'PM veio para matar': moradores detalham ação com 4 mortos no litoral de SP

O UOL esteve na região de mangue no Jardim Rio Branco, em São Vicente (SP), onde quatro pessoas foram mortas em ação da PM ontem à noite. De acordo com relatos de moradores, não houve confronto — como afirma a polícia. Com 38 mortes, a ação policial é a mais letal de São Paulo desde o massacre do Carandiru.

O que aconteceu

Ambiente de medo. O UOL percorreu na tarde desta quarta-feira (28) o local onde ocorreram as mortes e encontrou um cenário de medo, relatado pelos próprios moradores, que não quiseram se identificar com receio de que possam ser perseguidos depois pela própria polícia. A reportagem encontrou um rastro de sangue pelo chão e cápsulas de fuzil.

PM chegou ontem em comboio para cercar ponto de venda de drogas. Uma moradora disse ter presenciado quando os PMs chegaram em um comboio de cerca de cinco viaturas na rua Dezenove. Uma das entradas da via dá acesso a uma área de mata, onde há um ponto de venda de drogas em meio à vegetação. Apesar da presença do tráfico, ela contesta a versão da PM e nega que tenha ocorrido confronto.

Eles [policiais] já chegaram atirando. Eu estava aqui e presenciei tudo. Era só tiro de fuzil. Parecia que estava desmoronando alguma casa, porque o barulho era muito alto. Os moradores ficaram em pânico. Aqui é uma região sem casos de violência. Eu nunca tinha presenciado uma cena como essa.
Moradora

"PM veio preparada para matar". Uma testemunha diz que, no momento em que os policiais chegaram, o grupo que integrava o tráfico local fugiu pelo lado oposto em uma área de mata onde fica o ponto de venda de drogas. Mas acabou sendo surpreendido por outros agentes, que já haviam mapeado o local e teriam se escondido no terreno para surpreendê-los.

Os jovens não estavam armados e só queriam fugir. Mas os policiais estavam escondidos no meio do mato e fizeram um cerco porque já sabiam que essa era a rota de fuga. Já estavam acompanhando o que acontecia aqui dentro. A PM veio preparada para matar.
Testemunha

PM ordenou que moradores entrassem nas casas, diz testemunha. Uma senhora diz que estava sentada em uma cadeira na frente de casa quando ouviu os primeiros tiros. "Aí, um PM falou: 'entra, entra'. Depois, não vi mais nada. Fiquei trancada em casa, com medo.

Rajadas de fuzil. Um outro morador diz que ouviu os disparos de fuzil após a chegada do comboio da PM. "Ouvi uma rajada de tiros de fuzil. Depois, veio outra rajada. Sabemos que tem tráfico aqui, mas nunca ninguém viu traficante com arma", diz.

Para explicar mortes, PM volta a alegar que foi recebida a tiros. Em nota, a corporação disse que foi recebida a tiros na região, versão que tem se repetido ao longo das ações policiais neste mês na Baixada Santista.

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