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Estudante faz alerta sobre loló após lesão no olho em festa: 'Muita dor'

Clara estava dançando quando sentiu um líquido cair nos olhos e uma sensação de queimação - Arquivo pessoal
Clara estava dançando quando sentiu um líquido cair nos olhos e uma sensação de queimação Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

23/08/2022 20h33Atualizada em 24/08/2022 18h09

A estudante Clara Sentanin, 23, está há quase duas semanas se recuperando de uma queimadura na córnea ocasionada durante uma festa universitária em Uberlândia. Ela diz ter sido atingida por um jato nos olhos enquanto participava do evento, no último dia 13. A ardência e a dor foram instantâneas, por isso, ela buscou ajuda médica e descobriu que foi atingida por um líquido do entorpecente conhecido como loló.

A estudante do último período de Relações Internacionais da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) contou ao UOL que, no momento do incidente, estava dançando com as amigas e o namorado.

"Não era uma festa grande e estávamos em um ambiente controlado. Sempre frequentei e nunca nada disso tinha acontecido. Era um open bar e estavam servindo bebidas alcoólicas normais. Em dado momento, eu senti do lado esquerdo do meu rosto um líquido. Na hora, achei que fosse bebida, porque é costume o pessoal jogar pra cima, mas então comecei a sentir muita ardência e dor", relembra.

Após ser atingida pela substância, Clara pediu ajuda para as amigas e o namorado para levarem-na ao banheiro, onde ela lavou os olhos com água. No entanto, a dor continuava e ela deixou a festa para ir a uma farmácia, onde recebeu compressas de soro fisiológico.

"Eu não tinha condição de abrir os olhos. Só consegui abrir mais tarde, quando fui encaminhada para o hospital. Eles colocaram colírio anestésico e meu olho estava muito inchado. Na hora, não tinha oftalmologista no pronto atendimento e só foi na manhã seguinte que, após passar por exames, recebi o diagnóstico que tinha sofrido queimadura química da córnea."

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Os olhos da estudante ficaram inchados após contato com substância
Imagem: Arquivo pessoal

Clara conta que passou ao todo por quatro médicos e que todos eles haviam concordado que a substância que caiu nos olhos dela era algo mais forte que bebida alcoólica. "Uma bebida não teria queimado tanto. Pelo contexto de festa, começamos a suspeitar que fosse loló. Eu nunca usei isso, mas sei que é líquido e que as pessoas fazem com solventes químicos."

Loló é o nome popular para um entorpecente preparado de forma clandestina com substâncias como clorofórmio e éter. Ele é um líquido utilizado como inalante e causa alucinações e agitação no usuário.

A estudante resolveu compartilhar a história no Twitter e acabou recebendo mais mensagens de pessoas que passaram por situações semelhantes. A publicação já tem mais de 1,9 mil comentários.

"Eu vi várias pessoas dizendo que tinham ficado com os olhos inchados também por causa do contato com o loló. Teve gente que até publicou foto. Eu não sabia que isso acontecia e muito menos que era comum que as pessoas jogassem esse líquido pra cima."

Clara diz que seu olho esquerdo foi o mais atingido, mas que já está conseguindo se recuperar bem da lesão. "Faz uma semana que estou com ele tapado, passando pomada. Eu não conseguia abrir os meus dois olhos, precisava de ajuda para comer, para andar, sentia muito incômodo. Agora pelo menos já estou conseguindo abrir os olhos sem anestésico."

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Clara precisou de atendimento médico em hospital após o incidente
Imagem: Arquivo pessoal

A queimadura, segundo Clara, é reversível e ela continua em tratamento para melhorar completamente da lesão. Ela afirma que decidiu não registrar queixa sobre o caso e que recebeu apoio da organização da festa. "Os organizadores são pessoas que eu conheço e que são responsáveis. Mandaram mensagem dizendo que iriam me ajudar com o que eu precisasse, como compra de medicamentos", conta.

A estudante diz que, após a história, recebeu garantia de que a atenção será redobrada na fiscalização das festas. "Eu já organizei festas e sei que existem às vezes situações que fogem do nosso controle. Eu acredito que essa foi uma delas. Os organizadores inclusive já falaram que vão aumentar as medidas de segurança para que isso não aconteça de novo com outra pessoa."

Mais comum do que se pensa

De acordo com o médico oftalmologista da Fundação Altino Ventura, especializada na saúde dos olhos, Kayo Espósito, lesões com abrasões na córnea (área mais transparente e superficial do olho) e na conjuntiva (tecido mais vascularizado, também na parte mais superficial do órgão) são mais frequentes em prontos-socorros do que a população imagina - em especial em períodos de grandes festas, a exemplo do período carnavalesco.

Segundo o especialista, os traumas com loló, álcool ou ácido muriático são frequentes — e entre os agentes, um dos mais perigosos é cal virgem. Nesses casos, há uma abrasão química, cujas sequelas e duração de tratamento são diretamente relacionados à área afetada pelo produto químico.

Em casos relacionados a loló, por exemplo, normalmente o quadro é de uma lesão de limbo, comprometendo a parte mais superficial, do epitélio, e o tratamento dura de 5 a 7 dias, pois o órgão tem um bom índice de recuperação espontânea.

"Esse tipo de abrasão é bastante doloroso e, em caso de traumas extremos, os danos também podem ser profundos e, por vezes, irreversíveis. E não é só com substâncias consumidas em festas. No interior, por exemplo, é comum lidar com casos de quem confundiu os frascos e pingou dipirona ou remédios para piolho nos olhos", explica Espósito.

Em caso de contato de alguma substância nos olhos, é recomendado buscar um médico imediatamente. É possível, com as mãos limpas, lavar bem a área, com água ou soro, mas, em nenhuma hipótese, deve-se esfregar o olho afetado.