Sahy: 'Cachorro passou boiando pela janela, cansado de nadar, e o puxamos'
Um cachorro foi salvo em meio à tragédia no litoral norte de São Paulo graças à ação rápida de um grupo de amigos na Vila Sahy, em São Sebastião.
O animal foi resgatado na madrugada de domingo, 19, quando foi visto boiando em direção à janela de uma casa que por pouco não foi completamente destruída.
O vendedor de açaí Renato Cesar Alves, de 34 anos, conta que, na noite de sábado, ele e um grupo de amigos que moram no pé de um morro na Vila Sahy decidiram não sair de casa para curtir o Carnaval porque chovia forte.
Por volta das 3 horas da madrugada, acordaram assustados. A água já havia invadido a sala, apesar de a casa ter sido construída em nível elevado.
O grupo se abrigou no andar de cima e esperou a chuva passar. Enquanto isso, ouviam estrondos e pedidos de socorro. Um cachorrinho foi visto boiando quando abriram a janela, em meio à escuridão, já cansado de tanto nadar.
O cachorro passou boiando. Olhamos pela janela e o puxamos. Ele já estava quase morrendo, cansado
Renato Alves
Do chão até a janela, onde o cachorro foi resgatado, a altura é de 2,5 metros.
Alves fez um vídeo naquela madrugada para mostrar o cenário de destruição aos pais, que moram na capital. Ele temia não conseguir escapar da inundação — e queria avisar os parentes sobre o que estava acontecendo.
Apenas pela manhã teve noção do tamanho da tragédia. Quando voltou a olhar pela janela, viu um corpo descendo em meio ao lamaçal.
"Aguardamos sem dormir, com medo de a casa cair, ouvindo os estrondos, a correnteza era forte. Ouvimos gente pedindo socorro na madrugada. Quando amanheceu, vi um corpo descendo. E a água ainda batia na nossa cintura", disse.
Era uma pessoa morta, cheia de lama, deu para ver o pé passando junto com os troncos
Renato Alves
Horas depois, ele e os amigos estavam na linha de frente das buscas por vítimas, cavando os escombros com as próprias mãos.
No total, já são 48 mortos na tragédia e há pelo menos 57 pessoas desaparecidas no litoral norte — a Barra do Sahy foi a área mais afetada.
'Estamos sem trabalho'
Além das vítimas, os prejuízos materiais ainda estão sendo calculados.
Vários eletrodomésticos da casa de Alves ficaram destruídos.Ele voltou para a casa onde mora, mas tem medo de que uma nova chuva a jogue abaixo.
A região está praticamente ilhada — a chegada à Vila Sahy só é possível por meio de barco ou helicóptero, afirma. O som das aeronaves é constante. "É barulho de helicóptero o dia todo, a madrugada toda."
"Estamos sem trabalho, não tem como ganhar dinheiro, não tem lugar para comprar mantimentos. Um pacote de arroz estava 20 reais." Ele tem acesso apenas à água mineral arrecadada em doações.
"Não tem um pingo de água [nas torneiras], não tomei banho, só lavo as pernas com água mineral porque a água está toda contaminada, não tem saneamento."
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