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'Acordei com água nas costas': moradora relata medo ao ver casa alagada

Jornalista teve a casa destruída depois das chuvas no litoral norte de São Paulo - Reprodução/Instagram
Jornalista teve a casa destruída depois das chuvas no litoral norte de São Paulo Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, em São Paulo

24/02/2023 04h00

A jornalista Maria Teresa Cruz, 37, acordou com a água nas costas na madrugada de domingo (19). Ela estava deitada na cama do próprio quarto quando percebeu que a roupa estava molhada. Moradora do bairro Sertão do Cacau, na Praia de Camburi, em São Sebastião, Maria Teresa foi uma das pessoas que teve a casa alagada após as fortes chuvas que ocorreram no litoral norte de São Paulo.

Por volta das 2h30 da manhã eu senti água nas minhas costas e acordei muito assustada. Olhei para o lado e já tinham coisas minhas que ficam na cômoda boiando. A água já estava acima do joelho. Estou nessa casa desde agosto do ano passado e nunca aconteceu nada nem perto disso. Maria Teresa em entrevista ao UOL.

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Antes de a casa ficar alagada, Maria Teresa conta que estava em um bar com os amigos. Ela afirmou que o sábado de carnaval permaneceu com o tempo instável, mas que foi no final do dia que a chuva piorou.

Fomos em um bar depois do bloco. A chuva começou a se intensificar por volta das 20h. Esperamos dar uma amenizada, mas já tinha passado das 23h e não parava e nem melhorava. Era uma chuva com um vento muito forte e muito intensa.

A jornalista decidiu retornar para casa com os amigos após perceber que a chuva insistiria por mais tempo. Durante o trajeto, ela conta que as ruas já tinham pontos de alagamento.

Minha casa fica em um terreno mais alto, mas na varanda, que fica em um nível mais abaixo, já tinha pontos de acúmulo de água. Chuva forte não é uma novidade na região, mas eu jamais pensei que encheria a minha casa de água.

Ela e os amigos ficaram preocupados com o nível da água e deixaram até mesmo uma geladeira em uma posição mais alta para evitar qualquer possível dano. Após preparar a casa, ela deitou-se no quarto, e os convidados subiram para o mezanino, onde estavam hospedados. Eles acordaram com o barulho de Maria Teresa percebendo que a casa estava completamente alagada.

Ainda tínhamos internet e luz. Falei com a minha vizinha, que foi até a nossa casa e ficamos todos no mezanino até a água baixar totalmente. Descemos por volta das 14h30 do domingo (19). Ainda tinha água na minha casa, mas já dava para transitar. Não era uma água limpa, era lamacenta, suja e fedida. Era água com esgoto, porque não temos saneamento básico aqui.

Maria Teresa afirma que com o passar do tempo ela e os amigos foram perdendo o contato com outras pessoas: a luz foi cortada, bem como a internet e a rede de celular não tinham mais sinal. Só mais tarde que ela descobriu a dimensão dos estragos na cidade.

Foi uma sensação completa de impotência. Fiquei no mezanino. Não tinha o que fazer, eu tinha que ficar lá com as pessoas que estavam em casa e tentar ficar viva. E foi o que a gente fez.

Após o episódio, a jornalista diz que recebeu apoio de muitos amigos para recuperar os itens perdidos e reerguer a própria casa. Ela está alojada na casa de uma outra amiga, enquanto tenta terminar a limpeza da própria residência, que também está ocorrendo com apoio de outras pessoas.

Eu trouxe para cá essencialmente uma única calcinha porque o resto eu perdi. Trouxe um jogo de lençol, uma coberta que eu consegui salvar, um short, um top, uma blusa de frio e um biquíni. O resto das coisas recebi doação de roupa para passar esses dias e tô me virando como dá.

Segundo Maria Teresa, ainda há muitas dificuldades para acessar o básico na cidade e o deslocamento só se dá a pé e de bicicleta.

A água fica oscilando e pra a limpeza acaba sendo complicado. Na minha vizinhança, vemos montanhas de móveis que viraram lixo. A água da torneira está marrom, não dá pra usar para cozinhar, tem que ser mineral, mas quando ela chega temos que selecionar se vamos cozinhar ou beber.

Apesar das dificuldades, a jornalista afirma que está recebendo muito apoio dos amigos.

O volume de chuva registrado em São Sebastião e Bertioga ultrapassou os 600 mm em menos de 24 horas, o que é considerado um "evento climático extremo". É o volume de chuvas recorde registrado em um só dia no Brasil. Ao menos 49 pessoas morreram.

Ao redor de todo o país, pessoas e organizações têm arrecadado doações para os atingidos. Saiba onde doar.