Estátua de Lúcifer foi barrada: qual a polêmica por trás de santuário no RS
Uma estátua de 5 metros dedicada a Lúcifer entrou no centro de uma polêmica no Rio Grande do Sul. A Justiça do estado suspendeu a inauguração do santuário, prevista para esta terça-feira (13) em Gravataí, após um pedido da prefeitura. Os responsáveis pelo santuário defendem o projeto e argumentam que Lúcifer representa a luz.
Quem pretendia construir a estátua?
O projeto de construção do santuário é da Nova Ordem de Lúcifer na Terra. A sede da ordem religiosa não fica em área urbana, mas em um sítio com cinco hectares. O grupo, com cerca de 100 membros, realiza rituais no local, ao ar livre. Sua localização, por motivos de segurança, é mantida em sigilo.
A Nova Ordem de Lúcifer na Terra surgiu há cerca de dois anos, dentro da Corrente 72. A Corrente 72 se denomina como um grupo de quimbanda independente que acredita na evolução pessoal e espiritual por meio do trabalho com entidades como Exus e demônios. A ordem foi criada para estudar os demônios e questionar o que chamam de uma visão imposta pelo cristianismo.
Quem são os líderes da Ordem?
Os fundadores da Nova Ordem de Lúcifer na Terra são Mestre Lukas de Bará da Rua e Tata Hélio De Astaroth. Mestre Lukas de Bará da Rua é como Lucas Martins é conhecido dentro da Ordem. Ele explica que, dentro de sua tradição religiosa, é comum que os líderes adotem nomes simbólicos que refletem a entidade espiritual com a qual trabalham. No caso dele, "Mestre" é o título, "Lukas" é seu nome pessoal, e "Bará da Rua" é a entidade espiritual associada. Em Gravataí, Lucas também gerencia uma produtora de eventos e duas casas noturnas.
Já Tata Hélio de Astaroth é o nome religioso de Hélio Brum, 23. Ele diz ter formação em quimbanda Independente, satanismo tradicional e demonolatria. Também diz atuar como psicanalista, empresário e cursar teologia. Em seu nome religioso, "Tata" indica seu grau na quimbanda, enquanto "Astaroth" é o demônio com quem ele tem um pacto. Ele mantém "Hélio" como referência ao seu nome de nascimento.
A gente leva uma vida normal. Eu tenho os meus clubes, tenho a minha família, viajo, vou à praia, vou a shopping. Mas dentro disso tudo, a gente tem tempo também para dar atenção para os nossos adeptos, para os nossos filhos de religião.
Lucas Martins
Por que causou polêmica?
O projeto foi alvo de críticas nas redes sociais. Enquanto alguns elogiavam a iniciativa por promover a diversidade religiosa, outros a condenavam, associando-a ao culto ao demônio. Também surgiram boatos inverídicos de que o santuário estaria sendo financiado com dinheiro público. Os idealizadores e a prefeitura afirmam que o santuário foi financiado exclusivamente pela Ordem.
Tudo o que está colocado ali é dinheiro próprio, é uma propriedade privada que a nossa ordem adquiriu justamente para o nosso culto. A prefeitura de Gravataí não ajudou com nenhum centavo. Então quem está dizendo que teve dinheiro público, eu gostaria que dissesse e provasse. Vai chegar uma hora que a gente vai começar a se defender e o judiciário nos favorece nisso.
Mestre Lukas De Bará da Rua
Tata Hélio diz que os fundadores da Nova Ordem receberam ameaças. E que o projeto de estátua não agradou nem aos luciferianos, seguidores de uma filosofia centrada na figura de Lúcifer.
Os luciferianos nos apontaram dizendo que a gente está roubando o deus deles, como se esses espíritos tivessem dono. Na verdade, a gente tinha que comemorar juntos. A gente está aqui para abraçar as pessoas que acreditam em Lúcifer. Não para separar. Quanto às pessoas que disseram que iam lá quebrar tudo, eu sou sincero. A gente não tem medo de vocês.
Tata Hélio De Astaroth
À Justiça, o município de Gravataí argumentou que o santuário não tem licenças obrigatórias para funcionar e nem CNPJ. A decisão ressalta o direito à liberdade religiosa, mas diz que templos devem cumprir exigências para o funcionamento.
A Justiça também acatou o argumento da prefeitura de risco à segurança, em meio à repercussão do santuário. "Haja vista a notoriedade das notícias veiculadas em todo o país, o que pode atrair grande público, sem que se tenha notícia das condições de segurança do local, bem como a localização em local ermo, o que dificultaria qualquer tipo de assistência por parte do poder público, presente o perigo da demora, que poderia gerar situações catastróficas incontornáveis."
O que a imagem representa?
A imagem no centro da polêmica representa "a dualidade entre carne e espírito", segundo os fundadores da ordem. Para eles, Lúcifer foi injustamente escanteado pela Igreja Católica, e o santuário pretendia divulgar a imagem da entidade como "portadora da luz e do autoconhecimento".
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Quero receberEm postagens nas redes, os fundadores explicam que Lúcifer representa "a luz e o equilíbrio das energias universais". E que a ordem visa a trazer evolução espiritual e difundir práticas espirituais "que desafiam as convenções religiosas tradicionais".
A prática espiritual da Ordem é centrada na evolução pessoal e no alinhamento energético, dizem os fundadores. Hélio afirma que o culto se baseia em princípios de honra, lealdade e respeito, e que os membros se abstêm de vícios. "A ordem rejeita o ódio gratuito e a intolerância, e adota um código de honra que é fundamental para a fraternidade espiritual e filosófica que seguimos."
Quem é Lúcifer?
Na tradição romana, Lúcifer (ou "Luciferus") era associado à estrela da manhã, Vênus. Ele era visto como um deus da luz que anunciava o amanhecer. Como na tradição grega, Lúcifer não tinha nenhuma ligação com figuras malignas ou com o conceito de anjos caídos; ele era simplesmente um símbolo de luz e claridade.
Segundo a tradição cristã, Lúcifer é frequentemente identificado como um anjo caído que se rebelou contra Deus. O nome "Lúcifer" tem origem no latim e significa "portador da luz". Originalmente, segundo a Bíblia, Lúcifer era considerado um anjo de alta hierarquia, dotado de grande beleza e poder.
Em Isaías, Lúcifer é descrito como um ser que tentou ascender ao nível de Deus, mas foi expulso do céu e lançado à Terra após iniciar uma rebelião. Essa queda é simbolizada como a perda de sua posição elevada e sua transformação de "portador da luz" em um símbolo de trevas e maldade.
Para Anton LaVey, fundador da Igreja de Satanás e autor da Bíblia Satânica, Lúcifer seria um dos quatro príncipes herdeiros do inferno, particularmente o do Oriente. Ele é chamado pelos satanistas de "senhor do ar", "portador da luz", "estrela da manhã", e simboliza o intelectualismo e a iluminação.
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