Após críticas, Vai-Vai nega provocação ou ataque individualizado em desfile
A escola de samba Vai-Vai divulgou uma nota nesta sexta-feira (16) após receber críticas pelo desfile realizado neste ano. Em uma das alas da escola, havia pessoas fantasiadas de policiais do batalhão de choque da polícia paulista como demônios (leia mais abaixo).
O que aconteceu
Escola diz que samba enredo foi um "manifesto". Na nota, a Vai-Vai, que terminou a disputa em 8º lugar, explicou que o trabalho foi uma "crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop". A escola esclareceu que o desfile homenageou artistas excluídos e que "nunca tiveram seu talento e notadamente reconhecido".
Recortes históricos foram realizados ao longo do desfile, afirma a escola. Entre os recortes, estava o lançamento do álbum "Sobrevivendo ao Inferno" (1997), dos Racionais MC's, que retrata a violência policial: "Racismo, miséria e desigualdade social — temas cutucados nos discos anteriores — foram expostos como uma grande ferida aberta, vide 'Diário de um Detento', inspirada na grande chacina do Carandiru".
Vai-Vai cita mortalidade da população negra e periférica. A escola declarou que, no recorte histórico da década de 90, a segurança pública no estado de São Paulo era uma "questão importante e latente", em especial com a alta mortalidade da população negra e das periferias. "Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundos, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época", destacou a agremiação.
Escola acrescenta que apenas inseriu álbum e acontecimentos históricos, no contexto em que eles ocorreram, no enredo do desfile. "Existimos. Resistimos. E seguimos fazendo Carnaval", concluiu a nota.
Ou seja, a ala retratada no desfile de sábado, à luz da liberdade e ludicidade que o carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MC's, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação.
Vai-Vai, em nota
NOTA DE ESCLARECIMENTO GRCSES VAI-VAI
-- Vai-Vai Oficial (@VaiVaiOficial) February 16, 2024
Em resposta às manifestações de repúdio contra o desfile 2024
Em 2024, a escola de samba Vai-Vai levou para a avenida o enredo Capitulo 4, Versículo 3 - Da rua e do povo, o Hip Hop - Um manifesto paulistano.
Críticas
Prefeito de São Paulo disse que o município irá apurar ofício enviado por dois deputados bolsonaristas. No documento, os parlamentares pedem punição à escola.
Ricardo Nunes (MDB) afirmou que "toda representação de parlamentar é analisada" e que os "órgãos competentes" da prefeitura irão investigar o assunto. Os deputados Capitão Augusto (PL) e Dani Alonso (PL) enviaram um ofício pedindo para que as administrações municipal e estadual paulista não repassem nenhuma verba pública para a agremiação no ano que vem.
Os parlamentares criticaram uma das alas do desfile deste ano da escola.
"Vamos falar com a Liga, escutar o contraditório. Enfim, tratar com seriedade e cautela", afirmou o prefeito. Já o governo do estado disse ao UOL que não faz repasses às escolas de samba de São Paulo. A Liga Independente das Escolas de Samba também foi procurada, mas ainda não retornou.
Além dos deputados, o sindicato dos delegados de São Paulo divulgou nota de repúdio contra o desfile da Vai-Vai. Segundo o grupo, a ala "tratou com escárnio a figura de agentes da lei".
Como foi o desfile da Vai-Vai
Com o enredo "Capítulo 4. Versículo 3 - Da Rua e do Povo, o Hip-Hop: Um Manifesto Paulistano", a escola fez um manifesto contra o preconceito. A ala criticada pelos deputados recebeu o nome "Sobrevivendo ao Inferno", em referência ao álbum do grupo de rap Racionais MC's.
Na avenida, Mano Brown marcou presença, além dos rappers Dexter e Rappin Hood. Uma das alegorias também teve a presença da cantora Glória Groove, do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e do deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL).
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Quero receberA escola exaltou ainda os 40 anos da cultura hip-hop no Brasil. Em uma das alas, apresentou reproduções pichadas de uma estátua do bandeirante Borba Gato. A agremiação voltou ao Grupo Especial este ano.
*Com informações da Agência Estado
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