Peixe-leão: Invasor venenoso é visto pela 1ª vez em Fortaleza
Um peixe-leão, espécie invasora conhecida por não ter predadores naturais, foi visto pela primeira vez no mar de Fortaleza, na sexta-feira (4). A presença foi registrada a 22 metros de profundidade por um mergulhador que passeava pelo Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio, uma reserva ecológica.
O peixe se tornou presença constante em águas rasas do litoral piauiense e cearense em março deste ano, além de já ter sido visto no arquipélago de Fernando de Noronha. Em abril deste ano, um pescador de 24 anos teve convulsões após entrar em contato com um espécime do peixe-leão na praia de Bitupitá, também no Ceará, acendendo novo alerta sobre os perigos da espécie para a população.
Marcelo Soares, pesquisador do Labomar da UFC (Universidade Federal do Ceará), conta que foram avistados mais de 200 peixe-leão no Nordeste do Brasil apenas este ano, com a presença do animal se espalhando por cada vez mais estados.
Além da expansão da "ocupação", os espécimes encontrados estão cada vez maiores em tamanho — um dado preocupante, segundo o professor.
"Hoje nós temos registros no Amapá, no Pará, no Maranhão, no Piauí, no Ceará, em Fernando de Noronha e até em algumas praias do Rio Grande do Norte. Quando a gente começou a pesquisar, em meados de março e abril, a gente tinha animais pequenos, na faixa de 11 centímetros, 12 centímetros, hoje a gente já está encontrando animais com mais de 30 centímetros, inclusive fêmeas 'ovadas'. Ou seja, isso quer dizer que o animal já está consolidado nessa região, está se espalhando rapidamente, reproduzindo e se alimentando de peixes nativos", afirmou o cientista.
A projeção da equipe de Soares é de que, sem controle ambiental, o peixe-leão estará presente em todo o litoral brasileiro em cerca de três anos. A consequência mais alarmante do crescimento da população envolve a cadeia alimentar deste animal, já que ele não tem predadores e se alimenta dos peixes nativos, o que pode levar a um desequilíbrio ecológico e afetar a rotina de pescadores, que dependem do mar para sobreviver.
Já quando o assunto é o perigo que o peixe-leão representa para banhistas, Soares destaca que a maior parte dos espécimes encontrados estão em áreas não acessadas pela população em geral, com mergulhadores e pescadores sendo os mais vulneráveis a possíveis acidentes.
"Até agora, o peixe-leão no Brasil ocorre entre 1 e 110 metros de profundidade, principalmente no litoral do Pará e Amapá ele está em águas muito profundas. Isso é um problema, porque normalmente a gente só consegue caçar o animal a mais ou menos 30 metros de profundidade, que é onde a gente consegue mergulhar. Isso aconteceu no Caribe. Houve ações de limpar o animal na água mais rasa, mas ele continuou se reproduzindo em água mais profunda, então você teria que usar alguns apetrechos de pesca para matá-lo, porque como ele não tem predador natural nós precisamos matá-lo", explica o especialista.
Além da profundidade, outro fator que dificulta os "encontros" entre o animal e os banhistas é a incompatibilidade entre o peixe-leão e as faixas de areia, com a espécie preferindo se alojar em áreas de recife. Soares destaca que é necessária uma força-tarefa imediata entre os poderes públicos, universidades e as ONGs ambientalistas para resolver o problema antes da reprodução acelerada da população, já que uma única fêmea coloca entre 10 e 30 mil ovos a cada quatro dias.
Invasores podem ter vindo do Caribe
O peixe-leão é originário do Indo-Pacífico, mas há suspeitas de que os animais que chegaram ao Brasil tenham saído do Caribe por uma corrente marítima que os trouxe até um recife do Rio Amazonas.
A presença da espécie na região caribenha data da década de 1980 e ainda é objeto de estudo.
Em abril, também em entrevista ao UOL, Marcelo Soares afirmou que há duas hipóteses para o surgimento deles.
A primeira é a de que esteja ligada a um resort que tinha um grande sistema de aquário caribenho e teria sido afetado por algum furacão, o que é relativamente comum na região. Após o fenômeno, os animais acabaram sendo liberados para o mar. Outra hipótese é a de que eles tenham sido acidentalmente jogados nos oceanos por aquários.
Sintomas do contato com o veneno
Informações do ICMBio apontam que o veneno "não é fatal para pessoas saudáveis", mas que o contato com ele pode causar dores, bolhas, enjoos e até mesmo convulsões.
O caso visto em abril no Ceará, em que até mesmo paradas cardíacas foram registradas no paciente, é considerado raro. "Tem que se estudar e ver se essa reação foi realmente consequência do contato com a espécie", afirmou Soares.
Cartazes orientaram pescadores sobre perigos
Ainda em fevereiro, o Ministério do Meio Ambiente emitiu uma série de cartazes e panfletos informativos para orientar turistas, pescadores e associações de pesca sobre como reconhecer e lidar com os animais.
A instrução dada aos pescadores que, acidentalmente, capturarem ele é de não devolver o bicho à água.
"Coloque o dedão dentro da boca do peixe e, com a outra mão, cuidadosamente corte seus espinhos", afirma o cartaz de orientação. Após o corte dos espinhos, os pescadores foram orientados a entrar em contato com o ICMBio para a entrega do bicho.
A orientação para os que forem furados pelos espinhos do animal é procurar atendimento médico rapidamente e passar água quente no local para dificultar a ação do veneno. Os mergulhadores que o avistarem são orientados a registrar o bicho em fotografias, anotar a localização e a profundidade em que foi encontrado.
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