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Caso Flordelis: 'Estou sendo coagida a não falar a verdade', diz testemunha

Do UOL, no Rio

07/11/2022 20h33Atualizada em 08/11/2022 16h46

Terceira testemunha de acusação ouvida no julgamento da ex-deputada federal e pastora Flordelis, Regiane Ramos Cupti Rabello —ex-empregadora de um dos filhos afetivos acusados de participação na morte do pastor Anderson do Carmo— disse estar sofrendo intimidações por parte da família após testemunhar.

Regiane contratou Lucas Cezar dos Santos de Souza em sua oficina e passou a cuidar do adolescente, um dos filhos afetivos de Flordelis, então com 14 anos. A testemunha afirmou que, desde que expôs supostos crimes da família, tem sido intimidada.

Ataque com bomba. A testemunha conta ainda que uma bomba foi arremessada em sua casa pouco depois da prisão de diversos integrantes da família de Flordelis, na segunda fase das investigações. Em sua visão, isso ocorreu porque ela evitou que Lucas assumisse a culpa pelo assassinato, como pretendia Flordelis.

"Eles estavam com muita raiva porque a Flordelis não podia visitar o Lucas e eu era essa barreira. Na verdade, eu fui o calo no sapato deles. É uma família perigosa, saindo daqui eu nem sei o que os netos dela podem fazer comigo", diz ela, repetindo que está sendo intimidada. "Daqui a pouco estão me matando aqui, que nem mataram o pastor".

"Estou me sentindo coagida para não falar a verdade. Tive uma bomba jogada na minha casa, que sempre teve paz. Os carros da minha oficina todos rabiscados pela senhora Lorraine [dos Santos, neta de Flordelis]. Quem é a família de bandidos é eles", desabafou.

Ainda segundo a testemunha, integrantes da família de Flordelis tentaram aliciar Lucas para assassinar o pastor Anderson. Ele foi condenado a nove anos de prisão por homicídio triplamente qualificado —sua participação foi comprar a arma usada no crime.

O responsável por matar o marido de Flordelis foi Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico da ex-deputada federal Flordelis, condenado a 33 anos 2 meses e 20 dias de reclusão.

Regiane denunciou que, desde a adolescência, Lucas sofria maus tratos por parte da família de Flordelis, sendo privado de acesso à alimentação adequada e a cuidados básicos de higiene pessoal.

"Lucas não foi ensinado nem a usar um desodorante. Foi meu marido que ensinou como homem. O Lucas fedia", afirmou.

Flordelis e Lucas. Em outro trecho do depoimento, a testemunha contou que a própria Flordelis aliciou Lucas para tentar que ele assassinasse Anderson do Carmo. Segundo ela, a pastora pediu que ele cometesse o crime ou arrumasse alguém que pudesse realizá-lo. Sugeriu ainda que ele fugisse no carro de Anderson, no qual deixaria relógios, para simular um latrocínio.

"O pretinho pobre que não tinha família para brigar por ele ia pegar 30 anos para arcar com os crimes deles. Como eu ia deixar isso acontecer? Estavam tentando fazer a cabeça do Lucas preso para assumir uma culpa que não era dele", disse ela.

Antes de Regiane, foram ouvidos os delegados Bárbara Lomba e Allan Duarte —responsáveis pelas investigações que levaram à prisão de Flordelis.

Durante todo o depoimento de Regiane, Flordelis ficou de cabeça baixa, com a testa apoiada em uma das mãos, demonstrando estar abalada. Em determinado momento, começou a chorar e foi consolada por um dos advogados de sua equipe de defesa.

O que diz a defesa de Flordelis. Após o depoimento de Regiane, Rodrigo Faucz disse ao UOL por meio de sua assessoria:

"Regiane foi proibida, por meio de liminar, de falar sobre Flordelis em um processo que corre desde de julho do ano passado. Diante disso, a testemunha não poderia alegar surpresa da ação. Ela vem constantemente atacando a honra, liberdade e religiosidade da minha cliente e, por isso, a defesa entrou e conseguiu a liminar, para impedir que ela continue a caluniando e difamando. Sobre Lucas, que ela diz ter cuidado e considerar um 'filho' de coração, mostramos áudios no júri dela mesma o chamando de 'psicopata', dono de uma 'mente maligna'."