Após ataque em escola de SP, posts sobre atirador continuam no ar
Publicações do adolescente que matou uma estudante e feriu outras duas num ataque a tiros na escola estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, continuam sendo disseminadas nas redes sociais.
O que aconteceu
Desde segunda-feira (23), fotos e vídeos antigos do adolescente autor do ataque são divulgados em diferentes perfis do Instagram, TikTok e X (ex-Twitter). Gravações feitas durante o episódio violento também são compartilhadas e algumas delas não haviam sido derrubadas até ontem à noite pelas plataformas.
A Delegacia de Crimes Cibernéticos de São Paulo afirma que apura o vazamento de imagens e mantém contato com as redes sociais. "A autoridade policial já solicitou a derrubada de um perfil que divulgava os vídeos no Instagram e aguarda a manifestação da rede social", diz nota enviada ao UOL pela SSP (Secretaria da Segurança Pública).
O conteúdo, entretanto, não é restrito a apenas uma conta das redes sociais. Há uma infinidade de materiais referenciando e, em alguns casos, cultuando o adolescente. O jovem também tem publicações de cunho racista e neonazistas.
Imagens do adolescente sofrendo agressões físicas viralizaram em maio e voltaram a repercutir nessa última semana. Mesmo com o aumento nas visualizações, chamando atenção das plataformas digitais, os conteúdos continuam sendo disponibilizados e são facilmente encontrados.
A falta de regulação nas mídias é criticada por especialistas. As empresas afirmam que excluem publicações que disseminam o ódio e que suas diretrizes são rígidas. Na prática, porém, não é isso que tem acontecido.
Estado omisso?
Na gestão passada do governo de São Paulo, havia monitoramento das redes sociais de alunos da rede de ensino para combater violência. O trabalho começou após o ataque na escola Raul Brasil, em Suzano (SP), em 2019.
A reportagem questionou se a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) mantém o trabalho, mas não teve uma resposta específica sobre o monitoramento. "Quando uma situação de risco potencial é identificada, seja no ambiente escolar ou em redes sociais, as autoridades policiais são imediatamente comunicadas."
Sobre as publicações apontadas pelo UOL, a Secretaria da Educação disse que elas estão sob investigação da polícia.
Já o governo federal anunciou que fará investimentos e ações para combater a violência no ambiente escolar. O Ministério da Educação, entretanto, ainda não divulgou uma estratégia nacional, nem o relatório final feito pelo grupo de trabalho sobre o tema.
Um grupo de trabalho interministerial foi criado em abril deste ano com especialistas e representantes de diferentes pastas. A equipe tem se reunido, desde então, para desenvolver estratégias de prevenção e enfrentamento da violência nas escolas.
O grupo de trabalho interministerial tem se reunido para desenvolver estratégias de prevenção e enfrentamento da violência nas escolas, promovendo uma coordenação das ações já executadas pelo governo e elaborando novas ações. Além dos oito ministérios e secretarias, o GTI conta com a colaboração da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e já consultou dezenas de especialistas da sociedade civil.
Ministério da Educação
A pasta afirmou também que uma portaria do ministro Camilo Santana prorrogou a entrega do relatório final por 30 dias — ou seja, para meados de novembro. "Tão logo o trabalho esteja concluído, haverá ampla divulgação à sociedade", disse o MEC.
'Plataformas são responsáveis', diz especialista
Se os algoritmos são capazes de identificar as opções de consumo de cada usuário, é impossível que não identifiquem vídeos pautados em discursos de ódio. As plataformas são responsáveis diretamente por esses ataques, porque são coniventes com a prática.
Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP
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Quero receberO especialista afirma que o problema também deve ser discutido no ambiente escolar e na sociedade para ser solucionado. Cara liderou a produção de um relatório feito no governo de transição sobre o tema.
Reportagem do UOL mostrou que mais da metade dos ataques que ocorreram nos últimos 20 anos aconteceram em 2022 e 2023. O levantamento leva em consideração os episódios de violência cometidos por alunos ou ex-alunos das instituições de ensino, com a intenção de causar morte e que tenham sido planejados.
O que dizem as plataformas
Procurada, a Meta, responsável pelo Instagram e outras redes sociais, disse que não permite conteúdos que promovam ou incitam violência. "Estamos colaborando com as autoridades nos termos da lei", afirma.
O TikTok adota o mesmo discurso e afirma que em suas diretrizes qualquer conteúdo de "desinformação que possa prejudicar processos cívicos, como eleições, ou conteúdo que incite à violência é removido". A plataforma diz ainda que os próprios usuários podem denunciar vídeos que violem as regras.
A empresa diz contar com profissionais na equipe de segurança que analisam os conteúdos e adotam medidas para encontrar conteúdos de ódio. O TikTok não explicou, entretanto, porque há vídeos antigos e atuais do adolescente suspeito disponíveis na plataforma.
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