Suspeito de vazar fotos íntimas de colegas perde cargo em prisão de SP

O supervisor técnico de agentes penitenciários do CDP (Centro de Detenção Provisória) de Mauá perdeu o cargo e foi transferido após ser acusado de vazar fotos íntimas de colegas servidores em um grupo de WhatsApp.

O que aconteceu

Número 2 no CDP, Valdir Saes Rodrigues Junior, 47, usava o celular no interior da prisão, apesar de proibido. Uma resolução de 2009 só permite o uso do aparelho ao diretor-geral do CDP, cargo hoje ocupado por Vinícius Hilário Costa Lopes. Apesar disso, o então supervisor "transitava livremente na unidade prisional ostentando seu aparelho celular", diz uma denúncia protocolada na SAP (Secretaria de Administração Penitenciária).

Era do celular que Junior encaminhava mensagens "com conteúdo pornográfico", conforme a denúncia. Membros do grupo gravaram a tela do celular com as conversas do então supervisor no WhatsApp em horário de expediente.

Outro lado: a reportagem procurou o ex-supervisor Junior por celular, mas ele não respondeu até a publicação desta reportagem. Também foi solicitada à SAP uma entrevista com Junior e com o diretor-geral do CDP de Mauá, mas sem retorno.

Valdir Saes Rodrigues Junior, ex-supervisor do CPD de Mauá
Valdir Saes Rodrigues Junior, ex-supervisor do CPD de Mauá Imagem: Reprodução

Junior, segundo conversas a que o UOL teve acesso, compartilhou vídeos e dezenas de fotos de um casal, principalmente da mulher. As imagens dos colegas já haviam sido vazadas em outro local e chegaram até Junior. Após ele receber, o assunto passou a ser tratado no grupo interno do CDP de Mauá.

As imagens foram acompanhadas de mensagens por áudio. "Você viu que cantou o bonde do swing? Da hora hein mano", diz ele sobre as fotos que mostram o casal em cenas de sexo.

Entre as postagens, os denunciantes identificaram fotos íntimas e comentários impróprios sobre os corpos de colegas.

Junior compartilhou imagens de uma jovem do CDP usando biquíni, postadas nas redes sociais. "Conhece?", pergunta ele no grupo, completando com mensagens com teor de assédio sexual.

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Ex-supervisor compartilhou fotos de jovem de biquíni
Ex-supervisor compartilhou fotos de jovem de biquíni Imagem: Reprodução

Junior também fez piada com uma funcionária, que registrou um boletim de ocorrência em 19 de janeiro. Na conversa, ele posta uma foto de uma idosa de biquíni e pergunta para outra pessoa com quem ela se parece. O outro afirma que lembra a colega de trabalho. Junior responde com mensagens com teor de assédio sexual.

Mais mensagens com teor de assédio sexual enviadas pelo então supervisor do CDP de Mauá
Mais mensagens com teor de assédio sexual enviadas pelo então supervisor do CDP de Mauá Imagem: Reprodução

A divulgação de cenas íntimas, nudez ou ato sexual sem autorização pode dar cadeia. A pena prevista é de 6 meses a 1 ano de detenção e multa. Mas um projeto de lei aprovado na Câmara em dezembro do ano passado aumenta a pena de reclusão para 1 a 4 anos, além da multa. O projeto aguarda votação no Senado.

Servidor perdeu cargo

Junior perdeu o cargo de supervisor e foi transferido de unidade. O Diário Oficial do dia 17 informa que ele agora trabalha no Centro de Detenção Provisória "Dr. Calixto Antonio" de São Bernardo do Campo, perto de sua casa.

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A perda do cargo foi publicada no Diário Oficial do dia 26. Questionada, a SAP não disse qual cargo Junior passará a ocupar e qual será o seu salário. Informou apenas que ele agora "não recebe a comissão correspondente ao cargo perdido", sem informar valores. Também não respondeu sobre suposto favorecimento ao suspeito, transferido para trabalhar perto de sua casa, que fica a aproximadamente 3,6 km do local.

Procurada para comentar o processo e o vazamento das fotos, a SAP disse que investiga. "A Secretaria instaurou uma Apuração Preliminar no último dia 12 sobre as denúncias que envolvem o Centro de Detenção Provisória de Mauá e o servidor citado pela reportagem", diz em nota.

Funcionários enviaram ao secretário da SAP, Marcello Streifinger, uma carta de repúdio contra o diretor-geral do CDP de Mauá, no dia 30 de janeiro. Afirmam que "o Sr Vinicius expressa sua revolta em meio aos corredores da unidade jurando vingança a quem denunciou o fato".

Outro lado: procurado por celular e por meio da SAP, o diretor-geral não respondeu até a publicação desta reportagem.

Presos sem socorro

Um processo na Justiça acusa o CDP de omitir socorro a detentos. Cinco presos teriam morrido porque os doentes não foram levados para atendimento externo, como recomendado pela enfermaria do centro.

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Quando Junior substituía Vinícius na direção do CDP, um preso morreu "sem ser levado para atendimento pelo não comparecimento da escolta", segundo o processo. O preso J.C.L.S passou mal no dia 12 de junho —período em que Junior substituía Vinícius, de férias, no cargo máximo do CDP. Atendido na enfermaria também nos dias 13, 14 e 15, ele acabou morrendo no dia 16.

As mortes relatadas também são alvo de apuração, em andamento nesta Pasta, com acompanhamento da Corregedoria. O homem perdeu o cargo de supervisor e foi transferido para outra unidade.
SAP, em nota

O processo também denuncia um suposto comércio de remédios. O relato diz que um funcionário da enfermaria distribui drogas controladas aos presos duas vezes ao dia. Os medicamentos, no entanto, seriam deixados em guichês em vez de entregues diretamente ao paciente. Em razão disso, presos mais influentes reteriam a medicação para revenda.

"Todas as vezes que fazemos revista encontramos farta quantidade de remédio em uma cela. Esses medicamentos são recolhidos e devolvidos à enfermaria", diz um funcionário na ação.

Tem presos com dívidas de remédios que o Estado dá de graça.
Trecho do processo

Após receber o processo, em 16 de janeiro, o juiz Helio Narvaez deu cinco dias para o CDP e a SAP prestarem informações. No dia 23, a SAP encaminhou resposta em nome do diretor do centro de detenção. Sobre os óbitos de presos, Vinícius Hilário Costa Lopes afirma que foram registrados boletins de ocorrências e instauradas "apurações preliminares". Outra apuração interna também teria como alvo as irregularidades na distribuição de medicamentos.

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Entrada do CDP de Mauá
Entrada do CDP de Mauá Imagem: Defensoria Pública do Estado de São Paulo

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