'Menos um fazendo o L': o que falta a polícia descobrir sobre atropelamento

A Polícia Civil ouvirá, nos próximos dias, mais testemunhas para decidir se indiciará Christopher Gonçalves Rodrigues por homicídio doloso (intencional) ou culposo (acidental), pela morte de Matheus Campos Silva — jovem atropelado e suspeito de furtar um celular. O caso ganhou repercussão após o atropelador gravar um vídeo dizendo "menos um fazendo o 'L'" (símbolo usado pelos eleitores de Lula).

Os próximos passos da investigação

Serão ouvidas duas pessoas que estavam no carro em que houve o furto. O motorista de aplicativo que teve o seu celular roubado segundos antes de Matheus, 21, ser atropelado por Christopher, 27, depôs ontem e, segundo o delegado Percival Alcântara, titular do 5º DP (Aclimação), o relato foi fundamental para a Polícia Civil convocar novas testemunhas.

O delegado quer saber se elas confirmam ou não a versão do motorista furtado e se viram o momento em que Matheus foi atropelado. E também se viram o Christopher gravando os vídeos debochando da situação.

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Outra dúvida da polícia é se Christopher prestou socorro após atropelar Matheus. Isso também será perguntado para as novas testemunhas.

O atropelador teria tentado parar uma ambulância, segundo relato. "Uma das testemunhas do carro sai e, junto com Christopher, tentam parar uma ambulância, que não para porque já estava com um paciente. Depois eles tentam parar uma viatura da GCM e conseguem", contou o delegado.

A polícia investiga a morte como homicídio doloso ou culposo, com agravantes de incitação ao crime e uma possível omissão de socorro. O caso não foi considerado como legítima defesa de terceiros — quando uma pessoa age para salvar a vida de outra durante um furto/roubo.

Ainda não se sabe se Christopher será ouvido novamente. Tudo dependerá do depoimento das novas testemunhas.

Estamos aguardando os laudos, do Instituto de Criminalística, referente ao acidente, e do IML, que é a necropsia. Vamos ouvir mais duas ou três testemunhas e, desse conjunto comprobatório, a Polícia Civil vai precisar a conduta do Christopher."
Percival Alcântara, delegado

O delegado afirmou que as imagens de Christopher debochando de Matheus ainda vivo e pedindo socorro são "absurdas".

O que diz a vítima do furto

O motorista que teve o celular furtado não conseguiu descrever o rosto de quem levou o telefone, segundo a polícia.

Disse que estava parando o carro quando alguém "entrou com o corpo, puxou o celular e saiu correndo", detalhou o delegado. O boletim de ocorrência registra esse caso como furto.

Segundo o motorista, o intervalo entre o furto do celular e o atropelamento foi curto, de "dois a cinco segundos" — o que teria dificultado o reconhecimento.

A testemunha afirmou que a única pessoa que andava entre os carros era a vítima do atropelamento.

Conforme o delegado, o celular foi encontrado próximo ao corpo de Matheus.

O que diz a família de Matheus

A primeira versão apresentada para a família era a de que Matheus teria morrido em um acidente comum de trânsito e que o autor teria fugido.

Durante o enterro, os familiares receberam vídeos que mostram a vítima pedindo socorro e Christopher debochando da situação.

Os vídeos começaram a circular em grupos de motoristas de aplicativo, segundo as irmãs da vítima. Paloma Campos Santiago e Talita Mayara estiveram na delegacia na última quarta-feira (3).

Ele teve a intenção de matar meu irmão. Ele nem sabia o que estava acontecendo e se meu irmão tinha roubado celular. Ele simplesmente veio, atropelou e ficou debochando da situação".
Paloma Campos Santiago, irmã de Matheus, no UOL News

O que diz a defesa de Christopher

Ele é um rapaz jovem e, tal qual a maioria da população que vive em São Paulo, está cansado de tanta violência. No meu ponto de vista não foi incitação ao crime. Foi um desabafo de um rapaz que está cansado de tanta violência. Foi um vídeo infeliz."
André Nino, advogado de defesa de Christopher

André Nino assumiu a defesa ontem. Ele foi à delegacia que investiga o caso e afirmou que ainda não tem "nenhuma estratégia" porque tomou conhecimento do caso hoje.

Christopher não sabia que Matheus era suspeito de um furto no momento do atropelamento, disse o advogado.

Somente depois que o rapaz estava debaixo do carro que a vítima [do furto] se aproximou e informou que ele tinha roubado o telefone do painel do carro."
André Nino, advogado de defesa de Christopher

Sobre os deboches de Christopher, o advogado afirmou que "vai depender muito da interpretação do delegado". A Polícia Civil vai investigar se houve incitação ao crime por postagem nas redes sociais do atropelador.

Por tudo que eu tive acesso, não demonstra que foi intencional, porque ele só tomou conhecimento do furto após o acidente."
Advogado de defesa