Como esquema suspeito de desviar químico para crack usava multinacionais
A empresa Anidrol, que tem Renato Cariani entre seus sócios, teria emitido notas fiscais no nome de grandes empresas para disfarçar o desvio de produtos químicos usados na produção de drogas — entre elas o crack.
Entre os "laranjas" estava a AstraZeneca, que nega ter feito qualquer tipo de negociação com a Anidrol. Augusto Guerra teria sido o intermediário dos depósitos de dinheiro, mas a biofarmacêutica afirma nunca ter tido um colaborador com esse nome.
A AstraZeneca mostrou que o IP utilizado por Guerra aparece como de sua própria titularidade, desvinculado da empresa. E-mails trocados entre ele e a Anidrol faziam parte das notificações enviadas à farmacêutica.
Em 2019, a AstraZeneca pediu que a PF abrisse uma investigação depois de ser questionada pela Receita sobre depósitos que teria feito à empresa de Cariani. O órgão questionava dois repasses não declarados, nos valores de R$ 103,5 mil e R$ 108,5 mil, em 2015 e 2016.
A empresa do influenciador teria informado à Receita que vendeu cloreto de lidocaína para a AstraZeneca, mas a biofarmacêutica nega. "A AstraZeneca nunca manteve qualquer relação comercial com a empresa Anidrol, a qual não está cadastrada na relação de fornecedores da AstraZeneca, o que impede que qualquer pagamento tenha sido realizado em seu benefício", disse.
A investigação começou em 2019 e, no total, foram identificadas 60 transações vinculadas ao desvio de químicos. São aproximadamente 12 toneladas de produtos (fenacetina, acetona, éter etílico, ácido clorídrico, manitol e acetato de etila), o que corresponde a mais de 19 toneladas de cocaína e crack prontas para consumo, segundo a PF.
Os envolvidos empregavam diversas metodologias para ocultar a procedência ilícita dos valores recebidos. Segundo a Polícia, os investigados poderão responder pelos crimes de tráfico equiparado, associação para fins de tráfico e lavagem de dinheiro. As penas, somadas, ultrapassam 35 anos de reclusão.
Cariani teve prisão negada
A Anidrol foi alvo de uma operação de busca e apreensão da PF, na manhã de ontem. A indústria farmacêutica é sediada em Diadema, na região metropolitana de São Paulo.
O Ministério Público pediu a prisão de Renato Cariani, mas a Justiça negou. O delegado do caso afirma que todos os sócios da empresa sabiam do desvio de produtos.
Na Receita Federal, ele aparece como sócio da empresa, ao lado de outra pessoa. O capital social da empresa é de R$ 500 mil.
Segundo a PF, o esquema abrangia a emissão fraudulenta de notas fiscais por empresas licenciadas a vender produtos químicos em São Paulo, usando "laranjas" para depósitos em espécie, como se fossem funcionários de grandes multinacionais.
Cariani disse em suas redes que recebeu com "surpresa" a operação da PF e que a empresa trabalha de forma "totalmente regulada". O UOL tentou contato com a Anidrol por meio dos contatos no site da empresa, mas não obteve retorno.
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