'Caçador de torturadores': o brasileiro que salvou 2 mil vidas em ditaduras

Conhecido como o "caçador de torturadores e assassinos" latino-americanos que se refugiaram no Brasil, Jair Krischke é referência mundial em direitos humanos. Natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, o brasileiro ajudou a salvar duas mil vidas das ditaduras do continente.

Quem é Jair Krischke:

Interesse pelo assunto começou há mais de 60 anos. Krischke nasceu em 1938, em Porto Alegre, se formou em História pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e começou a se envolver com direitos humanos em 1961.

Desde então, construiu sua carreira "caçando" torturadores na América do Sul. Durante toda sua vida, ele trabalhou para criar uma rede de pesquisadores e informantes que colaborou para esclarecer mortes, desaparecimentos e sequestros ocorridos entre 1960 e 1980.

Referência no tema. Apesar de não ter pegado em armas e nem ter sido preso durante o período da ditadura militar brasileira, Krischke teve um papel fundamental na militância política da época, tornando-se um símbolo da luta contra o regime e referência em direitos humanos.

Fundou, em 1979, o MJDH (Movimento de Justiça e Direitos Humanos). A atuação — na clandestinidade — do grupo de militantes no período das ditaduras do continente latino-americano "contribuiu para a preservação da vida de milhares de perseguidos políticos", diz o site do MJDH.

Foi colaborar do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados). Naquele período, a principal missão de Krischke com o MJDH era proporcionar asilo ou o exílio às vítimas da perseguição, e isso era feito em colaboração com o Acnur.

Investigou a Operação Condor, uma aliança entre as ditaduras da América do Sul durante os anos 1970. Em 2012, durante um seminário promovido pela Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, Krischke apresentou documentos que demonstravam a colaboração entre os governos brasileiro e argentino na prisão de militantes de esquerda.

Além do Brasil, também atuou na Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai. Segundo o jornal O Globo, ele guarda mais de 100 caixas de documentos que comprovam crimes cometidos na época e também a participação de militares de Brasil, Argentina, Chile e Uruguai na Operação Condor.

Acompanhou diversos processos legais. Krischke teve, por exemplo, uma atuação importante no desfecho do sequestro dos uruguaios Universindo Díaz e Lilian Celiberti por militares do país vizinho em colaboração com autoridades brasileiras, em 1978, em Porto Alegre. Ele também investigou e registrou outros tantos casos semelhantes, construindo um arquivo valioso.

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Reconhecimento

Em 2011, foi contemplado pelo Senado com a Comenda de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara. O título é destinado àqueles que ofereceram uma contribuição importante para os direitos humanos no Brasil.

Quem trabalha com direitos humanos é sempre uma pessoa muito imbuída de esperança. É uma necessidade nossa ter esperança de que vale a pena.
Jair Krischke ao Instituto Humanitas Unisinos

Já foi chamado como testemunha nos processos contra o Plano Condor na Itália e na Argentina, e suas pesquisas e documentos são utilizados por agências da ONU.

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