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Medo do PCC e fugas: como vivia garoto de programa que diz ter matado nove

O garoto de programa Renato Teixeira da Silva, 35, diz ter matado nove pessoas. Ele foi indiciado por três homicídios e preso no dia 5 de julho em SP - Reprodução
O garoto de programa Renato Teixeira da Silva, 35, diz ter matado nove pessoas. Ele foi indiciado por três homicídios e preso no dia 5 de julho em SP Imagem: Reprodução

Do UOL, em São Paulo

08/07/2023 04h00Atualizada em 10/07/2023 18h09

Um garoto de programa, que afirmou ter cometido nove assassinatos nos últimos 15 anos ao ser preso na última quarta-feira (5), fugiu da polícia e até do PCC após ser acusado de matar uma namorada a facadas em novembro de 2021 em Pirituba, zona norte de São Paulo.

O que aconteceu

Renato Teixeira da Silva, 35, foi indiciado por cometer um feminicídio no mesmo bairro onde foi criado. E, desde então, passou a receber ameaças da facção criminosa paulista, já que a região é considerada área de atuação do PCC, segundo pessoas próximas.

Depois do feminicídio, Renato não voltou mais para o bairro e passou a enfrentar dificuldades financeiras. Ele então pediu ajuda financeira do pai, por intermédio de um conhecido. A família dele acredita que a situação pode ter levado Renato à prostituição.

O meu filho não podia ficar na rua na situação em que estava, correndo o risco de ser morto. Preso, ele vai pagar pelos erros que cometeu."

Renato sempre teve várias namoradas. Acho que se envolveu com outros homens por causa da situação financeira dele [em referência ao fato do filho ter se tornado garoto de programa]."
Reinaldo José Teixeira, pai de Renato

'Ele saiu mais revoltado da cadeia', diz pai

Renato tem dois irmãos, já trabalhou como segurança e ajudava o pai em uma oficina de funilaria e pintura em Pirituba. Mas nos últimos anos passou a se sustentar como garoto de programa, cobrando até R$ 300 dos clientes.

Condenado por dois roubos, Renato ficou preso de 2011 a 2021. Ele deixou a prisão com tornozeleira eletrônica e, depois de romper o equipamento, passou a ser considerado foragido. Pai do garoto de programa, o comerciante Reinaldo José Teixeira, 58, diz que o filho saiu da prisão ainda mais revoltado.

Reinaldo diz que o filho lia a Bíblia e escrevia cartas semanais para a família quando estava preso. Mas a experiência atrás das grades serviu como uma espécie de gatilho para agravar os problemas emocionais que ele já tinha, diz o pai.

Ele [Renato] sempre foi problemático, nervoso e não podia ser contrariado. A gente até parava de discutir, porque ele se transformava. Mas a cadeia virou a cabeça dele. Eu conversava, pedindo para ele mudar. Não adiantava. Os outros detentos debochavam e ele se irritava fácil, porque se sentia menosprezado. Ele saiu mais revoltado da cadeia."

Um dos momentos mais críticos foi quando Renato teve tuberculose na prisão, diz o pai. "Ele passou por muito sofrimento e emagreceu. Dava para ver os ossos do rosto dele. Achei que ele fosse morrer."

Reinaldo disse ainda que o filho já demonstrava ter problemas desde a infância. "A gente tomava cuidado para falar, porque ele sempre parecia meio alterado. Ele chutava as coisas, dava soco nas paredes, começava a tremer e ficava vermelho. Levamos até no psicólogo quando ele era pequeno, mas não adiantou", conta.

A cronologia dos crimes

Até o momento, o garoto de programa é apontado pela polícia como autor de três mortes. São elas:

  1. Iraildes Sousa Silva, 49;
  2. José Roberto Campanaro, 59;
  3. Mário Marchiani, 60.

Iraildes foi morta a facadas em novembro de 2021. O garoto de programa confessou o crime em post nas redes sociais. No dia anterior, havia sido expulso da casa dela após ser acusado de ter assediado uma das filhas da namorada, que tinha apenas 16 anos na época. O crime ocorreu apenas dois meses após Renato romper uma tornozeleira eletrônica e passar a ser considerado foragido pela Justiça.

Após ser acusado de matar Iraildes, o garoto de programa foi indiciado por outro assassinato. O cabeleireiro José Roberto Campanaro, 59, foi morto a facadas em julho de 2022 no sobrado de dois pisos onde morava em Santo André, na Grande São Paulo. O imóvel onde ocorreu o crime foi colocado à venda nos últimos dias pela família.

O corpo de Beto, como era conhecido na região onde morava, foi encontrado duas semanas depois em avançado estado de decomposição em uma cama. Ele usava apenas cueca e uma camiseta.

Vizinha de Beto, a comerciante Márcia Moraes disse já ter visto o garoto de programa na rua com o cabeleireiro dias antes do crime. "Mas não sabia que ele tinha sido o autor do crime. O Beto sempre foi muito discreto em relação à vida pessoal dele."

Mário Marchiani foi assassinado no dia 2 de dezembro de 2022 em uma casa onde Renato costumava receber clientes em São Bernardo do Campo, também na Grande São Paulo. Em depoimento, o garoto de programa disse que cometeu o crime porque a vítima teria dito que queria consumir entorpecentes.

Há apenas três semanas, o garoto de programa disse ter ateado fogo no imóvel de uma ex-namorada na zona norte de São Paulo após um desentendimento. Ela procurou a Polícia Civil e identificou Renato como o autor dos crimes.

Ele disse: 'matar é uma coisa normal para mim' e que cometia os crimes porque não podia ser contrariado. Narrou os crimes com frieza em depoimento e não demonstrou nenhum tipo de arrependimento.
Roberto Krasovic, delegado do 6º DP de São Bernardo do Campo

Ele foi indiciado por três homicídios, mas disse ter cometido outros seis. Agora, estamos investigando para apurar se houve outros crimes.
Giuliano de Migueli, delegado-assistente do 6º DP de São Bernardo do Campo