Mulher morta a tiros por PM em Curitiba trabalhava em três hospitais
A mulher de 28 anos morta a tiros pelo ex-companheiro ontem em Curitiba (PR) era apaixonada pela área da saúde. Franciele Silva decidiu entrar no curso de enfermagem na PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) em 2014. Logo que se formou, começou a trabalhar em três locais diferentes.
Antes de ser assassinada pelo ex-companheiro e policial militar, Dyegho Henrique Almeida, Franciele prestava serviços para a Prefeitura de Curitiba. O principal cargo da técnica de enfermagem e também enfermeira era na Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). A jovem dividia seu tempo no CMP (Complexo Médico Penal) na capital.
"A Fran era uma mãe de família, trabalhava em três empregos. Era o exagero em pessoa, gostava de brilho, a maioria das coisas dela era rosa pink, ela amava essa cor", contou desabafando a amiga Laura Menezes.
Por onde passava, Franciele deixava sua marca de sempre festejar e se expressar com alegria. "Falava alto, sorria, tinha uma energia caótica, todos os lugares que ela estava pareciam um carnaval com tanta alegria que ela exalava. Estamos todos com coração partido, doloroso", contou a amiga.
A jovem deixa um casal de filhos, uma criança de 11 anos, que estava no carro da vítima no momento dos tiros, e um adolescente de 13 anos, que estuda em um colégio militar - que era um sonho de Franciele ainda em vida.
A mãe da vítima não quis falar com a reportagem, mas em uma rede social Jocélia Silva comentou: "Minha filha o vazio que você vai deixar não tem explicação, mas saiba que você foi e será sempre o amor da minha vida. Te amarei para sempre", disse a mãe.
A enfermeira será velada na capital a partir das 19h30 e será enterrada no cemitério municipal amanhã às 15h.
Sete boletins de ocorrência em um ano
Sete boletins de ocorrência marcam o relacionamento conturbado entre a enfermeira Franciele e Dyegho Henrique. O namoro durou um ano e acabou há pouco mais de um mês, segundo parentes.
O casal se conheceu em agosto de 2021. Mas o que acontecia em quatro paredes não era comentado até poucos meses, quando o caso veio à tona. No início desse ano, Dyegho teria forçado dois abortos na jovem, ambos durante relações sexuais.
A advogada que representa a família da vítima disse que essa foi uma morte anunciada. Já que Franciele teria dado entrada em uma medida protetiva.
"Uma tragédia anunciada. Um relacionamento muito conturbado entre idas e vindas. Muitos boletins de ocorrência e idas à corregedoria da PM, porque ele era uma pessoa que estava passando por problemas psicológicos. Porém, nada disso justifica a atitude dele", afirmou ao UOL a advogada Nicole Dalapria.
Nicole ainda criticou a demora da justiça em casos de violência contra a mulher, já que aguardava o resultado da medida protetiva. "Quando pedimos medida protetiva, estamos clamando por justiça. Quando o assunto é violência doméstica, a gente não pode esperar que o pior aconteça. Algo de imediato precisa ser feito", finalizou a advogada.
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie. Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos. Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.
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