Ei, Manoel Carlos! Colegas de trabalho, elas descobriram que são irmãs

A técnica de enfermagem Pamela Metz, de 36 anos, soube já adulta que tinha uma irmã chamada Priscila, e essa era a única informação que tinha sobre ela.

No início da pandemia, na linha de frente contra a covid-19, ela precisou passar por um treinamento de UTI em Porto Alegre - ela morava em São Leopoldo, na região metropolitana.

Naquele ambiente, Pamela descobriu que a sua "madrinha" no trabalho era sua irmã perdida. Priscila nem sequer sabia da sua existência. Ao UOL, ela conta sobre o reencontro:

'Sempre soube que meu pai tinha outros filhos'

"Do casamento dos meus pais, sou eu e mais três irmãos. Eu sou uma das filhas do meio. A gente sempre soube que meu pai tinha outros filhos, tanto de relacionamentos antes da nossa mãe, quanto de extraconjugais durante o casamento deles.

Mas dessa menina que eu encontrei, a Priscila, nós não sabíamos da existência dela. Só meu pai e a minha mãe que sabiam, e eles optaram por não contar para nós quatro. A gente descobriu em 2016, em um aniversário de uma das netas do meu pai, em uma conversa em família.

Apesar de morar em São Leopoldo (RS), eu trabalhava como técnica de enfermagem na unidade de internação do Hospital Cristo Redentor, em Porto Alegre, que é do Grupo Hospitalar Conceição. A Priscila trabalhava em outra unidade do GHC.

Durante a pandemia, em abril de 2020, o meu setor fechou porque recebia muitas cirurgias eletivas (não consideradas de urgência), e teve uma redistribuição do pessoal. Eu fui realocada para a UTI e tive que fazer um treinamento, porque na pandemia tinha toda uma estrutura diferente do que nós estávamos acostumados a atender.

A gente chama esse treinamento de 'sombra': eles pegavam alguém que já entendia daquele atendimento e essa pessoa apadrinha alguém novo na equipe, que fica de 'sombra' dele.

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No dia que cheguei, a Priscila foi direcionada como a minha madrinha e eu fiquei de sombra dela.

'Ela saiu da sala em choque'

No terceiro dia de treinamento, nós estávamos conversando sobre uma situação que aconteceu com um enfermeiro que trabalhava com a gente. O assunto era sobre mistura de raças, porque tanto eu, quanto ela, somos pretas de pele clara.

Depois da descoberta, elas viraram amigas
Depois da descoberta, elas viraram amigas Imagem: Arquivo Pessoal

Ela disse que era dessa cor porque o pai era branco e a mãe era preta retinta, eu falei que comigo era a mesma mistura. E aí ela disse que o pai dela era de Encantado (RS), a cidade do meu pai.

Perguntei se ela conhecia a cidade e brinquei: 'vai ver, você é filha do meu pai, porque ele tem um monte de filho por aí'.

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Quando eu falei que o nome dele era Ivan Rosa, ela saiu da sala em choque. Foi onde caiu minha ficha e eu lembrei da conversa no aniversário da minha sobrinha, que eu fiquei sabendo que tinha uma irmã chamada Priscila.

Eu estava de frente para uma Priscila, que o pai é de Encantado, e que quando ouviu o nome do meu pai saiu correndo. Só podia ser ela. Depois, batemos as informações e descobrimos que era ela mesma. Eu sabia que ela existia, mas ela não sabia de mim.

'Hoje somos amigas'

Ela não tinha notícias da família do nosso pai, não sabia se ele já era casado ou se teve outros filhos. Ele conviveu com a Priscila até os sete anos de idade dela, depois foi embora e cortou vínculo.

A Priscila não tinha ideia de onde ele poderia estar, se ela tinha irmãos por perto. Imaginava que, se tivesse, seria pela região de Encantado - não perto da capital.

A Priscila é quase três anos mais velha que eu. Na época que nos encontramos, nosso pai ficou muito surpreso e pediu perdão. Ele não imaginava e se arrepende de ter se afastado, porque ele não precisava ter cortado relações com a filha.

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Poderia ter continuado a conviver com ela, até para os irmãos não perderem o vínculo — que só agora, depois de adultos, estamos estabelecendo. Hoje nós somos amigas. Em agosto, perto do Dia dos Pais, conseguimos nos encontrar na minha casa, fizemos um jantar com nosso pai e um dos nossos irmãos.

Não conseguimos nos ver sempre porque não trabalhamos mais no mesmo grupo, ela está em outro hospital, mas conversamos bastante por WhatsApp duas, três vezes por semana. Foi maravilhoso ter encontrado ela.

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