Idoso morto em banco foi sozinho pedir empréstimo há 1 mês, diz advogada

Paulo Roberto Braga, 68, cuja morte foi constatada em uma agência bancária na terça-feira (16) em Bangu, zona oeste do Rio, teria ido sozinho ao mesmo local para solicitar o empréstimo um mês antes. O episódio foi relatado pela defesa de Erika de Souza Vieira Nunes, presa após pedir para o idoso assinar um documento para sacar o dinheiro quando ele já estava sem vida em uma cadeira de rodas.

O que aconteceu

Pedido de empréstimo foi feito no dia 25 de março, diz defesa de Erika. Duas semanas depois, o idoso foi internado. E só teve alta na última segunda-feira (15), um dia antes de morrer. "Ele estava com pneumonia e voltou debilitado, mas pediu para a Erika levá-lo ao banco para sacar o dinheiro", disse a advogada Ana Carla de Souza, em entrevista ao UOL.

Paulo era "ativo" antes da internação, dizem advogada e testemunha. "Antes, ele não estava debilitado", disse a defensora. O relato coincide com o depoimento à Polícia Civil do mototaxista que disse ter ajudado Erika a levá-lo da cama até o banco traseiro de um veículo por aplicativo para ser levado à agência bancária. "Paulo sempre foi muito ativo". Ele conhecia o idoso porque o ponto de transporte alternativo onde trabalhava ficava na mesma rua onde o idoso morava.

O Paulo sempre foi uma pessoa muito ativa. Quando solicitou empréstimo há um mês, ele foi com as próprias pernas, sozinho, andando ao banco. Depois, quando voltou do hospital, a situação era outra. Ele estava debilitado, mas insistiu para ir ao banco [na terça-feira]. Só que, dessa vez, não tinha como ir sozinho. Por isso, pediu para a Erika.
Ana Carla de Souza, advogada

Inicialmente, empréstimo de R$ 17 mil seria usado para reforma e compra de uma TV. Mas o idoso mudou de ideia depois da internação, de acordo com a advogada Ana Carla de Souza. "Depois, ele queria usar o dinheiro para arcar com os gastos com a saúde dele, porque a família tem poucos recursos".

Ele recebeu alta hospitalar porque tinha condições de ir para casa, não precisava ficar em tratamento intensivo. Ainda que tivesse dificuldades para falar, insistiu e pediu para a Erika: 'Me leva ao banco para que eu possa sacar o valor do empréstimo'. Ele queria usar o dinheiro para cuidar da saúde.
Ana Carla de Souza

O que se sabe sobre o caso

Erika foi presa por tentativa de furto mediante fraude e vilipêndio a cadáver. A Justiça converteu prisão em flagrante em preventiva em audiência de custódia na última quinta-feira (18). "Em momento algum, a custodiada se preocupa com o estado de saúde de quem afirmava ser cuidadora", disse a juíza Rachel Assad da Cunha.

Defesa pede revogação da prisão. "Ela [Erika] atende os requisitos legais para responder o processo em liberdade. Não há chance de possível cometimento de crime caso ela seja solta", disse a defensora.

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Investigação vai verificar se idoso morreu por ter sido submetido a esforço físico quando deveria estar repousando, segundo a Justiça. "Conforme informações, o idoso havia recebido alta de internação por pneumonia na véspera, com descrição de 'estado caquético' no laudo de necropsia".

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