'Também perco uma mãe', lamenta filha de homem morto escondido em freezer
"Além de perder um pai, também perco uma mãe", afirmou neste domingo (27) a estudante Gabriela Hoeckler, 22, em uma rede social. Ela é filha do casal formado pelo homem assassinado e escondido em um freezer e pela mulher dele, que confessou o crime. "Minha dor é dupla", afirmou. O crime aconteceu em Lacerdópolis (SC).
A estudante admitiu ter tido "divergências" com o casal, mas disse que irá "lembrar dos momentos bons".
No desabafo, Gabriela diz lidar com a dor da morte do pai, mas também fala sobre a perda da mãe, presa pelo crime.
A mãe de Gabriela, a pedagoga Claudia Fernanda Tavares Hoeckler, 40, disse que tinha relação de proximidade com a filha, que seria distante do pai, o motorista Valdemir Hoeckler, 52.
Eu sei que é uma fase difícil, de todas, a mais. Mas da minha família vou lembrar dos momentos bons e das nossas risadas, embora entre nós existiam nossas diferenças e algumas divergências. Sou sincera em dizer que consegui me despedir do meu pai em paz, sei que busquei ser uma boa filha, seguindo e lutando pelo o que acredito Gabriela Hoeckler
Ciúme da filha. Antes de ser presa, Cláudia afirmou que o marido tinha ciúme até mesmo da relação de amizade que ela tinha com a filha do casal. "Às vezes, a gente tinha que fingir que brigava para ter um bom relacionamento em casa", contou.
Ela disse ainda que Gabriela decidiu se mudar quando tinha 18 anos por não aguentar a convivência em casa. "E ela nunca mais voltou. Nunca mais falou com o pai."
A jovem, segundo a pedagoga, só foi registrada por Valdemir aos dez anos. Em entrevista ao canal Beto Ribeiro, no Youtube, Claudia relatou acreditar que a jovem compreendeu a mãe.
"Eu sinto que minha filha está mais segura, entende? Eu sei que é meio louco dizer isso mas eu acho que a gente vai conseguir se ver mais e não vai ter ninguém impedindo da gente se ver", disse.
O caso. O corpo de Valdemir foi encontrado na noite do último dia 19 no freezer de sua casa. Ele estava desaparecido há cinco dias. Além de Gabriela, o motorista deixou outros três filhos, de outro relacionamento.
Claudia confessou o crime e se entregou à polícia no dia 21. Em uma entrevista publicada em vídeo, ela deu detalhes de como era o relacionamento com o marido, afirmou que sofria agressões e disse que foi ameaçada de morte antes de cometer o crime. Ela admitiu ter dado um remédio para ele dormir e asfixiado Valdemir em seguida.
Durante a entrevista, Claudia afirma que cometeu o crime após ele a impedir de ir a uma viagem com colegas de trabalho. Segundo ela, Valdemir a ameaçou de morte caso ela decidisse ir. "Dei um surto. E pensei: 'já que alguém vai morrer, que seja você [Valdemir]'."
Técnica para imobilizar gado. A pedagoga ainda afirmou que o colocou no freezer, com a intenção de escondê-lo, após enrolá-lo em um lençol. Ela ainda foi viajar com as colegas, antes de as investigações sobre o caso começarem.
Após ministrar medicamentos para que a vítima dormisse, a pedagoga contou que o imobilizou amarrando seus pés e braços com cordas.
"Ela lidou com gado de leite [antes de começar a trabalhar como pedagoga]. Então, sabia como manear uma vaca [técnica usada para imobilizar]. Ela o amarrou porque sabia que, se não conseguisse, ele poderia reagir e ela iria ser morta", disse o delegado Gilmar Antônio Bonamigo, da comarca de Capinzal (SC), município vizinho de Lacerdópolis. Ele é o responsável pela investigação do caso.
Vigília ao lado do freezer. Claudia chamou atenção de amigos pelo cuidado excessivo que tinha com o eletrodoméstico usado para ocultar o cadáver.
"Ela dormia ao lado do freezer, na sala, tinha visão no freezer. Uma vizinha ajudou na alimentação das equipes [que fizeram buscas pela vítima, até então, desaparecida] e a suspeita cuidava para que ela não fosse até o freezer. Se precisasse de alguma coisa no freezer, a suspeita buscava", contou Bonamigo, em entrevista ao UOL.
O corpo do motorista estava embaixo de refrigerantes oferecidos para os bombeiros que realizavam buscas por ele, até então considerado "desaparecido", segundo a polícia.
'Sensação de liberdade'. A pedagoga afirmou que teve uma "sensação de liberdade" após cometer o crime. "Eu vou agora cumprir minha pena, vou para cadeia, mas eu nunca me senti tão livre. [...] Eu sinto que minha filha está mais segura. Não vai ter ninguém impedindo da gente se ver. Sei que vou parar de apanhar, não sei explicar, mas é uma liberdade", disse, em entrevista ao Canal Beto Ribeiro.
"Ela era uma mulher maltratada física e psicologicamente. Por vezes, até violentada de forma sexual. E que para preservar a própria vida, matou. Hoje ela está se entregando à polícia e possivelmente vai ser presa. Mas ela deixa bem claro: nunca se sentiu tão livre", afirmou o advogado Marco Alencar, que atua na defesa da mulher.
Veja a íntegra do texto escrito por Gabriela:
Texto nenhum conseguiria descrever o que sinto agora. Minha dor é dupla, além de perder um pai, também perco uma mãe.
Estou aqui para dizer as pessoas que estão preocupadas comigo que eu vou ficar bem e que estão no meu coração. Agradeço imensamente a todos os abraços sinceros, energias positivas e todas as mensagens que recebi mas que, no momento eu não consigo responder.
Eu sei que é uma fase difícil, de todas, a mais. Mas da minha família vou lembrar dos momentos bons e das nossas risadas, embora entre nós existiam nossas diferenças e algumas divergências.
Sou sincera em dizer que consegui me despedir do meu pai em paz, sei que busquei ser uma boa filha, seguindo e lutando pelo o que acredito.
Aos que estão enchendo o coração de ódio e raiva que Deus guie para o caminho da luz. Cada pessoa tem uma visão de mundo adquirida pelo ambiente no qual nasceu e cresceu, pelas pessoas que estavam ao seu redor, as situações vivenciadas, boas e ruins. Por isso é impossível pessoas terem vidas/pensamentos iguais. O grande 'x' disso tudo é que somos responsáveis pelas nossas escolhas.
Dessa vida precisamos cultivar o que há de bom. Respeitar nosso tempo. Confiar no processo. Ter paciência e não nos cobrarmos tanto assim. Enfrentar nossos medos. Abraçar nosso caos e as nossas transformações. Manter em nossos corações pureza e verdade.
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