PM que atirou e cegou homem em protesto é punido com 30 dias de prisão
Após quase três anos, o policial militar Reinaldo Belmiro Lins, que atirou e cegou um trabalhador, durante um protesto no Recife, foi punido pela SDS (Secretaria de Defesa Social) de Pernambuco.
O que aconteceu
O 3º sargento do Batalhão de Choque foi punido com 30 dias de prisão e 42 dias de detenção. A com o resultado das investigações foi publicada nesta sexta-feira (23), em um boletim da SDS. Jonas Correia de França foi atingido por um tiro e ficou cego de um dos olhos durante um protesto contra o governo de Jair Bolsonaro, no Recife, em 29 de maio de 2021.
Reinaldo Belmiro Lins foi apontado como autor do tiro de borracha. O caso ocorreu nas imediações da Ponte Princesa Isabel, região central do Recife.
A investigação apontou que o sargento desferiu o disparo sem que houvesse necessidade. Além disso, "deixou de cumprir obrigação a ele imposta ao não ter observado o tipo de munição que havia se armado".
O texto da SDS diz ainda que ele não observou a distância adequada para utilização do armamento. O texto, assinado secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, pontua que o colegiado mostrou que não constam nos autos provas de que o imputado tenha efetuado o disparo com a intenção de atingir o olho da vítima.
O policial militar foi punido com prisão por não se enquadrar a conduta indicada, devendo serem consideradas as circunstâncias agravantes, bem como as atenuantes. Carvalho determinou ainda outras duas punições, cada uma com 21 dias de detenção para o militar.
O UOL não localizou a defesa do policial militar. O espaço segue aberto para manifestação.
Relembre o caso
Jonas Correia foi atingido no rosto enquanto passava pelo local do protesto. Ele não participava do ato. Viu a aglomeração e fez uma chamada de vídeo para a esposa. "Olha, terminei o trabalho aqui, mas vou demorar, tá tendo um protesto", disse, filmando-se próximo aos protestantes e a linha cerrada de policiais.
A barreira do Batalhão de Choque notou a câmera e sua presença. Os policiais apontaram as armas para Jonas, que caminhava guiando a bicicleta ao lado. "Ainda falei para eles que era trabalhador, tinha ido descarregar um contêiner ali perto, tava voltando pra casa." O pedido não segurou o disparo: um policial deu dois passos para o lado e um tiro de bala de borracha acertou o olho direito de Jonas.
"Meu marido pediu para passar porque estava vindo para casa. Ele levantou as mãos e avisou que não estava participando do protesto. Que só queria passar. E eles miraram na cabeça dele de propósito", contou a Daniela Barreto, esposa da vítima, ao UOL.
Jonas, de acordo com a esposa, havia largado do trabalho, mas esperou a multidão passar para poder seguir para sua residência. "Ele só estava por lá porque pedi para ele comprar carne. Na ponte, nem tinha mais manifestantes, mas a polícia estava mandando o povo voltar. Ele disse: 'Pessoal, preciso passar por aqui porque estou indo para minha casa, aí em Santo Amaro'. Não deram nem ouvido e atiraram para matar".
Na época, o protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Recife acabou após repressão policial contra manifestantes. Em vídeos enviados ao UOL, é possível ver os participantes fugindo em meio à fumaça de bombas de efeito moral e ouvir os disparos do que, segundo manifestantes, seriam balas de borracha.
Além de Jonas Correia, o adesivador Daniel Campelo da Silva também foi atingido no olho esquerdo. Ele também não participava do protesto. O trabalhador perdeu o globo ocular esquerdo devido à lesão. Em 2022, o PM foi identificado e indiciado por lesão corporal gravíssima e omissão de socorro. O nome dele não foi divulgado.
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