Governo contratou empresa laranja em obra de prisão de Mossoró, diz jornal
O governo federal contratou uma empresa que estaria em nome de um "laranja" para uma obra de manutenção na penitenciária federal de Mossoró (RN), de onde dois homens fugiram na semana passada. A informação é do jornal O Estado de São Paulo.
O que aconteceu
Oficialmente, a empresa tem como dono um homem que mora na periferia de Brasília. Ele também foi beneficiário do auxílio emergencial, tendo recebido 12 parcelas de pagamentos. A companhia contratada, chamada R7 Facilities, tem um faturamento anual de R$ 195 milhões e foi contratada por R$ 1,7 milhão.
Contrato foi assinado durante o governo Bolsonaro e renovado pela gestão Lula. A contratação foi feita em abril de 2022 pelo Ministério da Justiça, quando Anderson Torres comandava a pasta, e prorrogada um ano depois, já sob a administração de Flávio Dino.
Torres e Dino não atuaram diretamente nas negociações com empresa de "laranja". Segundo o Estadão, os trâmites foram realizados por funcionários do Ministério da Justiça que fazem parte dos departamentos relacionados à administração de presídios federais.
O Ministério da Justiça disse que vai pedir "apuração rigorosa" sobre o caso. Em nota enviada ao jornal, a pasta disse que a empresa cumpriu todos os requisitos técnicos de contratações, mas que acionou órgãos competentes para investigar a "lisura da empresa citada".
Empresa afirmou ser "imprudente" chamar o dono de "laranja". A companhia falou em "preconceito", mas não deu detalhes sobre que tipo de obra foi contratada para fazer no presídio de Mossoró.
Homem apontado como dono da R7 disse ter CEO, diretores e outros empreendimentos. A reportagem do Estadão diz que conseguiu falar por telefone com Gildenilson Braz Torres, de 47 anos, mas ele se recusou a passar mais informações sobre os negócios da empresa contratada pelo governo e encerrou a ligação.
"Laranja" afirmou que precisava falar com seu advogado. "Cara, tipo assim, 'tá' rolando uns negócio aí do contrato que a gente tem terceirizado de Mossoró. É sobre isso? Tipo assim, tenho de conversar com meu advogado. Não posso falar nada sem conversar com ele. Qualquer coisinha, pego seu número e entro em contato", disse. Ele também não foi encontrado na casa dele.
Contrato de 2022 foi assinado por outro 'dono'
Antes de estar no nome de Gildenilson, a R7 tinha outro homem como "dono". No papel, o bombeiro civil Wesley Fernandes Camilo era o proprietário da empresa desde janeiro de 2021 e foi ele quem assinou o contrato de 2022. Ele trabalha como brigadista em um hospital particular em Brasília, disse ter renda mensal de R$ 4 mil e deixou de ser "dono" da R7 antes da renovação do contrato.
Wesley Camilo mora em uma casa em Ceilândia, no Distrito Federal. Na casa dele, o Estadão diz ter encontrado um carro Volkswagen Nivus registrado no nome da R7. O veículo é avaliado em R$ 111 mil.
O bombeiro civil disse que comprou empresa sem tirar nada do próprio bolso. Ele negou ser "laranja" e afirmou que a companhia foi repassada a ele por um homem que ele identificou como Ricardo. Segundo Wesley Camilo, ele assumiu a R7 com créditos não recebidos, os quais ele estaria trabalhando para recuperar.
O fundador de R7 se chama Ricardo Caiafa, um empresário de Brasília. Ao Estadão, ele disse que decidiu vender a empresa porque enfrentava dificuldades no mercado e quis sair do ramo. Na versão dele, a venda foi feita por meio de um advogado que intermediou a negociação com Wesley Camilo. Ricardo, que mora em uma casa na região nobre do Lago Sul, alega não ter mais ligação com a R7.
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