprir 11 mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão em Brasília, Campo Grande e Três Lagoas (MS), São Paulo, Santos e Presidente Prudente (SP).

Além de Marcola, a facção criminosa planejava resgatar Cláudio Barbará da Silva e Valdeci Alves do Santos, o Colorido. O grupo também pretendia sequestrar autoridades para conseguir a soltura de detentos, disse a PF.

As advogadas Juliana de Araújo Alonso Mirandola e Simone Alonso foram presas em Presidente Prudente (SP). Simone é esposa de Cláudio Barbará, um dos líderes do PCC preso em Brasília.