O que foi o Massacre do Carandiru, homenageado por PMs em SP

Um vídeo publicado em rede social mostra um grupo de policiais militares comemorando o massacre do Carandiru e enaltecendo o coronel Ubiratan Guimarães, responsável pela operação que deixou 111 presos mortos.

O que foi o massacre do Carandiru

Em 1992, o Carandiru foi palco da maior chacina ocorrida em uma prisão brasileira. Conhecido como "Massacre do Carandiru", o episódio provocou a morte de 111 detentos.

O massacre aconteceu após a uma briga de presos no Pavilhão 9 da antiga Casa de Detenção, que era o local onde iam os réus primários, sendo que alguns ainda aguardavam julgamento. A briga envolveu os detentos Luiz Tavares de Azevedo, vulgo "Coelho", e Antonio Luiz Nascimento, vulgo "Barba".

Por volta das 11h do dia 2 de outubro daquele ano, o então diretor da Casa de Detenção, José Ismael Pedrosa, foi avisado por funcionários do local que o conflito havia começado. Os agentes penitenciários foram acionados, mas teriam sido expulsos do 1º andar. Então, a Polícia Militar foi acionada para controlar a rebelião.

O comando da operação foi entregue ao coronel Ubiratan Guimarães. Ele determinou que a Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar) ocupasse o Pavilhão 9 e terminasse a rebelião. Ele ordenou aos seus subordinados "a reagir no mesmo nível".

Quando a PM chegou ao local, barricadas estavam erguidas para impedir o acesso dos policiais. A briga dos dois presos no segundo andar do pavimento já havia resultado em ferimentos em alguns presos, que foram levados para a enfermaria do pavilhão 4. Os agentes penitenciários fecharam o acesso ao segundo andar, mas o cadeado foi rompido pelos presos que começam um tumulto generalizado.

Colchões e arquivos foram incendiados pelos presos, e barricadas eram erguidas para impedir o acesso da PM. Juízes corregedores e a direção do presídio tentavam estabelecer, sem sucesso, uma negociação.

Ação durou 30 minutos. Os PMs envolvidos afirmaram que, ao entrar na prisão, já viram detentos mortos no chão. As vítimas sobreviventes, no entanto, sempre negaram a versão apresentada em juízo pelos policiais. A versão dos detentos é de que os PMs entraram no pavilhão atirando. Alguns chegaram a relatar que tiveram de se fingir de mortos, em meio aos corpos, para não serem baleados.

O rio de sangue que se tornou uma das marcas do massacre formou-se porque os tiros dos policiais acertaram os encanamentos. A água que desceu pelas galerias misturou-se ao sangue das vítimas.

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Caso sem desfecho na Justiça

O Carandiru tinha, à época, 7.257 prisioneiros, mais do que o dobro da capacidade comportada. E 2.706 deles estavam recolhidos no Pavilhão 9, onde ocorreu a revolta.

Ação dos policiais é considerada um dos mais violentos casos de repressão à rebelião em casas de detenção, segundo a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos).

Os policiais envolvidos no massacre foram condenados com penas que variam de 48 a 624 anos de prisão. Dos 74 policiais, cinco morreram durante o processo e 69 continuam vivos. Nenhum deles foi preso e respondem pelo crime em liberdade.

Apenas uma pessoa foi condenada e, mais tarde, absolvida. O único acusado pelos resultados da tragédia foi Ubiratan Guimarães, coronel da Polícia Militar à época. Ele foi condenado em 2001 a 632 anos de prisão, mas teve a sentença anulada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo em fevereiro de 2006. O militar foi assassinado em setembro do mesmo ano, em crime do qual a acusada era sua então namorada.

O Carandiru foi desativado em 2002, quando dois pavilhões do complexo foram implodidos. Em 2005, mais três pavilhões foram demolidos. No local, foi construído o Parque da Juventude.

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O Museu Penitenciário Paulista, que fica no antigo Carandiru, foi aberto para visitação pela primeira vez em 2014. No espaço, além de três réplicas de celas de castigo extintas, os visitantes podem encontrar outros elementos que reproduzem a vida dentro da prisão.

*Com reportagens publicadas em 01/10/2012 e 02/10/2017

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