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Voluntário encara barro e vê corpos em decomposição no Sahy: 'Chorei muito'

21.fev.2022 - Equipes de resgate buscam por soterrados em deslizamento na Vila Sahy, em São Sebastião - Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo
21.fev.2022 - Equipes de resgate buscam por soterrados em deslizamento na Vila Sahy, em São Sebastião Imagem: Tiago Queiroz/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

23/02/2023 09h48Atualizada em 23/02/2023 10h48

O voluntário Paulo Moura, 30, que trabalha como vendedor de espetos na praia e que está desde domingo (19) em busca de desaparecidos, afirmou que ao menos cinco corpos foram encontrados ontem na Vila do Sahy, em São Sebastião.

Foi difícil de achar porque estava muito tempo embaixo de escombro, barro, árvore, laje, escada. A situação estava bem feia. Como já estava em estado de decomposição, tivemos que colocar em um saco e enrolar em um cobertor, porque o cheiro estava muito forte. Paulo Moura, voluntário.

Segundo ele, entre os corpos encontrados, estavam quatro adultos e uma criança, localizados na rua Zero, uma das regiões mais afetadas pelas chuvas.

"O tempo estava bom, o que facilitou na busca. A única dificuldade era que o barro estava muito pegajoso, mas as máquinas e os cachorros farejadores ajudaram muito."

Paulo conta que desde domingo tem ajudado pessoas a encontrarem os corpos de seus familiares. Entre as vítimas resgatadas, o voluntário diz que localizou uma criança de três anos abraçada na mãe, que estava morta, e uma pessoa soterrada debaixo de um carro, que não resistiu até que as equipes conseguissem alcançá-la.

"Eu via o que aconteceu em Brumadinho, em Petrópolis, ficava triste, mas de longe a gente não percebe o que essa situação é de verdade", afirma ele.

No segundo dia, eu chorei muito. Eu me coloquei no lugar das pessoas que perderam os seus familiares. Todo mundo merece um velório digno, merece se despedir de quem amava. É isso o que me motiva a continuar apoiando nos resgates. Voluntário Paulo Moura.

Paulo afirma que deve continuar apoiando as equipes de resgate nos próximos dias. "Se não puder subir onde foi o incidente, eu quero apoiar, seja descarregando caminhão com doação, ou levando marmita. Dá para ver pelo semblante das pessoas que elas estão sofrendo", diz ele.

No fim de semana foram mais de 600 mm, o maior volume de chuvas já registrado no país, segundo o Cemaden (Centro Nacional de Previsão de Monitoramento de Desastres). Até agora, já foram confirmadas 49 mortes.