'Cochilei na piscina': cidade do recorde de 44,8ºC apela para não derreter
Vale tudo para sobreviver ao calorão em Araçuaí (MG), a cidade onde os termômetros marcaram incríveis 44,8ºC no domingo —a temperatura mais alta da história do Brasil, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). Quem estava lá fez seus "corres" para não morrer de calor.
Naquele domingo, enquanto muitos ficaram "assando" em casa, Bruna Ramalho, 39, caçou logo um pagode —para se refrescar e, de quebra, se divertir. É que o ar-condicionado geladinho do pagode compensa o fervo de pessoas dançando.
"Tinha um pagode acontecendo no dia, em um salão climatizado. Como gosto muito, eu fui. Muitos bares e restaurantes aqui são climatizados", explicou a assistente administrativa.
Também é comum que os moradores deem um pulo na cidade vizinha, Coronel Murta, só para se refrescar em um bar na beira do rio. Longe do mar e sob clima semiárido, Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, tem calorão na maior parte do ano.
Nos dias anteriores ao recorde histórico, a cidade já registrava temperaturas na casa dos 40ºC e continua com os termômetros nas alturas. O clima por lá é de "um sol pra cada um".
Quando a situação piora, nem a climatização artificial segura a onda da cidade.
Gislaine Pereira, 32, não conseguia sequer trabalhar direito. "Nem o ar-condicionado estava dando conta", diz ela, auxiliar de saúde bucal em uma clínica odontológica. No domingo que virou uma sucursal do inferno, ela bebia um copo de água atrás do outro.
"Nesse dia, a sensação de calor foi muito grande. Para suportar, evitei me expor ao sol, bebi muita água gelada e tomei vários banhos."
O DJ Maikon Miranda, de 23 anos, foi para um clube da cidade e ficou na piscina. Claro que ele não foi o único a ter essa ideia. "Estava lotado. Lá são cinco piscinas e todas estavam cheias."
Era só colocar o pé fora da água que a agonia voltava em forma de baforadas quentes. "Quando estava dentro da piscina, refrescava. Mas, quando saía, queria voltar de novo."
Já Andrea dos Santos, 44, preferiu o isolamento: fez o seu próprio "spa", que mais parecia uma sauna. "Não saí de casa, fiquei reclusa, comendo muita fruta. Ao entardecer, enchi a piscina e fiquei de molho. Até cochilei lá dentro."
E o verão?
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Quero receberA onda de calor que chegou ainda na primavera faz crescer a preocupação dos moradores de Araçuaí com o verão. Muitos deles pensam em comprar um ar-condicionado para sobreviver.
"Pretendo comprar ar-condicionado e ventilador, já que inclusive um dos ventiladores deu problema por uso contínuo. Estou esperando para ver se aparece um ar na Black Friday", contou Andreia.
Bruna se preocupa com a saúde. "As pessoas estão adoecendo. Quem não tem condições de ter ar-condicionado em casa não descansa e nem dorme. Acho que esse verão será muito quente, infelizmente."
"Araçuaí não estava preparada para temperaturas tão elevadas. Na nossa região, não podemos considerar luxo um ar-condicionado, mas uma necessidade", diz Gislaine. Procurada sobre planos para o verão, a Prefeitura de Araçuaí não retornou.
Por que tão quente?
Araçuaí é uma cidade de 34 mil habitantes no Vale do Jequitinhonha, próxima da Bahia. Toda a região possui um clima mais árido, com picos de calor ao longo do ano. O município está no chamado Vale do Lítio — e tem na mineração uma importante atividade econômica.
As medições na estação convencional, começaram em 1918 na cidade, segundo o Inmet. A temperatura registrada no domingo é a maior em 105 anos.
Segundo o Inmet, o recorde de calor anterior era de 2005. No dia 21 de novembro daquele ano, a cidade de Bom Jesus (PI) havia registrado 44,7ºC, de acordo com a medição do instituto.
Brasil já teve 8 ondas de calor no ano
Segundo o Inmet, esta foi a oitava onda de calor no país em 2023. As mais longas foram a última, que se estendeu de 8 a 19 de novembro, e a onda de setembro, que foi dos dias 18 a 29 daquele mês. Ambas tiveram 12 dias de duração.
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