'Não reconheço nenhum excesso', diz Derrite na Alesp sobre Operação Escudo

Guilherme Derrite, secretário de segurança pública de São Paulo, afirmou nesta quarta (6) que não reconhece "nenhum excesso" por parte das forças policiais durante a Operação Escudo, realizada na Baixada Santista no ano passado.

Nenhum órgão correcional das polícias recebeu qualquer denúncia, informação ou relato oficial de abuso de autoridade das forças policiais. Caso isso aconteça, com absoluta certeza isso será investigado. A gente não pode, a partir de relato informal, instalar procedimento. Por isso, não reconheço nenhum excesso, até que isso chegue oficialmente para as forças policiais
Guilherme Derrite, secretário de segurança pública de São Paulo

O que aconteceu

Secretário afirma que nenhuma denúncia sobre abusos foi encaminhada à polícia. Reportagens do UOL mostraram que o clima nas favelas da Baixada Santista é de medo em relação a possíveis retaliações, o que justificaria a situação. Segundo Derrite, caso qualquer denúncia seja recebida, investigações serão abertas.

Perguntado sobre esforços para que mais denúncias cheguem a corregedorias, secretário menciona suas próprias declarações. "Toda vez que eu falo, eu estimulo que as pessoas façam denúncias formais, quando houver indícios de materialidade e desvio de conduta", afirmou ele.

Operação Escudo foi a mais letal da polícia paulista desde Massacre do Carandiru, em 1992, que terminou com 111 mortos. Ao todo, 28 pessoas morreram em consequência da ação iniciada no último dia 28 de julho, após a morte do soldado Patrick Bastos Reis, no Guarujá, no dia anterior.

Depois do fim da Operação Escudo em setembro, outras 30 pessoas foram mortas pela polícia na Baixada Santista.

"Não concordo com absolutamente nada que a senhora colocou", diz Derrite a deputada da oposição. A resposta foi dada a Mônica Seixas (Psol) que havia questionado sobre os relatos de abusos policiais. O secretário reiterou que nenhuma denúncia chegou a órgãos correcionais da polícia. "'Toda morte deve ser lamentada' é a única coisa que eu concordo do que você falou", afirmou ele, que lembrou que o estado teve a maior queda de homicídios da história em 2023.

Intenção de Derrite é tornar Operação Verão permanente. Segundo ele, a ideia é que o policiamento na Baixada Santista seja reforçado sempre que houver feriado prolongado ou fim de semana com expectativa de maior movimento. Nesse verão, mais de 3.000 homens foram empregados na ação e houve queda de roubos a partir de dezembro.

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Derrite volta a criticar uso de câmeras corporais. Segundo o secretário, o estudo que aponta redução nas mortes cometidas por policiais com o uso dos equipamentos foi feito durante a pandemia, o que pode distorcer resultados. Ele disse ainda que as câmeras reduziram o número de prisões, abordagens e outros indicadores de atividade policial.

Nós mantivemos o programa. Se o governador tivesse interrompido o serviço, aí sim eu acho que caberia algum tipo de questionamento
Guilherme Derrite, secretário de segurança de São Paulo

Investimento em câmeras para PMs caiu. No fim de 2023, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) cortou R$ 15 milhões do orçamento de R$ 152 milhões destinado a aquisição de novos aparelhos. Em entrevistas, o governador já questionou a efetividade das câmeras, que são defendidas por especialistas.

Tornozeleiras eletrônicas são mais efetivas e mais baratas, defende secretário. Segundo Derrite, o estado instalou 1.000 equipamentos em réus condenados em 2023 e, pela 1ª vez, fez o monitoramento dos usuários na Baixada Santista. "A tornozeleira eletrônica é uma ferramenta de proteção à sociedade", disse ele.

Secretário anunciou prisão de ladrão de celulares no centro de São Paulo. O homem detido hoje tinha 100 aparelhos em sua posse e R$ 10 milhões em sua conta bancária. "Ele é considerado o maior exportador de celulares roubados do país, boa parte pelo aeroporto de Guarulhos. Alcançamos o topo da cadeia ilícita", disse Derrite.

Declarações foram dadas por Derrite na Alesp. Nesta quarta (6), o secretário prestou contas de seu trabalho em reunião da Comissão de Segurança Pública e Assuntos Penintenciários da casa.

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Com Derrite, recorde de feminicídios

Em 2023, estado de São Paulo teve maior número de ocorrências do tipo desde 2018. Foram 221 mortes de mulheres diretamente ligada à violência doméstica, menosprezo ou discriminação voltadas ao sexo feminino.

A alta preocupa especialistas. Em 2022, foram 195 casos registrados. Em 2021, 140.

As mortes causadas por PMs também cresceram. Dados da secretaria indicam que foram 353 em 2023 — contra 256 no ano retrasado, um aumento de 22%

Super-troca de coronéis em janeiro também chamou a atenção. De uma vez, 34 dos 63 militares foram movimentados por Derrite. À época, o secretário disse que "reconhece e valoriza o trabalho dos policiais paulistas" e negou que as mudanças tivessem a finalidade de enfraquecer o comando da PM.

Para Derrite, troca foi técnica e não política. Ele afirmou que sugeriu as mudanças a Tarcísio, que as aceitou e tinha o direito de fazê-las como governador.

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Derrite agradece assembleia por aprovação de reajuste a policiais. De acordo com o secretário, a medida foi decisiva para "aumentar a atratividade da carreira policial" em São Paulo. Segundo ele, o estado apresentava um déficit de 33% na Polícia Civil e 25% na PM no começo do ano passado.

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