Conteúdo publicado há 18 dias

Ex-coach de Djidja diz que ela aplicou cetamina nele sem consentimento

O ex-educador físico da família de Djidja Cardoso afirmou que a ex-sinhazinha do Boi Garantido aplicou cetamina nele sem consentimento.

O que aconteceu

Hatus Silveira contou que esteve na casa da família Cardoso em janeiro. Ele era coach de emagrecimento de Djidja desde 2020, e afirmou à imprensa que eles queriam voltar a treinar para recuperar o condicionamento físico.

Na casa, ele diz que presenciou uma sessão do grupo religioso e que a mãe de Djidja, Cleusimar, ofereceu cetamina a ele. "Até então, eu não sabia que estavam usando key [nome também usado para falar da droga cetamina - ou ketamina]. Fui entregar o protocolo e o povo já estava em transe, assistindo Cartas de Cristo, e queriam até me aplicar isso. Fiquei perplexo e disse que não".

Após recusar, ele relata que foi até a cozinha conversar com Ademar, irmão de Djidja. Foi quando ela teria se aproximado dele por trás e aplicado cetamina no braço dele com uma seringa. Depois, a família quis que ele assistisse aos vídeos de Cartas de Cristo com o restante do grupo.

Hatus conta que sentiu tonturas após a aplicação, mas que não perdeu os sentidos. Segundo o advogado dele, Mozarth Bessa, a droga não o derrubou por conta do peso. "Ele tem mais de 100 kg. Esse tipo de dosagem é conforme o peso".

A família insistiu para treinar com o coach naquele dia. "Ao terminarem a loucura deles, eles queriam treinar. Porém, ao ver o quanto estavam drogados e que não conseguiam nem agachar com o próprio corpo, eu me afastei", relata Silveira.

Hatus diz a mãe de Djidja continuou tentando o convencer a usar cetamina para se purificar e "sair da Matrix". Ele diz que a família o colocou em um grupo de WhatsApp, mas que ele não se manifestava.

Hatus esteve ontem na delegacia para falar à polícia sobre sua relação com a família Cardoso. O depoimento durou duas horas.

Relembre o caso

Djidja foi encontrada morta dentro de casa em Manaus no dia 28 de maio. A principal suspeita é de que ela sofreu uma overdose de cetamina.

Continua após a publicidade

Família Cardoso já era investigada por liderar um grupo religioso que forçava seguidores a usar cetamina para "transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação". A polícia detalha que Ademar assumia a figura de Jesus, Cleusimar seria Maria e Djidja, Maria Madalena.

Grupo religioso se chamava "Pai, Mãe, Vida". Segundo a polícia, eram realizados rituais com o uso indiscriminado de cetamina, que tem efeitos alucinógenos. As investigações apontam que algumas vítimas passaram por violência sexual e aborto.

Investigações começaram com pai de vítima na delegacia. "O pai da companheira de Ademar resgatou a filha dopada e a levou à delegacia, relatando os fatos há cerca de 40 dias", diz o delegado. Segundo a polícia, "seita" funcionava há pelo menos dois anos no bairro Cidade Nova, em Manaus.

Mãe e filho têm dependência química

A empresária Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso (da esquerda para a direita)
A empresária Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso (da esquerda para a direita) Imagem: Reprodução/Redes sociais

Estão presos Cleusimar e Ademar Cardoso, a mãe e o irmão de Djidja, e três funcionários da redes de salão de cabeleireiro. Segundo a polícia, os funcionários Verônica da Costa Seixas, Claudiele Santos da Silva e Marlisson Vasconcelos Dantas são suspeitos de induzir pessoas a se associar ao grupo.

Continua após a publicidade

Advogado Vilson Gomes Benayon Filho disse ao UOL que a mãe e o irmão de Djidja faziam uso prolongado de drogas. "Eles são dependentes químicos, não tinham condições psicomotoras de se locomover", afirmou.

Cleusimar e Ademar teriam se apresentado na delegacia como Maria e Jesus, diz advogado. "A mãe de Djidja se identificou como Maria, mãe de Jesus, e disse que o filho era Jesus, eles não tinham noção. Isso aconteceu logo depois da prisão, entrei na sala e eles falaram isso", afirma Benayon Filho. "Eles também convidaram o delegado para experimentar, tomar conhecimento da espiritualidade".

Como era o local dos rituais

Cheiro ruim no espaço dos rituais. "A casa tinha cheiro de carne em estágio de putrefação", disse o delegado. Segundo ele, os suspeitos tinham lesões na pele "tipo necrose por conta das aplicações". A polícia esteve no local no dia em que Djidja Cardoso morreu e na ocasião das prisões preventivas.

Foram encontradas seringas, doses de cetamina, frascos vazios, medicamentos, computadores e documentos. Vítimas eram mantidas "despidas e sem se banhar durante todo período", aponta investigação.

Duas vítimas identificadas até o momento. Cárcere privado e estupro de vulnerável estão entre os crimes apontados. A polícia identificou ao menos duas vítimas que teriam sido mantidas sob cárcere privado e sido estupradas sucessivas vezes por membros do grupo durante dias.

Continua após a publicidade

Deixe seu comentário

Só para assinantes